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Ginecologia na adolescência – a primeira consulta, quando deve acontecer?

Por Dra. Cristiane Pacheco

A adolescência é a fase que marca a transição entre a infância e a idade adulta. Ainda que diversas mudanças físicas possam ocorrer antes, na pré-puberdade, entre os 8 e 9 anos, a faixa etária que abrange a adolescência é entre 12 e 18 anos. Geralmente é aos 12 anos que ocorre a primeira menstruação.

Chamada menarca, define o início da ovulação e da fertilidade, ou seja, já é possível engravidar, embora os ciclos menstruais ainda sejam irregulares e nem todos os meses os ovários liberem um óvulo para ser fecundado.

No entanto, em muitos casos, esse evento pode ser antecipado – é comum algumas meninas menstruarem mais cedo.

Não existe uma regra que determine o momento ideal da primeira consulta ao ginecologista. Muitas vezes, a mãe acha que a primeira menstruação indica a necessidade de consultar um ginecologista, mas isso deve acontecer se essa menstruação tiver alguma anormalidade, prejudicar a qualidade de vida da adolescente ou vier acompanhada de alguma outra dificuldade. Caso contrário, não há um motivo real para consultar um ginecologista.

O que esperar da primeira consulta ao ginecologista?

Um dos motivos para consultar um ginecologista na adolescência é conhecer melhor o funcionamento do corpo. Afinal, muitas mudanças ocorrem nesse período e é importante saber mais sobre os órgãos sexuais externos e internos.

Na primeira consulta, é possível esclarecer todas as dúvidas e preparar-se, dessa forma, para enfrentar esse período de tantas transformações.

O ginecologista também poderá fazer diferentes perguntas, incluindo sobre o histórico de saúde pessoal, familiar e sexualidade. Como normalmente as meninas são acompanhadas pelas mães, algumas informações podem ser fornecidas por elas, embora a privacidade da adolescente deva ser preservada. Ela precisa de espaço para dizer o que pensa e tirar suas dúvidas. Isso é muito importante.

Além disso, a adolescente recebe diversas orientações sobre higiene íntima e as mudanças psicológicas que podem ocorrer, entre elas variações de humor. Dependendo do caso, também são dadas orientações sobre a vida sexual.

É importante estabelecer um vínculo de confiança com a adolescente. Não faço abordagem invasiva na primeira consulta e não peço a ela que tire a roupa, a não ser que ela relate sintomas que indiquem algo com potencial de ser grave.

Um exame mais minucioso pode acontecer em uma segunda consulta, dependendo do caso. O médico sempre precisa examinar o paciente, mas a ginecologia é uma área mais delicada, por isso precisa haver uma preparação.

Durante o exame físico, altura, peso e pressão arterial são verificados, assim como possíveis problemas de saúde. O exame pélvico completo na primeira consulta só é necessário se houver sintomas como sangramento anormal ou algum outro que seja grave.

Em uma segunda ou terceira consulta, a avaliação pode ser mais detalhada, começando pelos órgãos externos:

  • Grandes lábios: duas dobras da pele cobertas de pelos, que protegem as partes interiores da vulva e rodeiam o orifício da vagina;
  • Pequenos lábios: localizados no interior dos grandes lábios, protegem o orifício vaginal e a uretra;
  • Clitóris: fica no ponto de união dos pequenos lábios e possui várias terminações nervosas. É um órgão relacionado com o prazer sexual.

Então podemos seguir para o exame especular e o de toque vaginal. O exame pélvico é realizado com a menina em posição ginecológica (posição litotômica): deitada de costas em uma maca, com as pernas flexionadas, afastadas e apoiadas em suportes laterais.

No exame especular, um instrumento chamado espéculo é introduzido pela vagina. Quando a menina ainda não teve relações sexuais, é usado um espéculo especial, menor. O exame possibilita visualizar possíveis lesões e secreções na vagina e no colo do útero.

Já no exame de toque vaginal bimanual, o médico com a mão coberta por uma luva lubrificada introduz dois dedos na vagina e com a outra mão pressiona o abdômen para percepção dos órgãos internos: útero, ovários e tubas uterinas, os órgãos reprodutores femininos.

De um modo geral, evitamos essas abordagens mais invasivas do exame de toque e especular, especialmente nas adolescentes que ainda não tiveram sua sexarca.

  • Útero: é um órgão muscular com formato de pera invertida, responsável por abrigar o bebê durante todo o período gestacional.
  • Ovários:são as glândulas sexuais femininas, responsáveis pela secreção dos hormônios sexuais e pelo armazenamento dos folículos, bolsas que contêm os óvulos. Durante a vida reprodutiva da mulher, a cada ciclo os ovários liberam um óvulo para ser fecundado pelo espermatozoide e originar o embrião;
  • Tubas uterinas: dois tubos localizados um de cada lado do útero, responsáveis por capturar o óvulo liberado pelos ovários e conduzir os espermatozoides para fecundá-lo. É nas tubas uterinas que ocorre a fecundação. Posteriormente, o embrião formado também é conduzido por elas até o útero para se implantar no endométrio e dar início à gestação.

Quais os motivos clínicos para consultar um ginecologista na adolescência?

Entre os motivos clínicos para consultar um ginecologista na adolescência estão:

  • Períodos menstruais: embora as irregularidades menstruais sejam comuns na adolescência, uma vez que há maior produção de hormônios, as meninas devem ser avaliadas se apresentarem um quadro com períodos prolongados e de maior fluxo, com cólicas menstruais severas que interfiram nas atividades do dia a dia ou, ao contrário, quando o fluxo é escasso e pouco frequente e se houver ausência de menstruação por muitos meses;
  • Infecções fúngicas: infecções vaginais por fungos são bastante comuns na adolescência. A produção mais intensa de hormônios pode alterar a flora vaginal. Coceira vaginal, corrimento branco mais espesso e ardência na região da vulva (parte externa da vagina) são sintomas comuns que devem ser avaliados pelo ginecologista;
  • Atividade sexual: o início cada vez mais precoce da atividade sexual aumenta as chances de maior exposição a infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e ao vírus da imunodeficiência humana (HIV). Se a adolescente for sexualmente ativa, o ginecologista orienta sobre as formas de prevenção de ISTs e pode solicitar exames quando há suspeita de infecções. A gravidez indesejada na adolescência também é uma grande preocupação, portanto podem ser estudados os melhores métodos contraceptivos para a adolescente;
  • Vacinação: na primeira consulta, o ginecologista orienta, ainda, sobre a vacinação contra HPV (sigla em inglês para papilomavírus humano). O HPV é transmitido pelo contato direto com a pele ou mucosa infectada, por relação sexual desprotegida.

Esses são os mais comuns, mas existe uma infinidade de motivos para procurar um ginecologista na adolescência. É importante manter o diálogo aberto com as meninas dessa idade. Elas precisam se sentir à vontade para procurar ajuda.

Hebiatria

Como há pouca informação sobre a hebiatria, vale mencioná-la aqui. Trata-se da especialidade da medicina que cuida do adolescente. Muitas vezes, a menina para de consultar o pediatra e passa diretamente para o ginecologista, mas poderia fazer acompanhamento com um profissional da hebiatria.

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