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Psicologia

Por Dra. Cristiane Pacheco

Gravidez e pós-parto são períodos de grandes mudanças fisiológicas, psicológicas e sociais para as mulheres. O processo de adaptação a elas pode influenciar fortemente nas chances de afetar a saúde mental, o que compromete não apenas as mães, mas também os bebês e os relacionamentos pessoais.

Além disso, as experiências da mãe em sua família de origem, problemas de saúde mental anteriores ou atuais, conflitos não resolvidos, perdas ou traumas em gestações anteriores, circunstância da vida dos pais, da concepção são elementos que podem impactar essa transição.

Embora nem toda mulher grávida desenvolva problemas de saúde mental, todas têm que se adaptar a essas mudanças. Por isso, os psicólogos desempenham um papel importante durante essa transição, desde o aconselhamento no período gestacional, à observação e tratamento de possíveis sintomas de depressão pós-parto e outros transtornos de menor ou maior gravidade.

O trabalho psicológico durante a gravidez e pós-parto

Durante os nove meses de gravidez a mãe começa a idealizar o bebê, ao mesmo tempo que precisa se ajustar às mudanças em sua identidade, corpo, relacionamentos e carreira, assim como se preparar para o parto.

Os psicólogos auxiliam as mães e seus familiares a constituir e organizar estruturas, tornando possível a compreensão e o planejamento de estratégias apropriadas para o enfrentamento da nova realidade vivida pela família.

Os aspectos psicológicos da gravidez evoluem junto com as mudanças fisiológicas, no entanto, na maioria dos casos, tendem a receber menor atenção.

Orientações sobre a ansiedade comum ao período e a natureza evolutiva dos estados psicológicos durante a gravidez, entretanto, são fundamentais para que a mulher e a família possam detectar possíveis sintomas, iniciando, dessa forma, um tratamento precoce, o que vai evitar o desenvolvimento de transtornos de maior gravidade no período pós-parto e garantir um melhor desenvolvimento da gestação.

A orientação psicológica é particularmente indicada para mulheres que sofreram perdas em gestações anteriores, que podem ser traduzidas em diversos formatos, entre eles aborto espontâneo, interrupção da gravidez, natimorto, bebês nascidos com deficiência, infertilidade prolongada, entre outros. Sentimentos como raiva, culpa ou vergonha tendem, nesses casos, a se apresentar de maneira amplificada.

O trabalho do psicólogo ajuda a mulher e seu parceiro a enfrentarem as perdas do passado, enquanto se preparam para a chegada do novo bebê.

Entenda, a seguir, as mudanças psicológicas que podem ocorrer em cada trimestre da gravidez, observadas por diferentes estudos, ou no pós-parto, e como os psicólogos podem ajudar:

Primeiro trimestre

No primeiro trimestre, a mulher se ajusta à ideia de gravidez. É um período de alterações hormonais e fisiológicas, mas sem sinais que evidenciam o processo. Há maior probabilidade de sentir fadiga e náuseas, o que diminui ou intensifica as respostas emocionais. Náuseas e vômitos constantes podem levar a um estado de desânimo em relação à gravidez ou mesmo gerar dúvidas sobre a continuidade.

Para as que possuem histórico de aborto espontâneo, por outro lado, as alterações hormonais tendem a intensificar a ansiedade sobre a gravidez até o nascimento.

Os psicólogos podem ajudar as mães a aceitarem essas experiências e a permanecerem emocionalmente conectadas ao bebê.

Segundo trimestre

É nessa fase que o bebê geralmente mexe pela primeira vez. A mulher pode se sentir mais confortável fisicamente e continua a idealizá-lo. Estudos observaram que geralmente entre o quarto e o sétimo mês a idealização do bebê se intensifica, atinge o pico aproximadamente no sétimo mês e posteriormente reduz, criando espaço para que a mãe se conecte com o bebê real.

Os psicólogos podem utilizar diferentes métodos para avaliar a relação materno-fetal e facilitar a conexão com o bebê real.

Terceiro trimestre

Nos últimos meses de gravidez, as mulheres começam a se preparar para a chegada do bebê e a focar sua atenção no parto, o que pode provocar maior ansiedade.

Os psicólogos incentivam as mulheres a considerar os aspectos práticos do parto, ao mesmo tempo que trabalham sentimentos de ansiedade que podem surgir, ou intensificar, como o de algo acontecer durante o processo ou com o bebê.

Nascimento e pós-parto

As experiências dos pais durante o trabalho de parto e nascimento são únicas, contribuem para o relacionamento com o bebê, da mesma forma que refletem na adaptação da chegada dele para cada família.

Um parto difícil ou traumático, por exemplo, pode levar a mãe à exaustão física e emocional, o que dificulta a adaptação à nova rotina e os cuidados com o bebê. Dificuldades que contribuem para o desenvolvimento de transtornos como a depressão pós-parto.

Além disso, é comum que a maioria das mães vivencie instabilidades emocionais após o nascimento. O baby blues, por exemplo, em que há alterações de humor, crises de choro frequentes e tristeza, é registrado em um percentual bem alto de mulheres, embora seja passageiro. Porém, sintomas que persistem e se tornam mais acentuados podem indicar depressão pós-parto.

O psicólogo é importante nas duas situações. No primeiro caso, o acompanhamento da mulher por algumas sessões pode ajudar a aliviar e controlar esses sintomas. Já a depressão pós-parto geralmente requer um tratamento mais longo, com a administração de medicamentos específicos em algumas situações, para evitar que o transtorno se torne crônico.

Assim, o trabalho dos psicólogos no período pré-natal e pós-parto pode ajudar as mulheres nessa transição, melhorar as relações mãe-bebê, identificar precocemente o risco de problemas mais sérios, acompanhar e tratar a ocorrência de possíveis transtornos e ajudar as famílias a lidar com essas experiências, facilitando os cuidados com o bebê, garantindo a sua saúde e a saúde materna.

É importante salientar o olhar sensível do obstetra, que é o primeiro muitas vezes a lidar e observar a necessidade da futura mãe, e a importância do acompanhamento deste profissional.

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