Parto natural e dor: saiba mais sobre a relação
O parto natural é uma tendência cada vez mais conhecida e desejada pelas gestantes. Ele busca resgatar o sentido original do nascimento ao não utilizar intervenções médicas em um processo que sempre aconteceu naturalmente. A medicalização do parto acabou trazendo riscos e complicações desnecessários para as mães e os bebês.
Apesar de indicado para a maioria das mulheres, não é recomendável em situações em que há uma indicação bem definida, com evidências científicas comprovadas, de que os benefícios são maiores do que os riscos.
Também há dúvidas sobre a relação do parto natural com a dor. Leia o texto e saiba mais sobre isso!
O que é parto natural?
O parto natural é aquele que acontece sem nenhuma intervenção médica artificial, como:
- Uso de medicações, como indutores do parto, analgésicos e anestésicos;
- Realização de procedimentos invasivos, como cortes para ampliação do canal de parto ou inserção de instrumentos para facilitar a passagem do bebê;
- Aplicação de manobras médicas que modificam a anatomia ou forçam um processo natural, entre outras possibilidades.
No entanto, isso não significa a desassistência durante o parto, ainda são permitidas ações, como:
- Monitoramento dos sinais vitais da mãe e do bebê;
- Avaliação do canal de parto;
- Uso de manobras manuais simples e adoção de posições que facilitam o trabalho de parto;
- Utilização de estratégias não farmacológicas de controle da dor, como banhos em banheiras com água morna, infusão de essenciais, presença de acompanhante escolhido pela gestante.
Diante de qualquer complicação, o parto natural poderá ser convertido em parto assistido (com intervenção médica).
Como é feito o parto natural?
O parto natural será sempre um parto normal (pela via vaginal). Nesse sentido, as fases do trabalho de ambos são as mesmas. Entretanto nem todo parto normal será natural, pois, como vimos, algumas intervenções médicas são possíveis. Veja quais são as fases do trabalho de parto natural:
- Fase latente: é a preparação do corpo para o início do trabalho. Ela começa com as contrações de treino, que ainda são irregulares, mas já são mais incômodas e coordenadas em comparação ao que a mulher já estava acostumada durante a gestação. O colo também inicia sua dilatação até 2 ou 4 centímetros, quando pode haver a perda do tampão mucoso. No parto normal, a mulher não recebe nenhum medicamento analgésico na fase latente, nem outra intervenção para desencadear precocemente a fase ativa;
- Fase ativa: aqui, inicia-se o trabalho de parto propriamente dito com 3 a 4 contrações uterinas mais intensas e regulares, a cada 10 minutos. A dilatação do colo chega a 6 centímetros ou mais, sendo o momento ideal para a internação e início do monitoramento. No parto natural, não pode haver intervenção artificial para ampliar a dilatação do colo, provocar o rompimento da bolsa, controlar a dor, entre outras possibilidades. Contudo são permitidas as medidas não-invasivas e não-farmacológicas, como a adoção de posições pela mãe;
- Fase expulsiva: quando o colo atinge 10 centímetros, ele está pronto para a passagem do bebê. As contrações são mais intensas para provocar a expulsão, que pode durar desde apenas alguns segundos até várias horas. No parto natural, não são utilizadas intervenções para ampliar o canal de parto (episiotomia) ou guiar a saída do bebê (como o fórceps);
- Fase de dequitação: após o nascimento do bebê, o corpo da mulher precisa eliminar os anexos embrionários. Por isso, algumas contrações mais fracas permanecem até que haja o completo desprendimento. No parto natural, não se utiliza intervenções artificiais para acelerar esse processo, como a curetagem, a aspiração ou indutores de contrações.
O controle da dor
A ansiedade de sentir dor é uma das principais hesitações que as mulheres apresentam quando conversamos sobre o parto natural. Afinal, uma das principais crenças populares é de que a dor do parto é uma das maiores que existe. Contudo essa crença ignora a complexidade do parto sem intervenção médica, como:
Cada mulher tem uma sensibilidade própria à dor, então a sua experiência pode ser muito diferente daquela de outra pessoa que você conhece;
A percepção da dor é aumentada pela ansiedade. Assim, se você se sente em um ambiente hostil, não conta com uma equipe em quem confia ou não tem um acompanhante de confiança ao seu lado, a sensação de dor é intensificada. No parto natural, buscamos criar um ambiente de acolhimento e de confiança para a mulher.
Muitas mulheres, apesar de afirmarem que sentiram uma dor significativa, relatam que não utilizariam anestesia mesmo que pudessem voltar no tempo. Afinal, junto com a dor, são liberados hormônios e neurotransmissores relacionados ao bem-estar e à satisfação.
Um desses hormônios é a endorfina, um potente analgésico natural produzido em grandes quantidades durante o trabalho de parto. Portanto, o próprio corpo da mulher é uma fonte de substâncias de controle da dor.
Em outras palavras, existe sim o controle da dor no parto natural, mas ele é feito com outras estratégias.
Parto natural e parto natural humanizado
Não existe nenhum tipo de parto que seja, por si só, humanizado. A humanização é um paradigma que diz respeito à condução do médico e da equipe de saúde a todo o processo de acolhimento e cuidado da mulher gestante.
Isso significa:
- Respeitar o seu protagonismo: você deve sentir que o parto natural foi uma escolha sua, dentro da sua autonomia, e não uma imposição médica. Além disso, durante toda a execução do parto houve respeito ao seu corpo, à sua mente e às suas decisões;
- Individualizar o parto natural a suas condições biopsicossociais: as decisões médicas levaram em consideração as características individuais do seu corpo e da sua gestação, além de seu contexto emocional, afetivo, cultural e social. Ou seja, o parto natural deve ser indicado apenas se você tiver condições físicas/psíquicas para tal e se você o desejar, além de outros fatores da sua realidade;
- Seguir os princípios da medicina baseada em evidências: o parto natural e sua condução seguirão as melhores e mais atuais evidências científicas, considerando especialmente os riscos e os benefícios de cada decisão tomada. Portanto, o parto natural humanizado segue os fundamentos da boa prática médica, isto é, fazer bem aos pacientes e não fazer mal a eles.
Portanto, não existe nenhum tipo de parto que seja por si só humanizado. A humanização é um paradigma que diz respeito à condução do médico e da equipe de saúde a todo o processo de acolhimento e cuidado da mulher gestante. Por isso, dizemos que idealmente todo o parto deveria ser humanizado e, sempre que possível, seja um parto natural.
Quer saber mais sobre o parto natural, seus benefícios e suas contraindicações? Confira nosso texto sobre o tema!