Episiotomia é um procedimento cirúrgico que prevê uma incisão no períneo, região entre a vagina e o ânus, para facilitar a passagem do bebê durante o parto normal.

Embora seja importante para evitar lacerações graves nessa região em partos normais, deve ser realizada em situações bastante específicas e não de forma rotineira, como foi adotada durante muitas décadas.

O questionamento sobre os benefícios da episiotomia usada como rotina durante o parto normal, como para evitar a incidência de lacerações, foi apontado por diferentes estudos ainda no final do século XX, na década de 1990.

Eles destacaram, por exemplo, que nesse contexto o procedimento provoca, ao contrário, mais riscos de complicações, além de dificultar a recuperação. Os principais órgãos de saúde no mundo todo, incluindo a Organização Mundial da Saúde (OMS), passaram, então, a recomendar uma nova abordagem para a aplicação da técnica.

A abordagem atual da episiotomia

A episiotomia é indicada atualmente principalmente quando há risco de laceração grave nessa área ou nos casos em que é necessário antecipar o nascimento por complicações, como:

• Bebês acima de 4 kg: bebês macrossômicos (muito grandes) podem causar graves lacerações no momento da saída, resultando no rompimento do tecido perineal, atingindo, em muitos casos, o esfíncter anal – estrutura muscular que contorna o ânus –, causando incontinência fecal;
• Distócia do ombro: quando o ombro do bebê fica preso atrás do osso pélvico, apesar de controvérsias, já que o problema é de impacto ósseo e não de partes moles;
• Frequência cardíaca do bebê: quando o bebê tem um padrão anormal de frequência cardíaca durante o parto e precisa apressar sua saída;
• Posições anormais do bebê: quando o bebê está em posições anormais, como a pélvica (sentado), pode haver necessidade de aumentar o trajeto;
• Uso do fórceps: quando complicações no trabalho de parto tornam necessário o uso do fórceps, usado para guiar o bebê para fora do canal vaginal.

Não havendo essas situações, a episiotomia não oferece benefícios, apenas riscos ao parto, tanto para a mãe quanto para o bebê.

Forma de realizar a episiotomia

Para realizar a episiotomia, o local é anestesiado, mesmo nos casos em que a mulher já recebeu algum tipo de analgesia. Podem ser feitos dois tipos de incisão:

• Incisão na linha média: feita verticalmente. Esse tipo de incisão é mais fácil de reparar, no entanto, apresenta maior risco de extensão para região anal;
• Incisão mediolateral: feita em ângulo. Esse tipo de incisão oferece melhor proteção contra uma ruptura prolongada que afeta a área anal, mas geralmente é mais dolorosa e mais difícil de reparar. Essa é ainda a mais ensinada no Brasil.

Em todos os casos, entretanto, a recuperação pode ser desconfortável. Durante o período de cicatrização, é fundamental higienizar a região diariamente com água e sabão e mantê-la seca após o processo. Analgésicos podem ser prescritos para diminuir a dor, assim como outras ações podem ajudar a aliviar o desconforto, entre elas a aplicação de gelo no local.

Riscos da episiotomia

Ainda que a episiotomia seja um procedimento simples, quando a incisão é feita de forma incorreta pode causar hematomas, dor e infecção.

Por outro lado, se for feita da linha média, há maior risco de laceração vaginal grave, que se estende pelo esfíncter anal. A incontinência fecal é uma possível complicação.

Dor de maior intensidade, febre e secreção no local podem sinalizar infecção e indicam a necessidade de procurar auxílio médico com urgência.

Desconforto e dor durante a relação sexual nos meses seguintes ao procedimento estão, ainda, entre as possíveis consequências provocadas pelo procedimento.

Procure informar-se com seu obstetra sobre a episiotomia nas consultas iniciais. É importante manifestar seu desejo sobre a realização do procedimento, deixando clara a permissão apenas em situações que possam oferecer riscos à sua saúde ou à do seu bebê.

O parto, a humanização e a medicina

Todos os recursos que a medicina oferece para o momento do parto podem ser bem indicados, dependendo da situação. A dificuldade está em compreender que nenhum desses instrumentos devem ser aplicados como rotina, sem permissão ou conhecimento da parturiente. Isso pode caracterizar violência obstétrica e deve ser combatida.

É fundamental que as mulheres se informem, leiam, compreendam tudo o que envolve o nascimento de um bebê. Assim podem se prevenir de problemas sérios, tanto para si mesmas como para seus filhos.

As escolhas do parto não são apenas uma questão de conduta. Elas devem ser baseadas em ciência, em evidências, para que tenham um bom desfecho. Tudo deve estar a serviço da mulher, para que ela tenha uma experiência única e o mais prazerosa possível. O parto pode ser visto como um momento feliz e prazeroso, mas requer preparação e informação relevante. É um momento marcante na vida de qualquer mulher.