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Laqueadura tubária: quando fazer?

Por Dra. Cristiane Pacheco

A laqueadura tubária, também chamada de ligadura das tubas uterinas, é um procedimento de esterilização cirúrgica para mulheres. Esterilização é um termo técnico que utilizamos para nos referirmos a procedimentos potencialmente irreversíveis de contracepção.

As tubas uterinas são órgãos de aproximadamente 10 centímetros que se iniciam no fundo do útero, sendo contínuos a esse órgão. Ao final das tubas uterinas, estão os ovários, onde estão armazenadas as células sexuais femininas, conhecidas popularmente como óvulos.

Para entender a laqueadura, precisamos revisar alguns conceitos de anatomia feminina e de reprodução humana. Nas relações íntimas desprotegidas, os espermatozoides (células sexuais masculinas) são liberados na vagina. Para fertilizar os óvulos (células sexuais femininas), eles precisam passar através do colo do útero para alcançar a cavidade uterina.

Contudo, durante a ovulação, os ovários femininos liberam um óvulo nas tubas uterinas. Então, os espermatozoides precisam percorrer toda a cavidade uterina e passar pelo óstio uterino da tuba, um orifício de 1 milímetro que conecta as tubas ao útero. Depois disso, os espermatozoides precisam encontrar o óvulo em uma das porções intermediárias da tuba uterina, a ampola.

Na laqueadura tubária, realizamos a interrupção do canal das tubas uterinas para que o espermatozoide não consiga fertilizar o óvulo da mulher. Quer saber quando esse procedimento pode ser realizado? Acompanhe nosso post até o final!

Quando fazer a laqueadura tubária?

Por ser um procedimento que compromete permanentemente a capacidade de engravidar naturalmente, existe uma lei que regula a realização da laqueadura tubária. Portanto, ela não pode ser feita por qualquer mulher, havendo algumas regras para sua indicação.

Pela Lei nº 14.443/2022, as regras atuais são:

  • Idade mínima de 21 anos no caso de mulheres com menos de dois filhos. Mulheres com mais de 2 filhos podem realizar o procedimento em qualquer idade;
  • Capacidade civil, isto é, a pessoa deve ter condições mentais e psicológicas para tomar decisões por conta própria;
  • Prazo de 60 dias entre a manifestação de vontade e a realização do procedimento. Para realizar qualquer cirurgia, é preciso assinar um documento em que você declara que entendeu os riscos e os benefícios do procedimento e deseja continuar. Para a laqueadura, essa assinatura deve acontecer 60 dias antes do procedimento. Nesse período, você deve também receber aconselhamento sobre outros métodos contraceptivos. 

O objetivo dessas etapas é garantir que a mulher tome uma decisão bem pensada, visto que é um procedimento potencialmente irreversível e com uma taxa elevada de arrependimento. Nesse sentido, as equipes multidisciplinares de aconselhamento familiar vão tentar mostrar que há métodos contraceptivos reversíveis de diferentes durações para alcançar o mesmo objetivo de prevenir gestações.

Além disso, é importante ressaltar que algumas regras antigas não valem mais, como:

  • Necessidade de consentimento do cônjuge. Antigamente, a mulher precisava da assinatura do cônjuge para mostrar que ele estava ciente e concordava com o procedimento. Essa regra não vale mais atualmente;
  • Proibição da laqueadura no momento do parto. Atualmente, a laqueadura tubária pode ser realizada durante o parto desde que a mulher tenha cumprido os 60 dias entre a manifestação de vontade e a realização do procedimento.

Indicações da laqueadura tubária

A laqueadura tubária é mais fortemente recomendada para mulheres em que a gravidez oferece riscos importantes à saúde dela ou de um eventual bebê. Para isso, é preciso que seja apresentado um laudo justificando a necessidade do procedimento, o qual deve ser assinado por dois médicos. Isso pode acontecer em casos de mulheres com transtornos genéticos hereditários graves, com história de gestações tubárias ou que realizaram múltiplas cesarianas.

Por que optar por outros métodos contraceptivos?

Para a maioria das mulheres, recomendamos que a mulher opte por métodos contraceptivos reversíveis. Afinal, alguns estudos apontam que a porcentagem de mulheres que se arrependem do procedimento pode chegar a aproximadamente 15%. Em mulheres que fazem a cirurgia antes dos 30 anos, a taxa de arrependimento foi de 20,3%. Ou seja, 1 em cada 5 mulheres com ligadura antes dos 30 anos deseja não ter feito o procedimento.

A maioria das mulheres considera realizar a laqueadura tubária, pois desejam um método com baixa taxa de falha e que não precise ser reaplicado com frequência. Elas querem evitar o inconveniente de se esquecer de tomar a pílula corretamente e acabar tendo uma gestação indesejada. Entretanto, atualmente, existem métodos contraceptivos de maior duração, como:

  • Os dispositivos intrauterinos (DIU). São hastes colocadas dentro do útero que liberam substâncias que dificultam a fertilização e o início da gestação. Apresentam taxas de falha menores do que 1% e duram entre 5 e 10 anos;
  • Implante hormonal contraceptivo. É uma pequena haste inserida sob a pele do braço, liberando doses pequenas de hormônios. Também apresentam taxas de falha menor do que 1% e duram cerca de 3 anos;
  • Injeção contraceptiva. São injeções de hormônios com baixa taxa de falha e com duração de 1 a 3 meses.

Todos esses métodos são reversíveis. Ou seja, quando a mulher retira o DIU, remove os implantes ou para de aplicar as injeções, ela pode voltar a engravidar sem nenhuma dificuldade.

Portanto, a laqueadura tubária é um método contraceptivo potencialmente permanente. É preciso se lembrar de que nossa vida é dinâmica e nossos desejos mudam constantemente. Podem ocorrer situações, tais quais novos relacionamentos e perda de filhos, que despertam novamente o desejo de ter filhos. Como existem métodos eficazes e duradouros de contracepção, eles são mais aconselháveis para evitar arrependimentos.

Quer saber mais sobre os diferentes métodos de contracepção? Toque aqui!

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