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Distócia

Por Dra. Cristiane Pacheco

O início espontâneo do trabalho de parto geralmente ocorre após o rompimento das membranas, ou seja, da bolsa que contém o líquido amniótico.

O trabalho de parto acontece em ritmo e duração diferentes para cada mulher, no entanto, quando se torna prolongado, pode causar distócia, definida como qualquer alteração no desenvolvimento normal do parto.

A distócia está relacionada a três fatores fundamentais do parto: força motriz ou contratilidade uterina; objeto, nesse caso o binômio materno-fetal; e trajeto para o nascimento, pela bacia e partes moles.

Por isso, a frequência e força das contrações uterinas, a dilatação do colo uterino e a posição fetal são avaliadas periodicamente, indicando, assim, progressão do trabalho de parto.

Em alguns casos, podem ser necessárias intervenções obstétricas para gerenciamento de trabalho, possibilitando, assim, que o nascimento aconteça por parto normal, como indução do trabalho de parto, aumento com administração de ocitocina, uso de anestesia regional, permitindo o controle da dor com monitoramento contínuo da frequência cardíaca fetal.

Embora o protocolo de gerenciamento ativo contribua para o diagnóstico e intervenções precoces quando há distócia do trabalho de parto, vários fatores de risco estão associados a falhas durante o primeiro estágio, resultando na necessidade de realizar uma cesariana para o nascimento do bebê.

O padrão de contrações uterinas e a dilatação cervical (do colo do útero) estão entre os parâmetros que podem indicar distócia na fase ativa no trabalho de parto.

Tipos de distócia

Diferentes tipos de distócia podem ser diagnosticados durante o trabalho de parto:

Distócia funcional

A distócia funcional é caracterizada como a alteração na força motriz durante o trabalho de parto. Boa parte das mulheres nulíparas, ou seja, que nunca tiveram filhos, podem ter distócia funcional durante o parto, das seguintes formas:

  • Distócia por hipoatividade uterina: quando as contrações estão abaixo do normal, resultando em um trabalho de parto mais lento;
  • Distócia por hiperatividade uterina: nesse caso, as contrações estão acima do normal, no entanto não estimulam necessariamente o trabalho de parto. É dividida em hiperatividade com obstrução, como consequência da desproporção cefalopélvica, de tumor anterior localizado no trajeto do canal de parto, ou sinequia (aderência) no colo uterino e em hiperatividade sem obstrução, característica da mulher, resultando em um parto rápido, de aproximadamente 3 horas ou menos, considerando o trabalho desde o início até a expulsão do bebê e da placenta;
  • Distócia por hipertonia: tem como consequência um parto lento e normalmente é provocada pelo uso indevido de ocitocina. Porém, também pode ser causada por sobredistensão uterina, como resultado de gravidez gemelar ou polidramnia, quando há produção excessiva de líquido amniótico, o que pode levar ao parto prematuro;
  • Distócia por hipotonia uterina: ainda que não possua relevância clínica durante a dilatação ou no período de expulsão do bebê, pode retardar o desprendimento da placenta;
  • Distócia de dilatação: o diagnóstico desse tipo de distócia é feito por eliminação. Tem como característica casos nos quais, embora a atividade uterina e musculatura sejam normais, a evolução do trabalho não é favorável.

Distócia do trajeto

Ocorre como consequência de anormalidades ósseas ou de partes moles, resultando em estreitamento do canal de parto, dificultando ou impedindo a evolução dele e a passagem do bebê.

As ósseas estão relacionadas ao tipo de pelve da mãe ou ainda a outros problemas ósseos estruturais, e a de partes moles seriam alterações do canal de parto, vagina, períneo, colo uterino, vulva, vasculares, entre outras.

Distócia do objeto

São as anormalidades que ocorrem no trabalho de parto atribuídas ao feto, como o tamanho do bebê, apresentação (pélvica, transversa) ou posição da apresentação, como os assinclitismos.

Distócia de biacromial

Esse é um tipo de complicação mais grave que pode ocorrer no trabalho de parto. Embora o bebê esteja posicionado corretamente com a cabeça para baixo, após a passagem da cabeça, os ombros não se desprendem.

É frequentemente associada à obesidade materna e ao diabetes gestacional e pode causar graves consequências à mãe, como lacerações, atonia uterina, rotura uterina ou disjunção púbica, e ao bebê, incluindo lesões de plexo braquial, fratura de clavícula, úmero e mesmo evolução para o óbito durante o parto ou após o nascimento (neonatal).

Quando não é possível contornar os diferentes tipos de distócia durante o trabalho de parto, o nascimento ocorre por cesariana, muitas vezes realizada de forma emergencial.

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2 Comentários
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Dra. Cristiane Pacheco

Muito rico e úteis para a vida cotidiana dos obstetras as explicações no seu artigo.
Obrigado0

Dra. Cristiane Pacheco.

Agradeço muito seu comentário! Fico feliz que gostou do conteúdo. 🥰❤️