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A retomada da sexualidade

Por Dra. Cristiane Pacheco

Da mesma forma que a gravidez e o parto causam mudanças físicas, também interferem na vida sexual do casal, mas principalmente da mulher. As alterações hormonais pós-parto, por exemplo, podem tornar o tecido vaginal mais fino e mais sensível. Além disso, vagina, útero e colo do útero demoram um pouco para retornar ao tamanho normal, ao mesmo tempo que a amamentação tende a diminuir a libido.

Ou seja, o organismo, de um modo geral, precisa de um tempo para se recuperar antes de as atividades sexuais serem retomadas. Não existe um cronograma para definir um tempo de espera, embora de modo geral recomende-se entre quatro e seis semanas após o nascimento, independentemente do método contraceptivo usado.

Para mulheres submetidas à episiotomia (corte no períneo para alargamento do canal vaginal) ou lacerações, o tempo pode ser maior. Sempre é importante lembrar que esse corte não é um procedimento de rotina e deve ser evitado. Nesse caso, a relação sexual tende a causar complicações, como hemorragia pós-parto, infecções uterinas ou dor.

Após a liberação da atividade sexual, entretanto, nem sempre as mulheres estão preparadas, pois há ainda a adaptação à nova rotina de cuidados com o bebê e o cansaço, normal nos primeiros meses.

Além disso, há um aspecto muito importante que precisa de bastante sensibilidade do casal, principalmente do homem. A gestação transforma a mulher física, emocional e psicologicamente. O homem pode ter alterações emocionais e psicológicas, mas físicas não, portanto precisa ter muito cuidado com essa nova situação de vida e respeitar o momento de sua parceira. Isso ajuda também no relacionamento e na dinâmica familiar.

Como o parto pode afetar o sexo?

A maioria das mulheres pode ter problemas para retomar as atividades sexuais após o parto, principalmente quando é o primeiro filho. No entanto, a dificuldade geralmente ocorre apenas nos primeiros meses e se normaliza depois. Os problemas relacionados ao sexo após o parto incluem:

  • Dor durante a relação sexual (dispareunia);
  • Tecido vaginal mais fino;
  • Secura vaginal;
  • Perda de elasticidade do tecido vaginal;
  • Sangramento;
  • Perda do tônus da musculatura perineal;
  • Baixa libido;
  • Cansaço.

Os hormônios desempenham um papel importante na recuperação pós-parto e na retomada da sexualidade. Logo após o nascimento, os níveis de estrogênio decrescem e, durante a amamentação, podem ser inferiores aos apresentados durante a gravidez.

O estrogênio ajuda na lubrificação vaginal natural, portanto níveis baixos do hormônio aumentam a probabilidade de ocorrer secura, o que pode causar irritação e possibilidade de sangramento durante o sexo.

O parto vaginal pode diminuir (por algumas vezes ) o tônus dos músculos do canal vaginal. No entanto, eles se recuperam naturalmente com o tempo.

Além disso, é importante certificar-se sobre a cicatrização correta da incisão ou laceração, caso tenha ocorrido, antes da retomada da sexualidade.

E o controle de natalidade?

Gestações em intervalos curtos podem aumentar os riscos de complicações para a mãe e o bebê. Por isso, com a retomada da sexualidade, é fundamental avaliar o melhor método de contracepção.

O método de amenorreia lactacional (LAM) pode ser considerado quando a mulher está amamentando, uma vez que a própria lactação tem um efeito anticoncepcional, mas não é tão seguro como geralmente as pessoas imaginam.

O LAM é eficaz apenas quando a amamentação é exclusiva, ou seja, quando, além do leite materno, há pouquíssima ou nenhuma suplementação alimentar.

Para reduzir o risco de complicações na gravidez e outros problemas para a mãe e para o bebê, estudos sugerem aguardar no mínimo 18 meses para a próxima gestação.

Além do LAM, métodos de barreira, como preservativos e diafragma, assim como o dispositivo intrauterino (DIU) de cobre ou prata, também estão indicados os contraceptivos orais injetáveis ou implantes que possuem só progestagênios, bem como o Mirena ou Kyleena, que são dispositivos intrauterinos que liberam só esse tipo de hormônio também.

A opção mais adequada normalmente é estudada caso a caso.

Dicas para aliviar o desconforto na retomada da sexualidade

Algumas dicas podem contribuir bastante para aliviar o possível desconforto na retomada da sexualidade:

  • Para aliviar a dor: utilize um analgésico antes da relação sexual e procure sempre esvaziar a bexiga;
  • Para aliviar a secura vaginal: use lubrificantes antes ou durante o sexo;
  • Busque alternativas: alternativas para a relação sexual vaginal também são uma opção durante os primeiros meses, como massagem.
  • Fisioterapia pélvica: subespecialidade da fisioterapia, ela ajuda no fortalecimento da musculatura e reabilitação da região – com poucas sessões a paciente já apresenta melhoras.

Para tonificar os músculos do assoalho pélvico, também podem ser praticados os exercícios de Kegel: imagine-se sentada em uma bola de gude e contraia os músculos pélvicos como se a estivesse levantando. Mantenha-os contraídos por aproximadamente três segundos a cada vez, depois relaxe e conte até três. Repita o processo por 10 ou 15 vezes seguidas, pelo menos três vezes ao dia.

Se após alguns meses a dor permanecer, é importante conversar com seu médico sobre as possíveis opções de tratamento.

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