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Parto natural: o que é e como é feito?

Por Dra. Cristiane Pacheco

Afinal, o que é o parto natural? A medicina evoluiu muito com os desenvolvimentos farmacológicos e cirúrgicos feitos nas últimas décadas. Eles trouxeram grandes avanços sociais, como queda das taxas de mortalidade de várias condições e o aumento da expectativa de vida.

Devido ao otimismo gerado, ela passou a ter um papel cada vez maior no cotidiano, — que nem sempre é benéfico. Por isso, é necessário falar sobre o parto natural.

A cada dia, descobrimos mais efeitos negativos dos excessos de intervenção médica, um processo que chamamos de medicalização da vida. Por isso, a medicina intervencionista precisa ter seu espaço redimensionado para que possamos recuperar a dimensão humana do cuidado com a saúde.

Afinal, as intervenções médicas fora de critérios estabelecidos cientificamente podem prejudicar mais do que ajudar. Quer entender melhor? Acompanhe!

O que é o parto natural?

Na obstetrícia, vemos muito isso. Por exemplo, o processo espontâneo de parto natural começou a ser temido pelas mulheres devido ao medo da dor. Assim, partos vaginais assistidos e cesarianas se tornaram uma regra, em vez da exceção. Uma experiência natural e benéfica perdeu seu sentido original e passou a ser vista como algo que precisa ser remediado. Com isso, surgem também vários riscos.

O parto natural é aquele que ocorre sem nenhuma intervenção médica artificial: nenhum procedimento invasivo e nenhum medicamento é utilizado. O processo apenas pode ser facilitado por manobras manuais, posições especiais e pela movimentação da gestante.

Como ele é feito?

O parto é um fenômeno complexo, que envolve questões físicas, psicológicas, sociais e culturais.

  • pré-natal — todas as condições da gestante e do feto são avaliadas para planejar um parto natural seguro;
  • preparação emocional — o obstetra vai trabalhar estratégias de enfrentamento psíquico da dor. A sensação física é inevitável, mas o sofrimento causado por ela pode ser reduzido com algumas estratégias, como a aceitação;
  • um plano de parto — no qual a mulher expressa todas as suas vontades e expectativas para o momento. A equipe obstétrica deverá respeitá-lo;
  • ambientação da sala de parto — toda a atmosfera do local de parto será preparada com iluminação, temperatura e sons que reduzem a ansiedade do momento;
  • medidas e manobras físicas — a facilitação do parto é feita com os mecanismos naturais do corpo, os movimentos e a respiração;
  • protagonismo da mulher — grande parte das manobras serão feitas pela própria gestante. Mesmo que manual, a intervenção da equipe de assistência será mínima.

Diferenças entre o parto normal e o parto natural

O parto normal é um conceito mais amplo, que abrange todo o nascimento pela via vaginal. Apesar de ser muito benéfico, algumas intervenções artificiais ainda podem ser feitas nele, aumentando os riscos de eventos adversos (em curto e longo prazo). Portanto, não podemos confundir o parto natural com algumas modalidades de parto normal, como:

Parto normal intervencionista (ou assistido)

O intervencionista ocorre quando há ações artificiais, como indução por medicamentos, anestesia, analgesia, episiotomia, entre tantas outras. Mesmo a administração de medicamentos seguros e muito utilizados, como o dipirona e o paracetamol, potencialmente interferem nos complexos mecanismos do parto.

Parto normal induzido

O parto é resultado de uma série de processos fisiológicos, como as contrações do útero acompanhadas da abertura e do afinamento do colo uterino. Esses fenômenos desencadeiam e são desencadeados por complexas alterações químicas e estruturas no organismo. Elas podem acontecer naturalmente (parto espontâneo) ou serem provocadas por médicos (parto induzido).

Portanto, parto normal não é sinônimo espontâneo ou natural. Afinal, também pode ser induzido e intervencionista. Por sua vez, todo o parto natural deve ser normal e espontâneo, conduzido exclusivamente pelos mecanismos próprios do corpo da mulher.

Quais os riscos dos partos assistidos?

Muitas mulheres acreditam que apenas a cesariana é um risco, mas outros tipos de assistência intervencionista ao parto normal também são. As consequências negativas podem ser desencadeadas mesmo em tratamentos seguros habitualmente, como o controle da dor com analgésicos.

Assistência por procedimentos invasivos

Há um significativo aumento de risco às seguintes complicações:

  • lesão nos músculos anais devido à episiotomia, à extração a vácuo ou a fórceps;
  • hemorragias e necessidade de transfusão de sangue;
  • infecções locais, pélvicas e intrauterinas;
  • dor vaginal intensa;
  • experiência negativa no parto;
  • disfunções intestinais pós-parto;
  • incontinência urinária;
  • incontinência fecal;
  • hemorroidas;
  • disfunções sexuais;
  • transtorno do estresse pós-traumático.

No bebê, podem ocorrer lesões cerebrais (baixo risco) ou na face (risco moderado).

Assistência medicamentosa

Apesar de ser muito segura, a anestesia pode causar complicações maternas (pressão baixa e dor de cabeça) e alterar o comportamento dos bebês (irritação e menor responsividade à mãe) no primeiro mês de vida.

Benefícios do parto natural

Durante o parto natural, ocorre a liberação de endorfina, um neurotransmissor relacionado ao controle da dor e à sensação de bem-estar. Por isso, quando olham para trás, muitas mulheres relatam que não mudariam sua escolha para um parto cirúrgico. Já os bebês se tornam mais responsivos à conexão com a mãe e menos irritados nos primeiros meses de vida.

Além disso, os estudos que comparam o parto natural com a cesariana e os normais intervencionistas mostram que eles apresentam:

  • riscos aumentados de endometrite, necessidade de transfusão e pneumonia;
  • um maior tempo de internação;
  • uma maior chance re-hospitalização no período de recuperação do parto.

Hoje em dia, sabemos que uma menor intervenção médica é mais vantajosa para a mãe e para o recém-nascido. Afinal, interferimos em algum ponto do complexo equilíbrio corporal. Portanto, o parto natural é uma tendência com cada vez mais aceitação pelas mulheres, pois está baseada nas melhores evidências científicas e permite uma vivência dos sentidos do nascer.

Quer saber mais sobre o parto natural e o seu planejamento? Então, não deixe de conferir este nosso post completo sobre o tema?

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