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Depressão pós-parto: o que é e por que acontece?

Por Dra. Cristiane Pacheco

A depressão pós-parto é caracterizada pela presença de sintomas depressivos que surgem ou se intensificam no primeiro ano após o parto. O diagnóstico da depressão pós-parto é clínico, isto é, feito com base nos sintomas da paciente. Ou seja, não é necessário nenhum exame complementar, como dosagens hormonais, para confirmar esta condição.

Ela acontece devido às diversas mudanças no organismo da mulher no pós-parto, pelos desafios da maternidade, por problemas pessoais/sociais, entre vários outros motivos. Quer saber mais sobre o tema? Acompanhe!

O que é depressão pós-parto?

Brevemente, a depressão pós-parto pode ser definida como a persistência de sintomas depressivos após 45 dias após o nascimento do bebê.

O diagnóstico da depressão pós-parto

Os critérios usados para o diagnóstico são os mesmos da depressão em geral, sendo necessário que, ao menos, 5 deles estejam presentes:

  • Humor deprimido na maior parte do dia (emoções como tristeza, vazio emocional, desesperança e culpa);
  • Interesse diminuído ou abolido em atividades que davam prazer;
  • Perda de peso sem dieta e acima daquela esperada no estágio puerperal;
  • Insônia ou excesso de sono quase todos os dias. Esse sintoma deve ser avaliado com cuidado, pois mães podem ser acordadas frequentemente durante a noite e tem cansaço;
  • Agitação ou retardo psicomotor;
  • Fadiga ou perda de energia durante grande parte do dia;
  • Sensação de inutilidade, preocupação ou culta excessiva;
  • Dificuldade de concentrar;
  • Pensamentos recorrentes de morte, que vão além do medo de morrer.

Algumas pesquisas científicas mostram que o início dos sintomas da depressão pós-parto ocorre:

  • Em 20% das mulheres — antes da gestação;
  • 38% — durante a gestação;
  • 42% — após o parto.

Mulheres com um quadro depressivo anterior podem ser diagnosticadas com a depressão pós-parto quando há uma persistência dele no pós-parto. Afinal, a presença desses sintomas pode desencadear dificuldade no cuidado próprio e do bebê, o que demanda um acompanhamento médico com um olhar nesse desafio.

Em relação à depressão que se inicia após o parto, ela ocorre principalmente nos primeiros meses após o nascimento do bebê:

  • 54% no primeiro mês;
  • 40% em 2 a 4 meses;
  • 6% em 5 a 12 meses.

Depressão pós-parto e baby blues

Nem todo humor rebaixado no pós-parto significa depressão pós-parto. Há alterações que são relativamente normais. Os estudos mostram que diversas mudanças hormonais ocorrem no corpo da mulher no pós-parto. Isso tem um impacto nos neurotransmissores responsáveis pela sensação de alegria, bem-estar, medo, entre outras emoções.

Até 90% das mulheres relatam algum dos seguintes sintomas nesse período:

  • Choro inexplicável;
  • Irritabilidade;
  • Tristeza;
  • Inquietação;
  • Dificuldades para dormir.

Somado a isso, ela ainda enfrenta a adaptação aos desafios explicados anteriormente. Portanto, o puerpério é naturalmente um momento em que a mulher pode se sentir frágil e insegura.

Depressão pós-parto e baby blues

No entanto, na maior parte dos casos, esses sintomas não são patológicos. É o chamado baby blues, que é uma resposta às mudanças físicas pós-parto e aos desafios dos cuidados com o bebê. Os sintomas são mais leves e a mulher nota uma melhora gradual durante o puerpério. O baby blues dura, no máximo, 30 a 45 dias.

