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Cesarianas sucessivas têm riscos?

Por Dra. Cristiane Pacheco

A cesariana é uma intervenção cirúrgica utilizada para o nascimento do bebê. Essa técnica envolve uma incisão na parede abdominal e no útero da mãe para a retirada do bebê. Embora a cesariana seja uma operação comum e segura quando realizada em condições adequadas, ela não é isenta de riscos de complicações, como hemorragias.

Por isso, idealmente, ela deveria ser indicada em situações em que o parto normal não é possível ou seguro tanto para a mãe quanto para o feto.

Após uma avaliação individualizada de cada gestante, algumas das situações que podem justificar a realização de um cesariana incluem: distocia funcional ou falha na progressão do trabalho de parto, má posição fetal, desproporção cefalopélvica, várias cesarianas prévias, sinais de alteração da vitalidade fetal, descolamento prematuro de placenta (DPP), placenta prévia total e acretismo placentário, vasa prévia, prolapso de cordão umbilical, macrossomia fetal, gestação gemelar com gêmeo 1 em apresentação anômala, ruptura uterina, gestante soropositiva para HIV com alta carga viral e herpes-simples com lesão ativa no momento do parto.

Quer saber mais sobre o risco de cesarianas sucessivas? Acompanhe até o final!

O que são cesarianas sucessivas?

A cesariana é um procedimento cirúrgico muito utilizado atualmente. Devido à sua comodidade (pode ser planejada para um dia exato) e à ausência de dor, tem se tornado a opção de grande parte das mulheres. No entanto, o ideal seria que as cesarianas fossem realizadas apenas nos casos em que há indicação, isto é, que os benefícios superem os riscos.

O termo “cesarianas sucessivas” serve para se referir à repetição desse procedimento. Afinal, assim como outras cirurgias pélvicas, há um aumento de risco de complicações a cada vez que a pelve é manipulada de forma invasiva.

Riscos relacionados a cesarianas sucessivas

Um dos maiores estudos feitos sobre cesarianas sucessivas encontrou a seguinte frequência de complicações em mulheres que realizaram cesarianas sucessivas:

Número de partos cesáreos Placenta acreta (%) Histerectomia (%) Transfusão (%) Cistostomia (%) Lesão intestinal (%)
1 0,24 0,65 4,05 0,13 0,11
2 0,31 0,42 1,53 0,09 0,06
3 0,57 0,90 2,26 0,28 0,13
4 2,13 2,41 3,65 1,17 0,34
5 2,33 3,49 4,26 1,94 0,00
6 6,74 8,99 15,73 4,49 1,12

 

Hemorragias

A hemorragia durante a cesariana é uma complicação séria que pode ocorrer devido a vários fatores. Elas são o principal fator de risco para a necessidade de transfusão sanguínea e de histerectomia durante o parto.

As principais causas de hemorragias nas cesarianas são:

  • Atonia uterina: falha do útero em contrair adequadamente após o parto. Portanto, nesse caso, o sangramento tende a ocorre após o nascimento do bebê;
  • Lesões Vasculares: danos aos vasos sanguíneos durante a incisão ou manipulação do útero. Felizmente, são eventos raros;
  • Descolamento prematuro da placenta: Separação da placenta do útero antes do nascimento completo do bebê;
  • Placenta prévia e placenta acreta.

Disfunções placentárias

A frequência de problemas placentários aumenta significativamente à medida que novas cesarianas são realizadas. Um artigo científico que reuniu diversos estudos apresentou os seguintes resultados nesse sentido:

  • Placenta prévia — é uma condição em que a placenta se implanta na parte inferior do útero, cobrindo parcial ou totalmente o colo do útero. A proporção de placenta prévia de placenta prévia foi de 10 em 1000 partos em mulheres com apenas uma cesariana, comparado a 28 em 1000 partos de mulheres que já tinham realizado três ou mais cesarianas;
  • Placenta acreta: é uma condição em que a placenta se adere anormalmente à parede uterina. É considerada uma condição mais grave do que a placenta prévia, podendo também estar associada a ela. Considerando todas as pacientes que tiveram placenta prévia, a frequência de placenta acreta foi de 3% a 4% em mulheres sem cesarianas anteriores. Já em mulheres com quatro ou mais cesarianas, a prevalência variou de 50% a 67%.

Esses transtornos placentários aumentam significativamente as chances de hemorragia, necessidade de transfusão de sangue e histerectomia.

Aderências pélvicas

Aderências pélvicas são faixas de tecido cicatricial que podem se formar entre órgãos e estruturas na cavidade pélvica. Essas aderências podem se fixar em órgãos, como útero, ovários, tubas uterinas, intestinos e bexiga. Elas geralmente são causadas por processos inflamatórios na região pélvica. Com isso, entre os principais fatores de risco para o desenvolvimento de aderências pélvicas, estão:

  • Traumas;
  • Cirurgias abdominais;
  • Infecções.

Apesar de ser um procedimento de baixo risco, a cesariana ainda é uma cirurgia pélvica e está sujeita às complicações dessa intervenção.

Ainda não se sabe exatamente o tamanho do aumento do risco de aderências a cada cesariana, pois são necessárias mais pesquisas científicas para estabelecer uma conclusão. Contudo, um estudo identificou que apenas 7% das pacientes apresentavam aderências no primeiro parto cesáreo. Por sua vez, após o terceiro parto, a frequência aumentava para até 68%.

As aderências são um motivo de preocupação, pois elas trazem impactos funcionais significativos para as mulheres, como:

  • A presença de aderências densas dificulta os partos e aumenta o risco de hemorragias, de lesão na bexiga ou no intestino grosso;
  • Ocorre um aumento de risco de obstrução intestinal no pós-operatório;
  • O risco de subfertilidade aumenta com a formação das aderências e a cada nova cesariana. Acredita-se que o principal mecanismo dessa disfunção seja a distorção na anatomia das tubas uterinas.

Portanto, a prevenção de cesarianas sucessivas é de extrema importância devido aos riscos crescentes associados a múltiplas intervenções cirúrgicas no parto. Cada cesariana adicional aumenta a probabilidade de complicações, como aderências, lesões em órgãos internos e problemas placentários em gestações futuras. Com isso, a recuperação pós-operatória tende a ser mais prolongada e complicada, impactando negativamente a saúde da mãe e do recém-nascido.

Quer saber mais sobre a cesariana e suas indicações? Toque aqui!

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