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PTGI

Por Dra. Cristiane Pacheco

As doenças do colo do útero, vagina e vulva, que constituem o chamado trato genital inferior, são clinicamente denominadas PTGI ou patologias do trato genital inferior e são as mais prevalentes nas mulheres.

O papilomavírus humano (HPV) e suas diversas manifestações é a causa mais comum de PTGI. Transmitido por relação sexual desprotegida, é um tipo de infecção sexualmente transmissível (IST), que pode provocar alterações nas células, lesões pré-cancerígenas conhecidas como displasias ou neoplasias intraepiteliais.

São usualmente detectadas pelo exame papanicolaou, esfregaço citológico utilizado na rotina de rastreamento do câncer de colo uterino. Por isso, o acompanhamento anual da saúde ginecológica é fundamental para evitar essas e outras condições: se descobertas precocemente, com o tratamento adequado, elas geralmente não evoluem para câncer nessas regiões.

Principais PGTI

Conheça as principais PGTI e saiba o que acontece se elas não forem adequadamente tratadas:

Neoplasia intraepitelial cervical (NIC)

A NIC, pré-câncer do colo do útero (porção inferior do útero) ou displasia cervical, é uma anomalia que ocorre na superfície e pode ser de baixa ou alta periculosidade. Ainda que na maioria dos casos tenha cura, a falta de tratamento pode resultar em câncer cervical, terceiro tumor maligno mais prevalente nas mulheres brasileiras.

A NIC é consequência de tipos de HPV de alto risco. Embora o sistema imunológico naturalmente elimine o vírus muitas vezes, a infecção pode permanecer assintomática por vários meses ou anos, tornando-se, nesse caso, suscetível às células cancerígenas.

Esse tipo de displasia é mais comum entre as mulheres de 25 e 35 anos, porém pode ocorrer em qualquer idade, inclusive nas mulheres mais velhas que não sejam sexualmente ativas, da mesma forma que é rara a ocorrência em idade inferior aos 25 anos.

Além do HPV, outros fatores aumentam o risco para o desenvolvimento de displasia cervical, incluindo iniciação sexual precoce, multiplicidade de parceiros, sistema imunológico enfraquecido ou mesmo hábitos como tabagismo e uso prolongado de contraceptivos.

Neoplasia intraepitelial vulvar (NIV)

Na NIV ou displasia vulvar, as alterações anormais ocorrem na pele da vulva, conjunto que contém as estruturas femininas genitais externas, como púbis, grandes e pequenos lábios, clitóris e períneo.

Apenas a displasia vulvar de alto grau é classificada como neoplasia intraepitelial vulvar, subdividida em dois tipos: NIV usual e NIV diferenciada, que possuem diferentes fatores de risco.

A NIV usual pode resultar de infecções por HPV, tabagismo ou sistema imunológico comprometido, enquanto a diferenciada está associada a outras condições, como líquen escleroso, um distúrbio de pele crônico que tem como característica o aparecimento de manchas brancas e finas na região genital, mais comum em mulheres idosas.

Neoplasia intraepitelial vaginal (NIVA)

A NIVA ou displasia vaginal afeta a estrutura da vagina. Pode ser leve, moderada ou grave e, se não for adequadamente tratada, assim como as outras, evolui para câncer.

O câncer vaginal, entretanto, é mais raro e normalmente está associado ao histórico de cervical ou vulvar, sendo mais comum em mulheres entre 40 e 60 anos, mas pode ocorrer em qualquer idade. O HPV é o principal fator de risco, embora tabagismo e sistema imunológico enfraquecido também contribuam.

Quais são os sintomas de PTGI?

As PTGIs geralmente são assintomáticas. Os sintomas surgem quando elas se tornam câncer e são comuns principalmente ao cervical e vulvar.

Os sintomas de câncer cervical incluem:

  • Dor pélvica;
  • Dor durante a relação sexual (dispareunia);
  • Sangramento ou manchas entre os períodos menstruais ou após a relação sexual;
  • Sangramento ou manchas após a menopausa;
  • Aumento do fluxo menstrual durante a menstruação ou períodos mais longos do que o normal;
  • Corrimento vaginal que pode ser aguado, com sangue ou com odor intenso.

Já os de câncer vulvar são:

  • Alterações visíveis na cor da pele da vulva: áreas brancas, rosas, cinzas ou marrom-escuras;
  • Áreas mais espessas ou um novo crescimento que se assemelha a uma verruga;
  • Rachaduras ou ulcerações na pele;
  • Sensação de comichão ou queimação.

Como as PGTIs são diagnosticadas?

Para diagnosticar a displasia cervical, o teste de triagem é exame de papanicolaou de rotina, que identifica, ainda, o tipo de HPV que causou a condição. O rastreamento é recomendado a partir dos 21 anos, independentemente da idade em que a mulher se torna sexualmente ativa.

Durante o exame ginecológico, também é feita a investigação da vulva e vagina, possibilitando a detecção de alterações sugestivas de neoplasia vulvar ou vaginal.

Quando há alterações nos exames, a paciente deve realizar a colposcopia, exame que possibilita uma avaliação completa do colo do útero, vulva e vagina, detectando qualquer alteração anormal nas células. O exame utiliza um instrumento de alta resolução chamado colposcópio, semelhante a um par de binóculos posicionados em um suporte.

Como as PTGIs são tratadas?

Para a displasia cervical de alto grau, a indicação é de remoção da área afetada, realizada em geral por dois procedimentos LEEP (Loop Electrosurgical Excision Procedure) e conização com lâmina a frio.

No LEEP, uma alça de arame fino condutora de corrente elétrica é inserida pela vagina até o colo do útero, removendo a área da displasia. Normalmente não é necessário nenhum procedimento cirúrgico se todo o tecido anormal for removido. Como pode haver recorrência, entretanto, o acompanhamento deve ser periódico. O processo pode ser realizado em ambiente laboratorial. Já a conização com lâmina a frio é realizada em ambiente hospitalar: após a coloração do colo uterino, a região afetada é retirada no formato de um cone.

As neoplasias vaginal e vulvar frequentemente regridem naturalmente. Porém, se houver evolução do quadro, podem ser indicados três procedimentos:

  • Terapia tópica: aplicação de medicamento na região afetada por várias semanas;
  • Ablação a laser:procedimento realizado em ambiente hospitalar que destrói as células anormais com a aplicação de laser;
  • Excisão cirúrgica: procedimento cirúrgico no qual a lesão é removida a partir do corte da pele ao redor. A extensão varia de acordo com a área afetada.

A eficácia dos tratamentos é bastante alta, no entanto, nos casos em que não é possível solucionar o problema ou quando os quadros evoluem mesmo após a realização dos procedimentos, é indicada a radioterapia em associação com a quimioterapia em alguns casos.

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