Contudo estima-se que, pelo menos, 9% das mulheres evoluam para um quadro de depressão pós-parto. Para identificá-la no dia a dia, ela ou pessoas próximas podem notar as seguintes alterações:

  • Humor deprimido ou alterações graves;
  • Choro excessivo;
  • Dificuldades em cuidar e se relacionar com o bebê;
  • Afastamento do parceiro, de amigos e familiares;
  • Alterações nos hábitos alimentares;
  • Dificuldades para dormir;
  • Fadiga e perda de energia;
  • Perda de interesse em atividades antes prazerosas;
  • Irritabilidade e raiva intensas;
  • Insegurança diante da maternidade;
  • Falta de esperança;
  • Sentimentos como inutilidade, vergonha, culpa ou inadequação;
  • Dificuldades de concentração;
  • Dificuldades em tomar decisões;
  • Falta de clareza;
  • Inquietação;
  • Ansiedade mais severa e ataques de pânico;
  • Pensamentos autodestrutivos ou de prejudicar o bebê;
  • Pensamentos recorrentes de morte ou suicídio.

Por que a depressão pós-parto pode acontecer?

A depressão pós-parto surge devido a múltiplos fatores tanto orgânicos quanto emocionais. Ainda não há uma explicação definitiva sobre os mecanismos que levam a depressão pós-parto. Veja alguns fatores orgânicos relacionados à condição:

  • Genética — pode haver uma relação de alguns genes com a predisposição ao desenvolvimento da depressão pós-parto;
  • Mudanças hormonais — os níveis sanguíneos de diversos hormônios se modificam no pós-parto. Por exemplo, há uma redução da progesterona e do estrogênio. Também ocorre flutuações nos níveis de cortisol (hormônio do estresse), melatonina (hormônio do sono), ocitocina (hormônio do bem-estar) e da tireoide (hormônios que regulam o metabolismo). Isso deixa as mulheres mais vulneráveis a estados depressivos;
  • Alterações nos neurotransmissores — a dopamina, a norepinefrina e a serotonina são substâncias relacionados à motivação, ao prazer e à alegria. Seus níveis são reduzidos durante o estado depressivo.

Fatores de risco para a depressão pós-parto

  • Histórico de depressão, durante a gravidez ou em outros momentos;
  • Mulheres portadoras de transtorno bipolar;
  • Mulheres que tiveram depressão pós-parto em uma gravidez anterior;
  • Mulheres com histórico pessoal ou familiar de depressão ou de outros transtornos de humor;
  • Eventos estressantes durante a gravidez;
  • Se o bebê tem problemas de saúde ou outras necessidades especiais;
  • Gravidez de múltiplos;
  • Dificuldades para amamentar;
  • Problemas de relacionamento com o parceiro;
  • Falta de apoio;
  • Quando a gravidez não é planejada ou desejada;
  • Problemas financeiros.

O que fazer se perceber sintomas da depressão pós-parto?

É muito importante que a mulher passe pelas consultas de puerpério rotineiras, que são marcadas para as primeiras semanas de pós-parto. Nelas, são feitas algumas perguntas que ajudam a rastrear aquelas com maior vulnerabilidade ao desenvolvimento da depressão pós-parto. Assim, um acompanhamento e um diagnóstico precoce podem ser realizados.

Caso ela perceba os sintomas e não tenha uma consulta marcada, também pode agendar uma avaliação com médica. Preferencialmente, mas não exclusivamente, ela deve ser feita ginecologista/obstétrica que acompanhou o pré-natal ou o parto.

Alguns sintomas, porém, exigem que ela busque um acompanhamento médico com urgência. Afinal, eles são mais graves, além de poderem colocar a mãe e o bebê em risco. Veja alguns exemplos:

  • Confusão e desorientação psicológica;
  • Pensamentos obsessivos sobre o bebê;
  • Alucinações e delírios;
  • Distúrbios do sono;
  • Agitação;
  • Paranoia;
  • Pensamentos suicidas ou de prejudicar o bebê.

Portanto, a depressão pós-parto é um quadro que merece muita atenção da mulher e do ginecologista/obstetra que acompanha o seu puerpério. Para recuperar seu bem-estar, ela precisa de um acolhimento médico humanizado. Além disso, ela precisa ser tratada para evitar complicações que coloquem em risco a si mesma e seu filho.

Quer saber mais sobre a depressão pós-parto e como é feito o acolhimento da puerpera no consultório médico? Confira este post sobre o tema!

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