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ISTs na gestação: quais são os cuidados que precisamos ter?

Por Dra. Cristiane Pacheco

As infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) oferecem diversos riscos em todas as fases da gestação, desde o planejamento até o pós-parto. Nas fases iniciais da gestação, algumas ISTs podem causar malformações fetais. 

À medida que a gestação evolui, algumas também podem predispor a abortamentos, a partos prematuros e a complicações gestacionais (como ruptura prematura das membranas). No parto e no pós-parto, podem ser transmitidas para o feto, causando problemas que podem se tornar crônicos.

Essas questões afetam tanto mulheres que contraíram a doença antes da gestação quanto depois. Por isso, é fundamental falar sobre a prevenção das ISTs durante a gestação. Afinal, como não há mais risco de engravidar, algumas mulheres podem negligenciar a importância do uso de preservativos e realizar relações sexuais desprotegidas. No entanto, essa é uma medida fundamental para uma gestação saudável.

O que são ISTs?

Infecções sexualmente transmissíveis, as ISTs, são condições causadas por microrganismos (como vírus, bactérias e fungos), que se caracterizam pelo fato de poderem ser transmitidas durante as relações sexuais orais, genitais e anais. A transmissão pode ocorrer por:

  • Contato com fluidos sexuais (sêmen e corrimento vaginal);
  • Contato pele a pele;
  • Contaminação por solução de continuidade devido a lesões visíveis ou microscópicas que ocorrem durante a relação sexual.

Com isso, os preservativos (camisinhas) são o único método de prevenção. 

As ISTs podem causar quadros sintomáticos ou assintomáticos. Ou seja, a pessoa está infectada pelo microrganismo, mas não sabe. Entretanto, mesmo assim, esses microrganismos podem causar danos silenciosos nos órgãos maternos e fetais.

Quais ISTs oferecem mais risco durante a gestação?

A seguir, você poderá entender a transmissão, as complicações e o tratamento das principais ISTs que podem prejudicar as gestações:

Sífilis

É uma infecção causada por uma bactéria, sendo transmitida pelo contato com fluidos e com a pele contaminada. A sífilis pode permanecer pouco sintomática ou assintomática por vários anos. Na gestação, a espiroqueta pode conseguir passar pela placenta e infectar o bebê, mesmo nesses casos. 

A transmissão congênita aumenta o risco de complicações, como abortamento espontâneo, natimortalidade e parto prematuro. Além disso, quando adquirida antes ou no primeiro trimestre de gestação, ela pode causar a síndrome da sífilis congênita no feto, que é caracterizada por deformações ósseas, surdez e problemas neurológicos.

O tratamento é feito com penicilina, que é altamente eficaz para combater a sífilis. Contudo, o tratamento não reverte os danos já causados nos órgãos e estruturas da mãe e do bebê.

HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana)

A infecção pelo HIV, quando não tratada, leva à síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), que é potencialmente fatal. É uma infecção que permanece assintomática por vários anos, mas pode ser transmitida para o bebê, especialmente no parto e na amamentação.

A infecção pelo HIV é tratada com terapia antirretroviral, que controla a multiplicação do vírus, mas não cura a infecção. Seu uso durante a gravidez pode reduzir a transmissão congênita para 1% das gestações. Além disso, é preciso que o parto seja uma cesárea e a mulher não pode amamentar, pois o vírus infecta o leite materno.

Hepatite B (HBV)

Trata-se de uma infecção que também é assintomática por muito tempo, mas que pode ser transmitida para o bebê durante o parto. No pós-parto, pode causar comprometimento grave do fígado com complicações, como cirrose e câncer de fígado, que são potencialmente fatais.

O tratamento da mãe é feito com antivirais. Caso seja identificada, o bebê deve receber vacinação imediata e “soro” com anticorpos contra o vírus da hepatite B. 

Herpes genital

Transmitida facilmente pelo contato pele a pele nas relações sexuais, a herpes genital causa lesões bolhosas na região genital. Se a doença estiver ativa durante o parto normal, o bebê pode apresentar herpes neonatal, uma infecção grave que causa danos neurológicos. Com isso, pode levar ao óbito, além de poder provocar déficits cognitivos e motores crônicos nos sobreviventes.

Gonorreia

É uma infecção causada por uma bactéria, sendo geralmente assintomática. Ela oferece os seguintes riscos quando contraída anteriormente ou durante a gestação:

  • Conjuntivite neonatal: quando a infecção é transmitida pelo parto, o bebê pode apresentar um quadro de infecção grave nos olhos, a qual pode resultar em cegueira;
  • Abortamento espontâneo;
  • Parto prematuro;
  • Baixo peso ao nascer.

O tratamento da mãe e do bebê é feito com antibióticos.

Clamídia

Também é uma infecção bacteriana frequentemente assintomática. Ela pode causar a doença inflamatória pélvica e complicações gestacionais, como:

  • Parto prematuro;
  • Baixo peso ao nascer;
  • Além disso, pode ser transmitida ao bebê durante o parto, causando conjuntivite neonatal e pneumonia.

O tratamento também é feito com antibióticos.

Sintomas que merecem atenção especial durante a gestação

Como vimos, a maior parte das ISTs pode ser assintomática durante a gestação. Ou seja, podem causar danos para o bebê sem que você note nenhum sintoma. Por isso, é muito mais importante prevenir do que esperar que algum sintoma chame a atenção da paciente. 

A prevenção é feita primariamente com o uso de preservativos nas relações sexuais. Secundariamente, a prevenção envolve identificar a doença precocemente com a testagem rotineira de ISTs no pré-natal.

Mesmo assim, não deixe de consultar o seu obstetra o quanto antes caso tenha sintomas, como:

  • Nódulos na região genital ou anal, mesmo que eles não sejam dolorosos. A sífilis pode aparecer como um pequeno “caroço” que não causa dor;
  • Bolhas;
  • Corrimento vaginal anormal (com cheiro, consistência ou cor diferente da habitual durante a gestação);
  • Sangramento vaginal durante a gestação.

Diagnóstico e importância do pré-natal

O diagnóstico e o tratamento precoces são fundamentais para evitar diversas complicações. Em geral, o diagnóstico é feito pelos sintomas ou pelo rastreio de rotina. As consequências das ISTs durante a gestação podem ser tão graves que, na rotina de pré-natal, a mulher passa pela testagem de diversas ISTs em todos os trimestres de gestação. 

Ainda que muitas ISTs sejam tratáveis, elas podem comprometer gravemente a saúde do bebê, com sequelas que permanecem por toda vida. Portanto, a prevenção com o uso de preservativos nas relações sexuais é fundamental e não deve ser negligenciada, mesmo que você tenha uma parceria fixa.

Quer saber mais sobre o pré-natal e os exames realizados em cada trimestre? Toque aqui!

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