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DIP

Por Dra. Cristiane Pacheco

DIP, ou doença inflamatória pélvica, é uma condição que causa a inflamação dos órgãos reprodutores femininos: útero, ovários e tubas uterinas. Na maioria das vezes ocorre quando uma bactéria sexualmente transmissível se espalha da vagina para esses órgãos.

Geralmente as mulheres com DIP não apresentam nenhum sintoma, o que a torna difícil de ser reconhecida, resultando em complicações que podem comprometer a saúde feminina, entre elas infertilidade. A dificuldade para engravidar é, inclusive, um dos principais alertas para a doença.

O que causa a doença inflamatória pélvica?

Duas infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) – gonorreia e clamídia – são apontadas como as principais causas de DIP. Após a mulher ser infectada, a DIP pode se desenvolver em alguns dias ou depois de meses.

No entanto, também pode ser causada por infecções não transmitidas sexualmente, como a vaginose bacteriana, decorrente de alterações na flora vaginal, que provoca o crescimento excessivo de bactérias presentes normalmente na vagina.

Essas bactérias, menos comumente, também podem ascender da vagina para os órgãos reprodutivos, resultando em DIP. Isso pode acontecer quando há problemas no muco cervical, substância que protege contra essa ascensão, durante a menstruação e após o parto, aborto espontâneo ou induzido.

Ela também pode acontecer durante o processo de inserção de um dispositivo intrauterino (DIU), ou pela utilização de instrumentos cirúrgicos em procedimentos intrauterinos.

Além disso, vários fatores aumentam o risco para o desenvolvimento de DIP:

  • Relação sexual desprotegida;
  • Ser sexualmente ativa;
  • Ter múltiplos parceiros sexuais;
  • Praticar sexo com pessoas que tenham múltiplos parceiros;
  • Histórico de infecções sexualmente transmissíveis;
  • Histórico de DIP;
  • Uso regular de ducha íntima.

Quais complicações a DIP pode causar?

Quando a DIP não é adequadamente tratada, pode resultar em desenvolvimento de aderências e de abscessos (bolsas com fluído infectado) nos órgãos reprodutivos, causando as seguintes complicações:

  • Infertilidade: as aderências podem interferir na liberação do óvulo pelos ovários ou a captação dele pelas tubas uterinas, impedindo, dessa forma, a fecundação (fusão do óvulo com o espermatozoide);
  • Gravidez ectópica: aderências nas tubas uterinas podem, ao mesmo tempo, impedir o trajeto do embrião formado pela fecundação até o útero, onde se fixa no endométrio, camada que reveste o órgão internamente, que vai abrigá-lo e nutri-lo até a formação da placenta. Assim, ele implanta em uma das tubas, o que pode causar a ruptura dela, resultando em hemorragia grave com risco de morte. A DIP é uma das principais causas de gravidez tubária;
  • Dor pélvica crônica: a DIP tende a causar dor pélvica crônica, com duração de meses ou mesmo de anos, e dor durante a relação sexual (dispareunia);
  • Abscesso tubo-ovariano: pode, ainda, provocar a formação de abscesso, mais frequentemente nas tubas uterinas e ovários. Abscessos não tratados levam a processos infecciosos de maior gravidade, com risco de morte.

Quais são os sintomas de DIP?

Embora a DIP seja assintomática na maioria dos casos, quando apresenta sintomas, os principais incluem:

  • Dor variando de leve a severa na parte inferior do abdômen;
  • Corrimento vaginal anormal com odor intenso;
  • Sangramento anormal, especialmente durante ou após a relação sexual, ou entre os períodos menstruais;
  • Dor durante a relação sexual (dispareunia);
  • Febre;
  • Calafrios;
  • Náuseas e vômitos;
  • Micção dolorosa, frequente ou difícil.

A manifestação de qualquer sintoma indica a necessidade de procurar auxílio médico com urgência.

Como a DIP é diagnosticada?

Não existe um exame específico para diagnosticar com precisão a doença inflamatória pélvica (DIP). O diagnóstico é definido com a associação de diferentes fatores, desde a avaliação do histórico clínico da paciente à realização de testes laboratoriais e de imagem:

  • Histórico clínico: hábitos sexuais e histórico de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) estão entre os pontos analisados, assim como os métodos de controle de natalidade ou presença de outras infecções nos órgãos reprodutores;
  • Sintomas: qualquer tipo de sintoma deverá ser informado ao médico, mesmo os menos severos;
  • Exame pélvico: durante o exame pélvico, o médico verifica alterações como sensibilidade, inchaço na região pélvica e secreções características de ISTs, por exemplo;
  • Exames de sangue e urina: são solicitados para confirmar ou descartar a presença de bactérias indicando o tipo, incluindo os agentes sexualmente transmissíveis;
  • Ultrassonografia pélvica: para verificar sinais sugestivos de infecções nos órgãos reprodutores, presença de aderências e abscessos.

Se, após a realização dos exames, ainda não houver clareza diagnóstica, avaliações complementares podem ser solicitadas:

  • Videolaparoscopia: técnica minimamente invasiva que utiliza um instrumento ótico chamado laparoscópio, que possui uma minicâmera incorporada. Ele possibilita avaliar de forma bem detalhada os órgãos reprodutores, a partir da iluminação do espaço que será avaliado e da transmissão das imagens para um monitor, acompanhadas em tempo real pelo especialista;
  • Biópsia endometrial: durante a videolaparoscopia, pode ser coletada uma amostra do tecido endometrial: a análise possibilita a confirmação da presença de infecção.

Como a DIP é tratada?

O tratamento imediato com medicamentos pode eliminar a infecção. No entanto, não reverte os danos causados pela DIP aos órgãos reprodutores.

São prescritos antibióticos de acordo com o tipo de bactéria indicada pelos exames laboratoriais: orais ou injetáveis, em dose única, ciclos curtos ou longos. Se a infecção for causada por agentes sexualmente transmissíveis, o parceiro sexual também deverá ser investigado e tratado.

Após três meses, novos exames são solicitados para confirmar a cura. Se o tratamento não for bem-sucedido, deve ser feita nova abordagem terapêutica.

Mulheres grávidas ou com infecções em estágios mais avançados podem necessitar de hospitalização. Nesse caso, geralmente a prescrição é de antibióticos intravenosos combinados aos de uso oral.

Já se houver a presença de abscessos com risco de rompimento, por outro lado, devem ser submetidas à cirurgia para drená-los. A abordagem cirúrgica é ainda indicada se aderências resultarem em obstruções e, consequentemente, infertilidade.

O uso de preservativos durante a prática sexual é fundamental para prevenir o desenvolvimento da doença inflamatória pélvica.

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