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Episiotomia no parto normal: quando pode ser realizada?

Por Dra. Cristiane Pacheco

O parto normal acontece através do canal vaginal, o qual está relacionado a diversas estruturas. A abertura vaginal é o local final de saída do bebê, devendo se alargar para a sua passagem. A episiotomia é um corte feito no períneo, região entre o ânus e a vagina, com a finalidade de facilitar a dilatação do canal de parto.

No Brasil, ela vinha sendo realizada de forma rotineira, fora de indicações médicas, em um cenário de verdadeira violência obstétrica. Isso expunha as mulheres a diversas complicações, como as incontinências urinária e fecal. Hoje em dia, é recomendada em apenas algumas situações. Quer entender melhor? Acompanhe o nosso texto!

O que é a episiotomia?

Por se tratar de um corte que atravessa diversas camadas da pele, é um procedimento doloroso. Portanto, o primeiro passo, é a anestesia do local, mesmo que a gestante já tenha recebido outra medida de analgesia.

Depois disso, é feita uma incisão na região do períneo a partir de uma das duas técnicas a seguir:

  • Incisão na linha média, a qual é feita verticalmente seguindo o eixo que divide o corpo em direito e esquerdo. É a mais simples de ser reparada, mas traz maiores riscos de lesão da região anal;
  • Incisão mediolateral, que é feita em um ângulo de aproximadamente 50º em relação à linha média. Apesar de ser mais difícil de reparar e ser mais dolorosa, ela traz mais proteção contra uma lesão crônica na região anal.

Por que a episiotomia pode ser realizada?

A episiotomia, — vamos enfatizar bastante esse ponto —, é uma técnica invasiva de assistência ao parto normal. Portanto, está sujeita a determinados riscos. Ela pode ser realizada nos contextos em que os benefícios para a mãe e o bebê superam esses riscos.

Bebês acima de 4 quilogramas

O peso fetal é um fator determinante para a evolução do parto. Acima de quatro quilogramas, considera-se que eles são portadores de macrossomia, o alto peso. Essa condição é mais comum em bebês de gestantes que tiveram diabetes gestacional.

Com isso, durante a passagem pelo canal de parto normal, o feto poderia causar lesões graves na região do períneo. Esses danos estruturais poderiam provocar, por exemplo:

  • O comprometimento do assoalho pélvico, trazendo o risco de desenvolvimento de incontinência urinária na mulher;
  • incapacitação parcial ou total do esfíncter anal, um músculo muito importante para o controle da defecação. Dessa forma, a parturiente pode desenvolver incontinência fecal.

Essas complicações também podem ocorrer na episiotomia. Entretanto, por se tratar de um corte feito com todos os cuidados médicos, o risco é muito menor do que aquele relacionado à ausência de intervenção (lacerações de terceiro e quarto graus). Portanto, é um cenário em que os benefícios superam os riscos.

Distócia do ombro

Essa é uma situação em que o uso da episiotomia é controverso. Afinal, trata-se de um prolongamento do parto devido a um problema da parte óssea, e não das partes moles que são cortadas durante a episiotomia.

Mesmo assim, considera-se uma situação em que o procedimento está, sim, indicado. No entanto, dentro dos princípios do parto humanizado, a decisão deve ser compartilhada com a gestante pelo médico, depois de ele a informar a respeito das limitações.

Frequência cardíaca do bebê alterada

Tanto a frequência cardíaca alta quanto a baixa estão relacionadas a um pior prognóstico de saúde para o bebê, indicando sofrimento fetal. Por esse motivo, a episiotomia deve ser realizada para acelerar o parto e permitir uma avaliação mais ágil da saúde neonatal, além de reduzir o risco de eventos negativos, como o óbito fetal.

Posições anormais do bebê

Durante o trabalho de parto, o feto deve adotar a posição cefálica para o nascimento, isto é, sua cabeça deve estar voltada para o canal de parto. Posições pélvicas (sentado) e transversais (deitado) dificultam a passagem através do canal de parto.

Uma técnica não invasiva, a versão cefálica externa pode ser tentada antes de um procedimento mais invasivo. Em caso de insucesso, contraindicação ou de distócia mesmo após a versão, a episiotomia pode ser indicada.

Uso de fórceps

O fórceps é uma espécie de pinça especializada que é posicionada na cabeça do bebê para ajudá-lo a se guiar no canal vaginal durante o parto. Devido às suas dimensões e ao risco de laceração, além de ser geralmente empregado em um parto já complicado, a episiotomia pode também ser realizada juntamente à inserção do fórceps no canal vaginal da gestante.

A episiotomia é obrigatória no parto normal?

Não! Pelo contrário, ela deve ser a exceção. Na medicina, a indicação de procedimentos médicos deve sempre levar em consideração os respectivos riscos e os benefícios.

A maioria das gestações e dos partos apresenta uma evolução normal, sem complicações. Ou seja, quando realizada fora das indicações acima, os riscos da episiotomia são maiores do que qualquer benefício.

Então, a gestante está sendo sujeita a um procedimento, quando seu parto evoluiria normalmente. Um parto mais ágil não é justificativa para submetê-la a uma técnica que traz riscos das seguintes complicações:

  • Infecções;
  • Incontinência urinária e/ou fecal;
  • Cicatrizes e queloides;
  • Traumas psíquicos, entre outras possibilidades.

Dentro das indicações, é claro, ela é benéfica. Afinal, as complicações de não intervir seriam maiores do que a de realizar a episiotomia.

Seguindo os princípios do parto humanizado, sabe-se que as intervenções médicas devem ser feitas quando houver evidências científicas claras sobre seus benefícios (medicina baseada em evidências).

Mesmo nesses casos, a gestante deve ser informada sobre as características da episiotomia e fazer parte da decisão (protagonismo da gestante). Contudo, caso estejam presentes determinadas contraindicações, o médico deve avaliar a possibilidade de empregar outras intervenções para garantir um bom resultado no parto (individualização biopsicossocial).

Quer sobre mais sobre a episiotomia e como ela é feita? Confira nosso texto sobre o tema!

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