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Incompetência istmocervical: o que é? Pode afetar a gestação?

Por Dra. Cristiane Pacheco

O colo uterino é a estrutura que contém o canal que liga o útero à vagina, sendo fundamental para a manutenção das gestações à medida que elas evoluem. Sua parede é formada por músculo liso e tecido conjuntivo, que dão ao colo a capacidade de se contrair e se dilatar.

Nas fases iniciais da gestação, o colo está rígido e fortemente contraído para evitar a saída do feto. No segundo trimestre, ele tem um formato de tubo com mais de 3 centímetros e está minimamente dilatado. À medida que o parto se aproxima, no terceiro trimestre, ele passa por mudanças, tornando-se mole e curto, além de se dilatar.

A incompetência istmocervical é uma condição na qual o colo uterino tem dificuldade de manter a gestação no segundo trimestre devido a fatores estruturais. Em outras palavras, as suas fibras do tecido conjuntivo e de músculo liso estão mais fracas.

Assim, ele não consegue manter o colo do útero fechado durante a gravidez, permitindo que o canal se abra precocemente na gestação. Isso pode causar complicações, como o parto prematuro e o aborto espontâneo tardio.

Quer saber mais sobre o tema? Acompanhe nosso post!

O que é incompetência istmocervical?

Tecnicamente, a incompetência istmocervical é “a incapacidade do colo uterino de reter uma gravidez no segundo trimestre na ausência de contrações clínicas, trabalho de parto ou ambos”. Em outras palavras, a condição é diagnosticada quando seu obstetra identifica:

  • dilatação cervical ou colo curto ainda no segundo trimestre de gestação;
  • essas alterações não são acompanhadas de sinais ou sintomas de parto (como contrações uterinas em padrão de parto);
  • ausência de sintomas de infecções e outras condições não estruturais.

Quando a insuficiência cervical se manifesta, os sintomas mais comuns são um desconforto pélvico leve ou o spotting, presença de pequenas manchas de sangue nas roupas íntimas.

Outros sintomas menos comuns são:

  • sensação de pressão na região da pelve;
  • cólicas abdominais leves;
  • alteração nas características e no volume do corrimento vaginal.

Esses sintomas, no entanto, são incomuns. Além disso, estão presentes em diversas outras condições obstétricas. Por esse motivo, o diagnóstico é comumente feito nas ultrassonografias periódicas e nas consultas clínicas de pré-natal — em que o ginecologista realiza um exame físico completo.

Fatores de risco

Em relação aos fatores de risco, é sempre importante lembrar que a existência de um deles não significa que você terá a condição. Na verdade, a maioria das mulheres com fatores de risco não desenvolvem a incompetência istmocervical.

O trauma cervical, por lesionar o tecido conjuntivo, pode aumentar as chances de insuficiência. Ele pode ocorrer em alguns procedimentos invasivos, como:

  • biópsia em cone;
  • qualquer procedimento que requeira dilatação cervical mecânica, como a curetagem;
  • histeroscopia cirúrgica.

Eles podem enfraquecer o tecido conjuntivo cervical e prejudicar a funcionalidade do órgão. Outros fatores estão relacionados ao histórico gestacional, como:

  • parto prematuro anterior, que pode ter ocorrido devido a uma incompetência istmocervical não identificada;
  • ruptura prematura de membranas anterior a 32 semanas de gestação;
  • gravidez anterior com medida do comprimento cervical menor do que 25 mm antes de 27 semanas de gestação;
  • perdas recorrentes de gravidez no segundo trimestre.

Alguns estudos ainda identificaram alguns fatores congênitos, como:

  • anomalias müllerianas;
  • deficiências cervicais de colágeno e elastina, como a síndrome de Ehlers-Danlos.

No entanto, a incompetência istmocervical pode acontecer em mulheres sem nenhum fator de risco conhecido.

Por que e quando a insuficiência cervical é avaliada?

A avaliação da incompetência istmocervical é importante, pois essa condição é um fator de risco para parto prematuro. O diagnóstico pode ser feito com critérios clínicos (história prévia e sintomas atuais), que podem ser associados à realização de uma ultrassonografia transvaginal. Seu médico estará atento a duas informações principais:

  • história de dilatação precoce do colo uterino no segundo trimestre em uma gestação prévia;
  • histórico de trabalho de parto prematuro ou abortamento no segundo semestre de gestação.

No exame físico, o seu médico poderá realizar o toque vaginal para estimar a espessura cervical e o tamanho de uma eventual dilatação. O exame especular também é fundamental, pois permite a inspeção visual para verificar se há abertura do colo. Seu médico pode ainda fazer manobras para estimular a abertura do colo e identificar sinais precoces da condição.

Além disso, a investigação complementar da incompetência istmocervical é feita com a medição do colo nas ultrassonografias de segundo trimestre, que podem trazer as seguintes alterações:

  • em gestações com apenas um feto (única) — comprimento cervical menor do que 2,5 centímetros (25 milímetros) antes das 24 semanas de idade gestacional;
  • em gestações múltiplas (mais de um feto) — dilação maior do que 1,0 centímetro antes das 24 semanas.

Além disso, as alterações ultrassonográficas devem estar associadas à história de perda gestacional entre 14 e 36 semanas em uma gravidez anterior. Portanto, apenas uma ultrassonografia alterada não é suficiente para o diagnóstico. A avaliação clínica é fundamental.

O tratamento para a incompetência istmocervical depende da avaliação de diversos fatores individuais. Em alguns casos, apenas fazemos um acompanhamento mais próximo da gestante. Em outros, podemos indicar intervenções, como a aplicação de progesterona vaginal e a cerclagem (um procedimento pouco invasivo).

Quer saber mais sobre o pré-natal e quais são os exames realizados em cada fase? Confira nosso artigo sobre o tema!

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