Versão cefálica externa (VCE): qual é sua importância? Quando fazer?
A versão cefálica externa (VCE) é uma manobra obstétrica com o objetivo de alterar a posição do bebê para uma apresentação cefálica, em que a cabeça voltada para o canal de parto. Essa é apresentação mais favorável para o parto normal.
Assim, de forma geral, a VCE é indicada para reverter apresentações dificultam o parto. Isso ocorre, por exemplo, quando o feto se apresenta de forma pélvica (com as nádegas ou os pés voltados para o canal de parto) ou de forma transversal (“deitado” sobre o canal de parto).
A VCE já foi muito utilizada por parteiras e médicos antes do desenvolvimento da obstetrícia moderna. Por ser uma técnica mais antiga, já foi alvo de preconceito, mas vem sendo resgatada recentemente à medida que os estudos científicos mostram os benefícios de sua aplicação quando ela é indicada corretamente. Contudo, atualmente, o avanço de técnicas de monitorização fetal e de intervenção no parto permite que ela seja usada com maior segurança.
Hoje, essa manobra representa uma alternativa para evitar realizar cesarianas em mulheres que, apesar de terem condições favoráveis para um parto normal, apresentam apenas a posição inadequada do feto como obstáculo. Por ser uma técnica conservadora (sem procedimentos invasivos), quando indicada corretamente, ela é geralmente considerada mais segura do que a realização de uma cesariana.
Quer saber mais sobre a versão cefálica externa (VCE)? Acompanhe nosso post até o final!
Qual a importância da versão cefálica externa?
A versão cefálica externa é importante, pois:
- Redução do risco de parto cesáreo: esta revisão que reuniu 9 artigos identificou que a VCE diminui significativamente a taxa de cesáreas. Uma tentativa de VCE reduziu a probabilidade de parto cesáreo em aproximadamente 43% em comparação com não realizar nenhuma tentativa de VCE. Contudo, caso não seja bem-sucedido, a versão cefálica externa pode aumentar ligeiramente o risco de um escore de Apgar baixo em 5 minutos após o nascimento;
- Aumenta as chances de parto normal em apresentações desfavoráveis: este artigo apontou que a VCE aumenta as chances de partos cefálicos vaginais, sendo bem-sucedida em 54,5% dos casos. A taxa de nascimentos vaginais foi de 73,6% em pacientes em que o procedimento foi bem-sucedido. O estudo mostrou também que o procedimento tem maior chance de sucesso quando realizado por médicos experientes no procedimento, tendo realizado, pelo menos, 20 versões anteriores;
- Bom perfil de segurança: as complicações graves são raras. A ruptura da placenta ocorre em apenas 0,25% dos casos e uma cesariana de emergência foi necessária em 0,35% dos casos. O maior risco é a mistura do sangue fetal com o materno, o que é uma preocupação apenas em mães com fator Rh divergente. Além disso, o risco de complicações, nesses casos, pode ser reduzido com o uso de imunoglobulinas em mães Rh negativas.
Quando fazer a versão cefálica externa?
A versão cefálica externa é indicada para pacientes com boa perspectiva para uma evolução favorável do trabalho de parto normal, mas cujos bebês estão em uma posição inadequada. O momento ideal para a realização da VCE costuma ser antes do início do trabalho de parto, entre a 36ª e a 38ª semana de gestação. Além disso, para executar a VCE, a gestante deve estar em ambiente hospitalar, uma vez que, mesmo sendo uma técnica não invasiva, ela apresenta riscos, mesmo que mínimos.
Essa janela de tempo é escolhida porque, a partir desse ponto, o bebê já se encontra suficientemente desenvolvido para o parto. Antes desse momento, os pulmões não estão completamente desenvolvidos, o que pode levar à internação em UTI neonatal.
Em determinadas situações, a técnica pode ser realizada durante o próprio trabalho de parto. Para isso, contudo, a bolsa amniótica deve estar intacta, o que facilita a mudança de apresentação fetal e reduz o risco de complicações no parto. Assim, a ruptura das membranas é uma contraindicação relativa ao procedimento.
Antes de optar pela realização do VCE, é imprescindível que seja realizado um exame ultrassonográfico. Isso ajuda a confirmar a posição do feto e a identificar possíveis contraindicações absolutas ao procedimento, como:
- Sinais de hipóxia fetal (falta de oxigênio para o feto) aguda ou crônica;
- Placenta prévia;
- Oligohidrâmnio grave;
- Anomalias fetais graves;
- Malformações uterinas;
- Hiperextensão da cabeça fetal ou feto com a cabeça acima dos ombros;
- Escore baixo no perfil biofísico fetal.
Outras contraindicações são instabilidade clínica materna e pré-eclâmpsia grave.
Como é feita a versão cefálica externa?
Durante a execução da VCE, a gestante é posicionada deitada de costas. A obstetra, de maneira cuidadosa, utiliza as mãos para movimentos coordenados:
- Uma mão realiza o deslocamento lateral a pelve fetal;
- A outra mão manipula a cabeça do bebê.
Isso promove um giro que visa corrigir a apresentação. Essa ação é geralmente feita sob por monitorização por ultrassonografia, permitindo que o médico ajuste a técnica, em tempo real, conforme a resposta do feto. O número de tentativas para a realização do VCE pode variar de acordo com as particularidades de cada caso, mas os protocolos geralmente recomendam não exceder seis tentativas.
Em alguns casos, pode ser necessário que uma gestante receba medicamentos antes da realização da VCE. Esses medicamentos têm a função de inibir as contrações uterinas e promover o relaxamento do útero, facilitando assim o giro do bebê.
Além disso, o procedimento pode ser acompanhado de um desconforto moderado, que é tolerável para muitas mulheres. Para aquelas que sentem uma dor mais intensa, recomenda-se a utilização de anestesia peridural, que pode aumentar as chances de sucesso nas primeiras tentativas. Afinal, o estresse causado pela dor pode aumentar a frequência e a intensidade das contrações uterinas, o que dificulta a realização da manobra.
Portanto, a versão cefálica externa (VCE) é uma técnica que vem se consolidando na obstetrícia. Contudo, precisa ser realizada sob monitorização hospitalar por um médico experiente. Com isso, é possível evitar cesarianas em gestações em que o único obstáculo para um parto normal são as apresentações fetais transversa e pélvica.
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