Miomas uterinos estão entre as doenças uterinas mais frequentemente registradas na prática ginecológica. São tumores benignos formados principalmente por músculo a partir das células do miométrio, camada intermediária do útero.

Eles ocorrem em um percentual bem alto de mulheres durante a idade fértil. Podem ser únicos ou múltiplos e de diferentes tamanhos – poucos milímetros ou massas mais volumosas.

Podem se desenvolver no interior da cavidade uterina (submucosos), no miométrio, (intramurais), ou na superfície do útero (subserosos).

Geralmente são mais prevalentes em mulheres negras do que em brancas e, embora sejam quase sempre assintomáticos, de acordo com o local de desenvolvimento, podem causar sintomas, impactando a qualidade de vida das mulheres portadoras, incluindo infertilidade, aumento do volume uterino, sangramento abundante e cólicas severas.

Entenda por que os miomas se desenvolvem

A causa exata que provoca o crescimento de miomas ainda permanece desconhecida. Porém, ao mesmo tempo que é consenso na literatura médica o fato de eles serem formados a partir de uma única célula do miométrio, que se multiplica e cresce originando-os, diferentes estudos sugerem fatores que podem estimular esse crescimento.

Miomas são dependentes de estrogênio, por isso o desenvolvimento deles pode ser estimulado pela ação do hormônio, da mesma forma que eles tendem a retroceder após a menopausa, quando os níveis naturalmente diminuem.

Genética, menarca precoce, nuliparidade, obesidade e estilo de vida também contribuem. As chances de desenvolver miomas são maiores quando há casos de familiares de primeiro grau, como mãe ou irmãs, assim como para mulheres que menstruaram precocemente (menarca precoce) ou nunca tiveram filhos (nuliparidade).

A prevalência de miomas em mulheres obesas também é bastante alta: cerca de 20% dos casos, além de serem associados a alguns hábitos, incluindo o consumo excessivo de álcool, de cafeína e de alimentos como carne vermelha.

Tipos de miomas e sintomas que eles podem apresentar

Quando os miomas apresentam sintomas, eles ocorrem de acordo com a localização no útero, mesmo critério utilizado para a classificação deles. Já para determinar os riscos que eles podem provocar na fertilidade, são considerados, ainda, dimensão, quantidade e a comunicação entre as diferentes camadas uterinas.

Saiba mais sobre os três tipos de miomas:

• Miomas submucosos: crescem pressionando o endométrio, camada que reveste internamente o útero, na qual o embrião se fixa até a placenta ser formada, ou mesmo invadem o útero. Assim, podem dificultar a implantação, levando a falhas ou ao abortamento. Quando crescem próximos às tubas uterinas, podem provocar obstrução, dificultando ou impedindo a fecundação. Os miomas submucosos estão associados ao aumento excessivo do fluxo menstrual com cólicas severas e, quando se estendem para o interior do útero, são chamados intracavitários, resultando em complicações na gravidez, como parto prematuro, descolamento da placenta e hemorragia pós-parto. No entanto, são o tipo mais raro.
• Miomas intramurais: crescem no miométrio e podem ter poucos milímetros ou vários centímetros. Em tamanhos maiores, tendem a causar distorção na anatomia uterina, dificultando o desenvolvimento ou sustentação da gravidez. Sangramento abundante, com cólicas severas, pode ocorrer em alguns casos, da mesma forma que pode haver interferência no processo de implantação.
• Miomas subserosos: crescem na camada serosa e externa do útero. Como possuem mais espaço, podem atingir dimensões bem maiores, causando inchaço abdominal, a compressão da bexiga, resultando em micção frequente e urgente, ou do intestino, provocando constipação. Esse tipo de mioma, entretanto, geralmente não interfere na fertilidade ou na gravidez, embora isso possa ocorrer.

Alguns miomas crescem com uma haste, chamadas de pedículos, que prendem os miomas ao endométrio. Esses miomas são chamados pediculados e podem causar bastante dor, se houver torção da haste.

Métodos para diagnosticar miomas uterinos

Miomas podem ser diagnosticados por diferentes exames de imagem. Eles possibilitam identificar a localização e determinar quantidade e tamanho, critérios que orientam a abordagem terapêutica mais adequada para cada paciente.

Os principais são:

• Ultrassonografia transvaginal: possibilita identificar os miomas localizados no endométrio, a partir da utilização de um aparelho de ultrassom inserido pela vagina, que gera imagens em 3D e 4D transmitidas para um monitor;
• Histerossonografia: uma variação da ultrassonografia realizada com soro fisiológico para expandir a cavidade uterina. Assim, também possibilita a visualização de miomas intramurais, além dos miomas submucosos;
• Histerossalpingografia: exame de raio-X com contraste iodado para realçar a cavidade uterina, realizado por uma técnica conhecida como fluoroscopia, que possibilita a visualização dos órgãos em movimento em vez de imagens estáticas. É particularmente indicado se houver problemas de fertilidade;
• Vídeo-histeroscopia ambulatorial: técnica minimamente invasiva realizada com a utilização de um aparelho chamado histeroscópio, que possui uma câmera acoplada que possibilita a transmissão do procedimento em tempo real por um monitor. Identifica principalmente os miomas submucosos, determinando com precisão localização e tamanhos;
• A ressonância magnética (RM): também identifica os diferentes tipos de miomas, determinando com exatidão critérios como localização e tamanho.

Quando os miomas provocam sangramento abundante, é realizado exame de sangue para confirmar a possibilidade de anemia. A abordagem terapêutica mais adequada para cada paciente é definida com base nos resultados diagnósticos.

Tratamento de miomas uterinos

O tratamento é indicado apenas quando os miomas provocam sintomas ou interferem na fertilidade. Se forem assintomáticos, a recomendação é a observação periódica. Pode ser farmacológico, não cirúrgico ou cirúrgico:

• Tratamento farmacológico: são administrados medicamentos hormonais para reduzir o tamanho dos miomas e aliviar os sintomas. Porém, embora seja um recurso importante quando há a tentativa de engravidar, os miomas tendem a retornar ao tamanho original quando o tratamento é interrompido;
• Tratamentos não cirúrgicos: existem dois tratamentos não cirúrgicos: a ultrassonografia focada guiada por MRI e a embolização da artéria uterina. O primeiro é um método que utiliza ondas de ultrassom para provocar uma necrose coagulante nos miomas, enquanto o segundo prevê a injeção de substâncias para obstruir o fluxo sanguíneo que alimenta os miomas, causando, assim, a redução deles.
• Tratamento cirúrgico: é indicado quando os miomas causam alterações na fertilidade e anormalidade uterina ou se os sintomas forem mais severos. O procedimento é chamado miomectomia e pode ser realizado por vídeo-histeroscopia cirúrgica ou por videolaparoscopia, de acordo com cada caso.

Mulheres com sintomas mais graves que não desejam engravidar podem, ainda, optar pela remoção do útero, com ou sem a manutenção dos ovários, procedimento chamado histerectomia.