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Trabalhando os cinco sentidos no parto

Por Dra. Cristiane Pacheco

Trabalhando os 5 sentidos no parto, trazemos mais humanização ao momento. Por quê? Uma das funções mais importantes do cérebro é a integração sensorial. A partir de todos os estímulos que ele recebe de todas as regiões do corpo, ele as organiza e elabora uma resposta adaptativa.

Em outras palavras, os nossos cinco sentidos são essenciais para a interpretação que o cérebro faz do mundo e do nosso próprio organismo. Ao trabalhá-los no parto, podemos estimular nosso cérebro a amenizar a sensação de dor, a criar memórias positivas, a reduzir a ansiedade do momento, entre outros pontos.

Esse é um dos motivos, por exemplo, pelos quais as mulheres relatam ter experimentado menos do que esperavam no parto natural (sem analgesia ou anestesia).

  • Sistema de luta e fuga (adrenérgico): está relacionado com os processos do nosso corpo para afastar algo que ele considera ameaçador. Ele está envolvido com uma maior percepção da dor e com a sensação de ansiedade;
  • Sistema de descansar e digerir (colinérgico): está relacionado com os processos de relaxamento;
  • Sistema de recompensa (dopaminérgico): é ativado quando temos a satisfação com algo.

O parto naturalmente ativa o sistema de luta e fuga. Contudo, por meio dos estímulos sensoriais, podemos despertar os outros dois, os quais liberam substâncias que contrabalanceiam o adrenérgico. Por isso, o parto humanizado, independentemente do tipo de parto escolhido, também busca trabalhar os 5 sentidos. Quer saber mais sobre o tema? Acompanhe o nosso post!

O parto humanizado, o plano de parto e os 5 sentidos

Apesar de sermos um dos países líderes em violência obstétrica, temos avançado bastante na humanização do parto e na recuperação do significado original do parto. Por lei, as mulheres devem ter um parto humanizado com direitos, como:

  • Acompanhante de sua escolha em todo o processo do pré-parto, parto e puerpério; tenha liberdade de movimentação;
  • Possa receber métodos não farmacológicos para alívio da dor;
  • Tenha privacidade e a presença constante de um/uma profissional capacitado/a para acompanhar o parto;
  • Escolha sobre a posição que deseja parir;
  • Que seja ela a primeira a ver seu bebê e a pegá-lo;
  • Ainda, que tenha seu medo e sua dor percebidos como legítimos e integrantes do processo.

Todos esses pontos, de certa forma, envolvem o trabalho com algum dos 5 (ou 7) sentidos do parto.

Trabalhando os 5 sentidos no parto

Tato

O tato é a percepção do contato da nossa pele e mucosa com outros objetos, informando nosso cérebro sobre:

  • O calor e o frio;
  • A pressão;
  • O atrito.

Veja algumas medidas do parto humanizado que focam no tato:

  • O toque afetuoso de um acompanhante libera substâncias que reduzem a ansiedade e a sensação de dor no momento;
  • A temperatura adequada e o conforto físico reduzem a percepção do cérebro de que aquele momento é ameaçador;
  • Os banhos em banheira quente causam uma vasodilatação e processos fisiológicos que podem facilitar o trabalho de parto naturalmente;
  • Caso a mulher deseje, pode ser aplicada a analgesia farmacológica para reduzir a dor.

Olfato e paladar

A gestante também pode acrescentar no seu plano de parto a efusão de algumas essências na sala ou trazer seus próprios objetos. Na integração sensorial, podem trazer uma sensação de acolhimento, além de se tornarem futuros gatilhos para memórias afetivas.

Visão

O estímulo visual trazido pela presença de imagens afetivas (como fotografias e o próprio semblante do acompanhante) ajuda a recuperar o sentido do parto como o desenvolvimento de relações humanas.

A iluminação também é importante, visto que determinadas cores e intensidades de luz estão relacionadas ao estímulo do sistema de descanso, enquanto outras estimulam o de luta e fuga.

Audição

Determinados sons, como algumas músicas, têm o poder de desencadear a resposta dos sistemas de descanso e de recompensa. Por isso, eles podem ser incluídos no plano de parto.

Além disso, outro ponto importante é trabalhar o que a gestante ouve da equipe médica. Falas desrespeitosas ou aflitas podem desencadear respostas de luta e fuga.

Por sua vez, quando ela é incluída nas decisões médicas, sabe o que está acontecendo e ouve palavras empáticas, o momento se torna muito menos ansioso. Esse é um dos motivos que torna tão importante a assistência de uma equipe e de um profissional de confiança, um direito no parto humanizado.

O corpo da mãe pós-parto está pronto para reagir rapidamente a qualquer ameaça ao bebê. Nesse sentido, é muito sensível ao choro. Ao ouvi-lo pela primeira vez, vários fenômenos fisiológicos ocorrem para fortalecer o vínculo e estimular a lactação, por exemplo.

Com uma maior atenção ao bebê, o corpo da mulher pode se desconectar inclusive de parte das sensações internas, como a dor.

Propriocepção e equilíbrio

Apesar de não serem tão conhecidos, existem mais dois sentidos importantes:

  • propriocepção: percepção do nosso corpo no espaço e dos nossos movimentos. Esse sentido é uma dos mais importantes para o parto, sendo essencial para que a gestante possa adotar posições e se movimentar de uma forma que facilite a conclusão trabalho;
  • vestibular (equilíbrio): ele está relacionado com o equilíbrio e a sensação de náuseas. Também é trabalhado quando mantemos a livre movimentação da gestante.

O que o bebê sente ao nascer?

As sensações do bebê também são trabalhadas no parto humanizado. Quando sentem o cheio um do outro, a mãe e o bebê estabelecem um vínculo muito poderoso.

A amamentação precoce, com o paladar do leite materno, estimula o organismo do bebê a se adaptar para o aleitamento no peito e evita a rejeição nos primeiros dias.

No pós-parto, o contato pele a pele faz toda a diferença. A transmissão de calor entre a mãe e o bebê ajuda a reduzir o risco de hipotermia (temperaturas corporal baixa) no recém-nascido. Além disso, auxilia no estímulo da lactação materna. Por tudo isso, trabalhando os 5 sentidos no parto, humanizamos esse momento e resgatamos os seus significados originais.

Quer saber mais sobre parto humanizado? Confira nosso texto sobre o tema!

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