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Fórceps, quando utilizar?

Por Dra. Cristiane Pacheco

Um instrumento cirúrgico semelhante a uma pinça de salada em formato de colher, o fórceps é usado para facilitar a saída do bebê, principalmente nos partos por via vaginal, quando, por problemas maternos ou do bebê, ele precisa ser guiado para fora do canal de parto.

Apesar da má fama do fórceps no passado, atualmente o instrumento é adotado de forma mais criteriosa, em situações bastante específicas, salvando, inclusive, as vidas de mãe e filho em muitas situações. É difícil desfazer uma imagem tão ruim de um instrumento utilizado em um momento tão delicado, mas vamos falar melhor dele para esclarecer suas importantes indicações.

Geralmente, ele é utilizado durante o segundo estágio do trabalho de parto, quando não há progressão ou a entrega do bebê tem que ser imediata para sua segurança.

No entanto, antes de usarmos o fórceps, recorremos a outros procedimentos não cirúrgicos, uma vez que, mesmo sendo importante em diversas situações, seu uso de forma indiscriminada pode aumentar o risco de complicações, para mãe e seu bebê.

Quando o uso do fórceps é necessário?

Antes do surgimento da cesariana, que começou a ser realmente utilizada nas décadas de 1970 e 1980, tentavam-se diversos recursos no parto, sendo o fórceps um deles. Como não havia a cesariana, o fórceps era muito empregado e muitas vezes em situações contraindicadas. Foi, portanto, essa utilização indiscriminada que levou as pessoas a temerem o instrumento, mas isso mudou. Hoje ele é utilizado em situações específicas para salvar vidas.

A saída do bebê com a utilização do fórceps é considerada quando ocorrem algumas complicações no trabalho de parto. Podemos dizer, de forma geral, que ele pode ser utilizado em duas grandes situações:

  1. Sofrimento fetal agudo (quando começa a cair o batimento cardíaco do feto) precisa que se apresse o nascimento;
  2. A mãe cansou, exauriu e o bebê ainda se encontra no canal vaginal.

Podemos fazer um desdobramento desses momentos para detalhar as indicações porque o processo de parto é complexo e muitas intercorrências podem acontecer:

  • Dificuldade em fazer o empuxo: quando a mulher não consegue empurrar adequadamente o bebê para ajudá-lo no nascimento;
  • Trabalho de parto prolongado: quando, mesmo a mulher empurrando corretamente, o trabalho de parto não progride depois de um período. É considerado prolongado o trabalho que acontece por 20 horas ou mais;
  • Problemas de saúde maternos: mulheres com condições médicas, como doenças cardíacas ou hipertensão (pressão alta), que tornam desaconselhável fazer muita força;
  • Alterações nos batimentos cardíacos do bebê: quando a mulher reúne todas as condições para o nascimento, o bebê está posicionado corretamente, mas apresenta alterações nos batimentos cardíacos, o que pode sugerir problemas;
  • Dificuldades de desprendimento do canal vaginal: em alguns casos, o bebê pode ter dificuldades para desprender-se do canal vaginal, o uso do fórceps é necessário para que isso aconteça.

Por outro lado, o uso do fórceps é contraindicado nas seguintes situações:

  • Quando o bebê é diagnosticado com condições que afetam a força óssea, como osteogênese imperfeita e distúrbios hemorrágicos como hemofilia;
  • Quando a cabeça do bebê ainda não ultrapassou o ponto médio do canal de parto;
  • Quando não é possível saber a posição da cabeça do bebê;
  • Quando os ombros ou braços do bebê estão na frente;
  • Quando há desproporção cefalopélvica: bebês acima de 4 kg ou diâmetros reduzidos da bacia materna que não permitem a passagem mesmo quando o peso não é aumentado.

Antes de considerarmos a utilização do fórceps, avaliamos outras opções, entre elas a administração por via intravenosa de uma versão sintética da ocitocina, hormônio que provoca a contração uterina mais fortes e efetivas no trabalho de parto ou de anestesia para reduzir a dor e incentivar o puxo.

O uso do fórceps é feito com a mulher sob anestesia, em ambiente hospitalar. Em alguns casos, pode ser necessária uma episiotomia, incisão efetuada na região do períneo (área muscular entre a vagina e o ânus) para ampliar o canal de parto.

O fórceps é inserido entre as contrações e, após ser posicionado, é usado para guiar delicadamente o bebê pelo canal de parto à medida que ele é empurrado. Quando a pega é bem-sucedida, o instrumento é retirado assim que a parte mais larga da cabeça atravessa o canal de parto. Já o contrário, se não houver sucesso, o nascimento ocorre por cesariana.

Há riscos no uso do fórceps?

Os possíveis riscos para a mãe associados ao uso do fórceps incluem:

  • Dor no períneo após o parto;
  • Lacerações superficiais ou não no trato genital inferior;
  • Dificuldades de micção;
  • Incontinência urinária ou fecal em curto ou longo prazo se ocorrer uma laceração grave;
  • Lesões na bexiga ou na uretra, tubo que conecta a bexiga à parte externa do corpo;
  • Enfraquecimento dos músculos e ligamentos que sustentam os órgãos pélvicos.

Embora a maioria desses riscos de um modo geral também esteja associada a partos normais, eles são mais prováveis quando o nascimento acontece com o uso do fórceps.

Além das lesões faciais menores devido à pressão do fórceps, consideradas normais e geralmente temporárias, os riscos para o bebê são mais raros e incluem situações muito mais relacionadas à má aplicação do instrumento do que ao seu uso em si:

  • Paralisia temporária dos músculos faciais;
  • Trauma ocular externo de menor gravidade;
  • Fratura craniana;
  • Sangramento craniano;
  • Convulsões.

Conclusão

O uso do fórceps, assim como de qualquer outro instrumental, não deve ser usado de rotina, devido a alguns riscos. No entanto, esses recursos foram desenvolvidos com o propósito de salvar vidas. Na grande maioria dos casos, o fórceps ajuda o nascimento, que, do contrário, poderia ter um desfecho muito ruim.

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