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Infecções de repetição

Por Dra. Cristiane Pacheco

As infecções que afetam a vulva e a vagina são bastante comuns, além de serem os maiores motivos de procuras por consultas ginecológicas. Conhecidas clinicamente como vulvovaginites e vaginoses, são provocadas geralmente por fungos ou bactérias presentes naturalmente na vagina, ou seja, não são transmitidas sexualmente, ainda que a relação sexual esteja entre os fatores de risco.

As duas mais frequentemente registradas são a candidíase e a vaginose bacteriana. Se não forem adequadamente tratadas, podem se tornar recorrentes, nesse caso classificadas como infecções de repetição.

Além do tratamento inadequado, alguns hábitos também aumentam o risco de recorrência.

Candidíase vulvovaginal

A candidíase é uma infecção vaginal causada quase sempre pela Candida albicans (entre 80% e 92% dos casos), um fungo que vive no intestino e no canal vaginal, embora mais raramente também possa resultar de outras espécies não albicans: glabrata, krusei, tropicalis e parapsilosis.

A Candida e bactérias vivem em equilíbrio no ambiente da vagina. Alterações no pH ou na flora vaginal podem causar a multiplicação do vírus, que penetra nas células epiteliais vulvovaginais, causando a doença.

De acordo com diferentes estudos, até 75% das mulheres podem ter pelo menos um episódio de candidíase vaginal. Em algumas, ela pode ser de repetição, assim definida quando ocorrem 4 ou mais em um ano.

A infecção pode causar sintomas como secreção, dor, coceira, irritação e inchaço, em maior ou menor intensidade. Os mais comuns são:

  • Corrimento vaginal branco e espesso sem odor e com aparência de leite talhado;
  • Coceira na vulva;
  • Coceira no interior da vagina;
  • Vermelhidão e inchaço da vulva;
  • Vermelhidão vagina;
  • Ardência ao urinar;
  • Dor durante a relação sexual.

A candidíase está associada ao uso recente ou em demasia de antibióticos, anticoncepcionais, à baixa imunidade e imunossupressores, à gravidez, doenças como o diabetes, alergias e relação sexual sem o uso de preservativos.

São ainda fatores de risco o uso frequente de biquínis molhados ou de roupas mais justas que possam impedir a oxigenação adequada, o consumo de álcool em excesso, principalmente bebidas fermentadas, como cerveja e vinho, alguns hábitos alimentares, como consumo de doces, produtos industrializados, massas e pães, ou mesmo sono inadequado, estresse e transtornos emocionais, como ansiedade e depressão.

Na gravidez, o aumento dos níveis hormonais causa maior acidez na vagina, tornando o ambiente ideal para a proliferação de fungos, ao mesmo tempo que o sistema imunológico também se torna mais frágil durante o período. Por isso, mulheres grávidas têm maior propensão para o desenvolvimento de candidíase vaginal de repetição. No entanto, a doença não representa nenhum risco para a mãe ou para o bebê.

Por outro lado, a candidíase vaginal é facilmente diagnosticada e tratada. O diagnóstico é feito a partir do exame físico, quando é possível detectar sintomas sugestivos da doença como inchaço e vermelhidão da vulva ou vagina e corrimento.

A análise das secreções pode ser necessária para identificar o tipo de fungo e definir a abordagem terapêutica mais adequada, particularmente importante quando a infecção é de repetição, pois há uma maior probabilidade de cepas não albicans também estarem envolvidas nesses casos.

O tratamento depende da gravidade e frequência e é necessário apenas em conjunto com sintomas. Geralmente é realizado pela administração de medicamentos antifúngicos, de uso tópico ou orais, que agem de forma bastante eficaz no combate à infecção.

Para mulheres com candidíase de repetição, é realizado por um período mais longo, da mesma forma que pode ser necessário um plano de manutenção. É importante seguir a orientação médica em cada caso.

Para mulheres grávidas, por outro lado, são indicados apenas medicamentos de uso tópico.

O que é vaginose bacteriana?

A vaginose bacteriana é a causa mais comum de corrimento vaginal com odor em mulheres grávidas e não grávidas.

