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Mudanças na dinâmica familiar

Por Dra. Cristiane Pacheco

A transição de um casal para uma família pode ser uma das maiores transformações da maternidade: a chegada do bebê muda o ritmo de vida dos novos pais e, consequentemente, o relacionamento entre eles.

No entanto, embora existam desafios na criação de um bebê, particularmente se for o primeiro filho, muitos relacionamentos se fortalecem quando os casais se permitem uma nova forma de respeito entre eles, como pais, compartilhando experiências que podem estimular o casamento e criar bases sólidas para a nova família que se forma.

Pesquisas acadêmicas sobre a natureza e a extensão do efeito da paternidade nos relacionamentos, por exemplo, apontam que a convivência da maioria dos casais não é drasticamente alterada nessa nova situação.

Para isso, entretanto, é importante detectar os pontos frágeis antes do nascimento do bebê, já existentes ou que possam gerar desavenças no futuro. O suporte de uma terapia para casais, nesse caso, pode ajudar bastante.

O que pode afetar os relacionamentos após a chegada do bebê?

Grandes mudanças na vida – ter um bebê está entre elas – tendem naturalmente a alterar os relacionamentos e a rotina familiar, até que cada um dos pais se ajuste à nova situação e responsabilidades.

Porém, não é a chegada do bebê que leva ao fracasso dos casamentos. Casais em dificuldades não devem esperar que um filho seja a solução para melhorar seus relacionamentos. Pelo contrário, quando há essa fragilidade, o risco de a relação não resistir à chegada de um filho é bem maior. Por isso, é importante resolver qualquer conflito antes do nascimento do bebê e, preferencialmente, da gravidez.

Por outro lado, os casais emocionalmente estáveis devem fazer um esforço consciente para manter o vínculo, mas não precisam temer que a chegada de um filho cause mudanças negativas.

Estudos também apontam que as famílias coesas, com altos níveis de autonomia e intimidade, experimentam poucos conflitos, enquanto as desestabilizadas tendem a um mau funcionamento interpessoal e afastamento dos parceiros.

Assim, autonomia e intimidade são requisitos fundamentais para evitar o conflito após a chegada do bebê. Veja a seguir alguns fatores que podem levar a conflitos nos relacionamentos:

  • Cansaço: esse é um dos principais fatores que levam à tensão nos relacionamentos após o nascimento. A falta de sono pode ter um enorme impacto na vida cotidiana, portanto é necessário considerar opções para gerenciar o cansaço. Uma alternativa é a de os pais revezarem as noites com o bebê e dormirem em quartos separados;
  • Falta de tempo: o bebê, nos primeiros meses, exige total atenção e muitos cuidados, o que torna o tempo ainda mais escasso e reduz a possibilidade de dedicar momentos para socializar e relaxar, mudando, assim, a dinâmica do relacionamento;
  • Mudanças profissionais: boa parte das mulheres opta pelo abandono do emprego no primeiro ano de vida do bebê. A perda da independência financeira, entretanto, gera maior insegurança e muitas vezes o afastamento do parceiro. Nesse caso, é importante que ele dedique maior tempo à mãe e ao bebê, demonstrando seu apoio e reconhecendo problemas que podem resultar em tensão;
  • Insegurança: a chegada do primeiro filho, particularmente, pode levar ao sentimento de perda de importância para o outro, uma vez que toda a atenção está concentrada no bebê. O pai pode sentir-se rejeitado, enquanto a mãe, muitas vezes, acredita que o parceiro a observa apenas nesse papel, não como parceira e mulher;
  • Opiniões contrárias: opiniões contrárias sobre a criação dos filhos também podem gerar conflitos, principalmente quando um dos pais tende a anular a confiança do outro. É importante encontrar um ponto de equilíbrio para as decisões mais importantes, com definições que sejam favoráveis para o bebê e não causem desentendimento entre o casal. Além disso, a consciência de que existem diferentes formas para cuidados com o bebê e que é possível flexibilizar as ações é fundamental;
  • Relação sexual: o cansaço muitas vezes pode levar ao afastamento sexual, da mesma forma que as alterações hormonais comprometem a libido e causam ressecamento vaginal, o que acaba contribuindo para que isso aconteça. Ainda que a função orgânica naturalmente normalize, é importante sempre procurar manifestar, fisicamente, afeto, e conduzir a transição com bom humor.

Manter-se aberto ao diálogo também é necessário e, da mesma forma, dedicar um tempo para relaxar juntos, em casa ou ambientes sociais. Ampliar as relações nesse momento pode ser, ainda, uma boa opção.

O nascimento de um bebê geralmente aproxima amigos, familiares e vizinhos, ao mesmo tempo que uma ajuda extra é sempre bem-vinda nos primeiros meses de vida, a convivência com outras pessoas contribui bastante para minimizar qualquer ambiente de tensão.

Por outro lado, o desenvolvimento de transtornos emocionais como a depressão após o nascimento, embora para a mãe seja consequência de alterações hormonais, pode, da mesma forma, ocorrer com o pai. É importante, portanto, ficar atento aos sentimentos manifestados pelo parceiro durante esse período e recorrer ao auxílio médico quando necessário.

Os casais que se tornam companheiros durante essa jornada se fortalecem com o aprendizado, criando, assim, uma estrutura familiar mais sólida.

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