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Diabetes gestacional: conheça a condição e como se cuidar

Por Dra. Cristiane Pacheco

A gestação traz mudanças muito grandes no corpo da mulher, podendo desencadear doenças, como a Hipertensão da Gravidez e a Diabetes Gestacional em alguns casos. Afinal, ela precisará gerar uma outra vida: uma única célula fecundada se tornará um ser humano em cerca de apenas nove meses. Além disso, todo o seu corpo precisará se preparar para um processo bastante complexo e talvez cansativo, o parto.

Assim, todo o metabolismo precisa se transformar para absorver, utilizar e armazenar nutrientes. Por esse motivo, algumas doenças hormonais podem se desenvolver exclusivamente na gestação. Ou seja, a mulher não tinha e nem terá essa condição fora desse contexto. Hoje, vamos focar em uma das mais comuns, a Diabetes Gestacional. Acompanhe!

O que é diabetes de uma forma geral?

O nosso corpo precisa de energia para trabalhar adequadamente e, por isso, precisamos nos alimentar. Os principais nutrientes para essa finalidade são os carboidratos, como o amido, a sacarose (açúcar de cana), entre outros. No nosso corpo, eles são quebrados ou transformados em um carboidrato mais simples, a glicose, que pode ser usada diretamente pelas células. Popularmente, ela é chamada de “açúcar”.

Após a digestão, a glicose é absorvida no intestino e se mistura ao para o sangue para serem distribuídos a todos os órgãos. Para colocar transportar esse nutriente do sangue para que as células produzam energia, é necessário um hormônio produzido no pâncreas – a insulina.

Além da insulina, outras substâncias, como o glucagon e o cortisol, ajudam a regular os níveis de glicose no sangue. Alterações em qualquer parte desse mecanismo podem causar o aumento dos níveis de glicose no sangue de forma duradoura – condição conhecida como diabetes mellitus. Ela pode se apresentar em diversos tipos, como:

  • diabetes mellitus tipo I — o sistema imunológico ataca as células do pâncreas e impede que a pessoa produza insulina em quantidades adequadas;
  • diabetes mellitus tipo II — maus hábitos de vida (sedentarismo e má-alimentação) e a obesidade deixam as células do corpo resistentes à ação da insulina. Então, apesar de produzir insulina em quantidades suficientes, ela não é usada e o açúcar se acumula no sangue;
  • diabetes mellitus gestacional (DMG).

O que é diabetes gestacional?

Na DMG, a produção de hormônios pela placenta altera o equilíbrio hormonal para aumentar a quantidade de açúcar no sangue (progesterona, estrogênio, cortisol e prolactina) e a resistência das células maternas à ação da insulina. Isso tem o objetivo de disponibilizar mais energia para o feto.

Entretanto, em algumas mulheres predispostas, isso provoca uma doença específica da gravidez. Acredita-se que o pâncreas delas não consegue produzir insulina suficiente para lidar com a sobrecarga de glicose durante a gravidez.

Nos últimos anos, houve muita discussão sobre os critérios para diagnosticar a DMG e diferenciá-la das diabetes mellitus tipos I e II. Afinal, como saber se, na verdade, havia uma doença prévia à gestação que não foi diagnosticada?

Por que ela pode surgir?

Por isso, saber o mecanismo da DMG é tão importante. Como ela ocorre devido à produção de hormônios pela placenta, ela se intensifica à medida que essa estrutura se desenvolve.

Então, nas mulheres com níveis muito altos de glicose (maior ou igual a 126 mg/dL em jejum), a doença não deve ter relação com a gravidez, mas com uma doença prévia não diagnosticada previamente. Afinal, a placenta ainda não se desenvolveu o suficiente para causar uma grande alteração hormonal.

Após 24 semanas de gestação, a placenta já está completamente desenvolvida. Então, deve-se comparar os exames realizados no primeiro trimestre de gestação com os do segundo semestre para firmar um diagnóstico mais preciso.

Como perceber? O que fazer?

Geralmente, as gestantes não apresentam nenhum sintoma muito evidente. Na maior parte das vezes, eles são confundidos com alterações normais durante a gravidez, como urinar frequentemente e sentir muita sede. Por ser uma doença silenciosa, ela é diagnosticada nas consultas pré-natais com a avaliação de um ginecologista-obstetra experiente e a realização de todos os exames de rotina.

Quando o pré-natal não é realizado tardia ou inadequadamente, a suspeita pode vir quando as complicações já estiverem em curso, como:

  • no exame físico — ganho de peso anormal pela mãe, altura uterina muito superior à idade gestacional e hipertensão arterial;
  • na ultrassonografia — fetos muito grandes para a idade gestacional ou excesso de líquido amniótico.

Como é o diagnóstico e quais as providências?

Por mais que a gestante apresente sintomas, o diagnóstico da DMG é feito por meio de exames que medem a glicose no sangue. Idealmente, a primeira medição da glicemia após jejum deve ser feita antes das 20 semanas de gestação. Ela serve como forma de identificar:

  • gestantes com diabetes prévia e não relacionada à gestação — valor maior ou igual a 126 mg/dL;
  • gestantes em risco de desenvolvimento de DMG — valor entre 92 e 126 mg/dL;
  • gestantes sem risco atual de desenvolvimento de DMG — valor menor do que 92 mg/dL.

Nos dois últimos casos, deve-se realizar um novo exame entre 24 e 28 semanas de gestação. O melhor para o diagnóstico é o teste oral de intolerância à glicose (TOTG). A mulher fica em jejum e, no laboratório, toma 75 gramas de glicose. São feitas medidas de glicemia em jejum, na primeira hora e na terceira hora. A diabetes gestacional vai ser diagnosticada se algum dos resultados apresentar os seguintes valores:

  • jejum — 92-125 mg/dL;
  • 1 hora — ≥ 180 mg/dL;
  • 2 horas — ­≥ 153 mg/dL.

No entanto, os valores a seguir são considerados muito elevados, indicando um quadro de diabetes mellitus fora do contexto da gestação:

  • jejum — ≥ 126 mg/dL;
  • 2 horas: — ≥ 200 mg/dL

Caso o TOTG não esteja disponível, pode ser feita outra glicemia de jejum após a 24ª semana. Os resultados seriam interpretados da seguinte forma:

  • diabetes mellitus não relacionada à gestação — ≥ 126 mg/dL;
  • diabetes mellitus gestacional — entre 92 e 125 mg/dL.

No entanto, sempre que possível, o TOTG deve ser feito, pois apresenta uma taxa de detecção de DMG de 100% enquanto a da glicemia de jejum é 86%.

Após a detecção da diabetes gestacional, o ginecologista-obstetra indicará inicialmente uma dieta, acompanhada de exercícios físicos leves. Na maioria dos casos, isso controla os níveis de glicose. Caso contrário, o tratamento envolverá medicamentos e possivelmente a antecipação do parto em casos de sinais de risco para a mãe e/ou o bebê. Para o diagnóstico precoce e a prevenção dessas consequências, nunca deixe de realizar o pré-natal adequadamente com um profissional experiente e capacitado.

Quer saber como fazer um acompanhamento obstétrico seguro e ter um parto humanizado, que leva em consideração a integridade da mulher e as expectativas do casal? Confira nosso post completo sobre o tema!

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