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Fisioterapia pélvica no pós-parto

Por Dra. Cristiane Pacheco

A fisioterapia pélvica pode ser feita em dois momentos: antes e depois do parto, com objetivos distintos, embora complementares. Fazer fisioterapia para o assoalho pélvico após o parto pode resolver problemas de curto prazo e prevenir os de longo prazo.

As mulheres que tiveram uma gravidez saudável e um parto normal geralmente podem começar a exercitar-se alguns dias após o nascimento, enquanto os partos por cesarianas exigem um tempo maior de repouso. Em ambos os casos, entretanto, o obstetra é quem deverá orientar sobre o melhor período para o início, de acordo com as características de cada mulher.

As primeiras seis semanas após o parto podem ser marcadas por alterações físicas e sintomas, entre eles dor perineal e dores pós-parto.

Por isso, depois que o bebê nasce, é importante realizar uma série de exercícios para fortalecer os músculos que foram alongados durante a gravidez e o nascimento. Isso ajuda a prevenir dores nas costas e promove uma postura correta, contribuindo para que a recuperação seja mais rápida, ao mesmo tempo que beneficia a circulação e respiração.

No entanto, mesmo que a fisioterapia pélvica pós-parto seja um procedimento fundamental para a saúde da mulher, ainda é desconhecido pela maioria, uma vez que normalmente as avaliações posteriores ao nascimento estão focadas em exames do sistema reprodutor, questões sobre saúde mental e do recém-nascido, deixando uma lacuna relacionada às mudanças físicas que a nova mãe vivencia durante o período, que podem refletir em sua saúde no futuro.

Muitas pessoas pensam que apenas o parto normal provoca alguns tipos de alteração, como perda urinária. Isso não é verdade. Existem muitas mulheres que só tiveram cesárea e apresentam o mesmo problema. Desenvolvem uma fraqueza da musculatura do períneo, queda da bexiga, prisão de ventre, entre outras disfunções. A própria gestação aumenta a pressão intra-abdominal, altera a função hormonal, que mexe com a mucosa da vagina.

Antigamente, era mais comum a realização de cirurgias, como a perineoplastia, mas, se mal indicada, ela não proporciona melhora, enquanto a fisioterapia pélvica sim.

Todas as mulheres precisam se cuidar e recorrer ao que a medicina oferece, principalmente nesse momento que promove tantas mudanças no corpo.

Entenda por que a fisioterapia pós-parto é tão importante

A fisioterapia pélvica no pós-parto é uma subespecialidade da fisioterapia. É uma técnica adotada recentemente pela área obstétrica em alguns países, inclusive no Brasil: já teve a sua eficácia comprovada na prática clínica e é um procedimento não invasivo, ao contrário de abordagens cirúrgicas como a perineoplastia, usada como recurso para correção dos músculos do assoalho pélvico após o parto normal.

Além de corrigir os músculos dessa região quando há prolapso de órgão pélvico – queda dos órgãos pélvicos como resultado da fraqueza ou lesão nos ligamentos, tecido conjuntivo e músculos da pelve –, a fisioterapia pélvica pós-parto propõe a prática de exercícios que contribuem para corrigir outras condições comuns ao pós-parto, como incontinência urinária de esforço ou urgência, que ocorre quando a mulher tosse ou ri, por exemplo.

Outras condições comuns ao pós-parto que podem ser corrigidas incluem:

  • Micção frequente;
  • Micção noturna;
  • Incontinência fecal;
  • Constipação;
  • Dor durante a relação sexual (dispareunia);
  • Vaginismo (espasmos e contrações involuntárias da vagina);
  • Dor pélvica persistente.

Além disso, a técnica minimiza as dores provocadas pela episiotomia, incisão feita na região do períneo para ampliar o canal de parto. Mulheres em que o procedimento foi necessário têm maiores dificuldades de recuperação pós-parto.

Particularmente mais indicada para mulheres que tiveram muitos partos, a fisioterapia pélvica pós-parto, entretanto, também é importante para as novas, que vivenciam novas transformações físicas e para mulheres submetidas à cesariana, que também podem sofrer com essas condições como consequência da gravidez.

Como a fisioterapia pélvica no pós-parto funciona?

O tratamento inicia com uma avaliação da paciente, para que sejam definidos o conjunto de exercícios mais adequados para cada caso ou uso de aparelhos específicos, o que inclui a observação de aspectos como o tecido cicatricial em torno da cicatriz de cesariana ou da vagina e, de episiotomia, quando for o caso.

A região perineal é trabalhada internamente e externamente. Para isso, são usados aparelhos específicos e técnicas de tratamento de pontos-gatilho ou liberação do tecido miofascial, membranas resistentes que envolvem, conectam e sustentam os músculos. Também são trabalhadas coluna, quadris, caixa torácica, parte inferior ou superior do corpo: desequilíbrios em qualquer uma dessas áreas podem prejudicar o alinhamento pélvico.

Outro foco importante do tratamento é o trabalho de fortalecimento do núcleo e estabilização pélvica, que tem a respiração como elemento principal: quando é incorreta pode alterar a forma como estão estabilizando. Assim, melhorar a respiração é uma parte importante do tratamento.

Outras técnicas comportamentais são ainda trabalhadas, como a forma correta de sentar-se no vaso sanitário para que a bexiga seja totalmente esvaziada e não armazene urina, o que pode resultar em micção frequente ou infecções crônicas no trato urinário.

O tratamento das consequências da episiotomia também pode ser feito com a fisioterapia pélvica, nesse caso realizada com laser. A sutura da episiotomia deve ser feita cuidadosamente e existe técnica. Caso isso não seja feito de forma adequada, a cicatriz pode provocar bastante dor. O laser pode ajudar na recuperação dessa área e reduzir a dor.

Quando a extensão dos problemas é menor, poucas sessões são necessárias para solucioná-los. Lesões mais extensas, por outro lado, podem exigir um tempo maior, de vários meses.

É possível iniciar a fisioterapia pélvica ainda durante a gravidez, prevenindo, dessa forma, boa parte dos problemas que podem ocorrer no pós-parto ou minimizando-os. Os benefícios proporcionados pela técnica na gestação e pós-parto a tornaram um complemento importante para o trabalho dos obstetras.

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