A flora vaginal normal consiste em bactérias aeróbias e anaeróbicas, com espécies de Lactobacillus sendo os microrganismos predominantes e responsáveis ​​por mais de 95% de todas as bactérias presentes: acredita-se que forneçam defesa contra infecções, impedindo o crescimento das potencialmente causadoras de doenças, incluindo Gardnerella vaginalis, espécies Mobiluncus, Bacteroides, Prevotella e Mycoplasma.

Na vaginose bacteriana, há uma diminuição da concentração de lactobacilos e um aumento de bactérias patogênicas, em especial a Gardnerella vaginalis, presente em mais de 96% dos casos, que normalmente provoca corrimento.

Embora não exista uma causa específica para esse desequilíbrio na flora vaginal, alguns fatores podem aumentar o risco:

  • Relação sexual sem uso de preservativos;
  • Múltiplos parceiros sexuais;
  • Uso frequente de ducha vaginal;
  • Uso recente de antibióticos;
  • Tabagismo;
  • Uso de dispositivo intrauterino (DIU).

A vaginose bacteriana é assintomática na maioria dos casos. Quando apresenta sintomas, o mais comum é um corrimento acinzentado com odor intenso que geralmente piora após o sexo.

Para diagnosticar a vaginose bacteriana, além do exame pélvico, são analisadas amostras das secreções, exame conhecido como bacterioscopia de secreção vaginal, realizado pela coloração de gram, método que permite um estudo acurado das características das bactérias, da mesma forma que indica se há alterações do pH da vagina (mais ácido na vaginose) e identifica outros elementos que podem causar corrimento vaginal, como fungos.

A maioria dos laboratórios utiliza um esquema de diagnóstico que quantifica o número de lactobacilos e bactérias patogênicas, resultando em um escore que é usado para determinar se a infecção está presente. A vaginose bacteriana é diagnosticada se a pontuação for 7 ou superior.

O tratamento para a vaginose é indicado apenas se houver presença de sintomas, uma vez que, em boa parte dos casos, a população de lactobacilos na vagina se recupera naturalmente. Quando há sintomas, são administrados antibióticos, via oral ou intravaginal. A relação sexual deve ser evitada no período.

O tratamento possibilita a cura, no entanto não age diretamente nas suas causas, motivo pelo qual a taxa de recorrência é alta, classificando-a como infecção de repetição. Quando há mais do que três episódios ao ano, o tratamento é realizado por um período mais longo, de até 6 meses, geralmente com a associação de antibióticos orais e intravaginais.

A vaginose bacteriana aumenta o risco de parto prematuro, por isso, se houver risco de isso acontecer ou mulheres grávidas com histórico relacionado a vaginose, o tratamento deve ser feito independentemente de sintomas.

Além do parto prematuro, outros riscos estão associados à vaginose bacteriana, como o de contaminação por infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e desenvolvimento de doença inflamatória pélvica (DIP), que pode causar a inflamação dos órgãos reprodutores, resultando, nesse caso, em infertilidade.

Vulvovaginites também podem ser causadas por outros agentes, como o protozoário Trichomonas vaginalis, nesse caso transmitido por relação sexual desprotegida. A infecção sexualmente transmitida (IST) é conhecida como tricomoníase e é bastante comum. Quando não há sintomas, pode persistir por meses ou anos.

Se houver sintomas, por outro lado, geralmente são sinalizados por corrimento vaginal amarelado espumoso e com odor forte, inflamação da vulva e vagina, disúria (dificuldades para urinar acompanhada de dor) e dispareunia (dor durante a relação sexual). Algumas mulheres podem apresentar, ainda, manchas tipo petéquias na mucosa vaginal, conhecidas como colite macular.

O tratamento é realizado com medicamentos antiprotozoários e, nesse caso, o parceiro também deverá ser medicado para evitar a recorrência.

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Arlete

Texto muito esclarecedor e completo.

Dra. Cristiane Pacheco.

É uma alegria ajudar com o conteúdo do site, Arlete.
Obrigada.