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Por que humanizar o parto?

Por Dra. Cristiane Pacheco

Humanizar o parto é uma necessidade no cenário obstétrico brasileiro atualmente. Idealmente, esse assunto não deveria sequer ser um tema discutido, pois todo o parto deveria seguir os princípios da medicina humanizada. Contudo, no Brasil, a violência obstétrica se tornou uma epidemia, tornando necessária uma discussão permanente e a conscientização das gestantes sobre o tema.

A humanização do parto, portanto, surge em um contexto em que a violência obstétrica se tornou um grande problema de saúde pública. Muitas mulheres têm sua autonomia e integridade física/psíquica comprometida durante o parto, além de serem submetidas a procedimentos considerados desnecessários em muitos casos pelas atuais evidências científicas.

Dentro do parto humanizado, a gestante recupera o seu protagonismo e os sentidos originais do nascer ganham destaque. Por esse motivo, neste texto vamos explicar para as gestantes quais são os princípios do parto humanizado e a sua importância para elas. Ficou interessada? Acompanhe até o final!

O que é um parto humanizado?

Para compreender o parto humanizado, você deve entender também o que é a humanização que deve ser aplicada em toda e qualquer especialidade.

  • Autonomia do paciente: com exceção de situações de urgência e emergência de riscos contra a vida, o médico deve respeitar as decisões dos pacientes sobre o próprio corpo;
  • Beneficência: o profissional deve buscar empregar os tratamentos com maior benefício para os seus pacientes;
  • Não-maleficência: as decisões médicas devem buscar o menor risco de danos para a saúde do paciente;
  • Exercício da medicina em prol da saúde do ser humano e da coletividade: a medicina não deve ser vista como um comércio. O foco das equipes deve ser a saúde das pessoas, e não a produtividade ou os lucros;
  • Medicina baseada em evidências: o médico tem o dever de se aprimorar continuamente e “usar o melhor do progresso científico em benefício do paciente”.

Todos esses princípios estão expressos no Código de Ética Médica. Entretanto, nos partos, veremos que eles frequentemente eram desrespeitados em ações de violência obstétrica, como:

  • Ofensas e humilhações à gestante;
  • Proibição de um acompanhante para a gestante durante o parto;
  • Realização de episiotomias, induções de parto e outras intervenções em situações desnecessárias;
  • Dificultar o contato da gestante com o bebê logo após o parto;
  • Desrespeito às complexas emoções que a gestante tem durante o nascimento.

Por isso, foram desenvolvidos alguns “humanizar o parto” para deixar claros como os princípios da medicina humanizada se aplicam também nesse momento. Eles são:

  • Protagonismo da mulher, que tem direito a decidir sobre as ações do parto e sua ambientação, desde que não coloque em risco a própria saúde ou a do bebê;
  • Individualidade biopsicossocial, em que a gestação é vista como o momento de diversos indivíduos dentro das especificidades anatômicas, fisiológicas, patológicas, culturais, sociais, familiares e econômicas;
  • Utilização da medicina baseada em evidências aplicada individualmente a cada caso, tendo em vista dos riscos e benefícios dos atos médicos.

Por que é fundamental humanizar o parto?

Nesse sentido, a seguir faremos um comparativo de como um parto é conduzido dentro dos princípios da humanização e de quais ações podem desumanizá-lo.

Recuperar os sentidos do nascer

No parto humanizado, o nascer é visto como um momento de vínculo e de memórias entre pessoas, com foco especial no vínculo da mãe com o bebê.

O parto é visto como um procedimento médico hospitalar, reduzido à sua técnica, não sendo planejado para criar memórias e momentos para o fortalecimento dos vínculos.

Ações para humanizar o parto Ações que podem desumanizar o parto
Compartilhar as decisões médicas com a gestante ou explicar detalhadamente eventuais procedimentos de urgência;

Criar um ambiente de acolhimento e de memórias positivas;

Oferecer um contato precoce da gestante com o bebê, preferencialmente pele a pele quando possível.

Negar a presença de um acompanhante;

Adiar o contato da mãe com o bebê sem uma justificativa médica;

Deixar a gestante alheia ao que está ocorrendo no processo de parto.

 

 

Devolver o protagonismo da mulher

A mulher é a grande protagonista do parto. Todas as ações são pensadas para garantir seu bem-estar e, sempre que possível, as decisões são tomadas por ela. Já a desumanização pode ocorrer quando a equipe de saúde e o médico se veem como as figuras centrais do parto.

Ações para humanizar o parto Ações que podem desumanizar o parto
Respeito às decisões da parturiente quando não houver risco à saúde dela ou de seu bebê;

Ter uma excelente comunicação com a gestante;

Integrar a gestante à equipe de saúde para que ela se sinta acolhida em todos os momentos.

O médico toma as decisões sem consultar a gestante ou mesmo explicar suas ações e seus potenciais impactos;

Procedimentos são realizados sem avaliar as complicações que eles podem trazer para a mulher desde o momento imediato até o longo prazo (como sequelas funcionais);

Não há uma boa comunicação da equipe com a gestante. Em alguns casos, a paciente pode ser inclusive hostilizada, ofendida ou humilhada pelos profissionais.

 

 

Buscar a individualização do parto

O parto deve ser planejado levando em consideração todo o contexto da vida da gestante, tendo em vista suas características:

  • Biológicas: doenças preexistentes, histórico familiar de doenças, complicações gestacionais atuais ou anteriores, a anatomia de cada corpo, assim como a posição, a apresentação e outras características atuais da gestação;
  • Psíquicas: as emoções, as sensações, os sentimentos e os sentidos da gestante, assim como seus hábitos de vida e as suas expectativas em relação à gestação;
  • Social: cultura, religião, condições financeiras, relação com a família.

Dentro deste princípio, ações que reduzem a mulher e o bebê a seu corpo, sem considerar toda a complexidade humana, desumanizam o parto.

Ações para humanizar o parto Ações que podem desumanizar o parto
Fazer um bom pré-natal;

Elaboração de um plano de parto;

Avaliar as condições emocionais da gestante durante o parto;

Respeitar as crenças da mulher.

Não oferecer à gestante um pré-natal adequado;

O médico não levar em consideração todas as informações colhidas no pré-natal ou as escolhas feitas no plano de parto;

A equipe ou o médico insistirem em um tipo de parto ou de procedimento que podem provocar danos ou piorar as condições de saúde da gestante;

Realizar procedimentos que ofendem a cultura ou a religião da mulher.

 

É importante ressaltar que não existe escolha por um parto humanizado ou não-humanizado. Pela lei e pelas normas da medicina, humanizar o parto é um dever do médico. Nesse sentido, os seus princípios devem estar presentes em todos os tipos de parto seja ele natural, normal ou cesariana.

Quer saber mais sobre o tema? Confira este texto bem completo!

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