Como e quando é feita a versão cefálica externa (VCE)?
Para que o parto normal transcorra bem, o bebê precisa estar posicionado adequadamente para que passe pelo canal de parto. Ou seja, ele deve estar com sua cabeça voltada para o canal vaginal, a chamada posição cefálica. Quando isso não ocorre e a mulher reúne condições para um parto normal, existe uma manobra manual que pode corrigir o posicionamento e permitir um parto normal. É a versão cefálica externa (VCE).
Os registros históricos mostram que a versão cefálica é utilizada há muitos séculos, porém, a técnica foi abandonada à medida que as cesarianas se tornaram mais comuns.
Atualmente, porém, os estudos vêm mostrando tanto os riscos trazidos pelas cesarianas sem razão médica quanto a segurança da VCE. Então, o valor da VCE está cada vez mais sendo reconhecido. Quer entender melhor esse tema? Acompanhe!
Por que a versão cefálica externa pode ser necessária?
A versão cefálica externa é uma manobra realizada com o objetivo de viabilizar a realização de partos normais quando a apresentação do bebê é o principal empecilho.
Nos últimos anos, várias evidências científicas mostraram que o excesso de cesarianas sem justificativa clínica pode expor as mulheres a complicações.
Por ser um procedimento cirúrgico, as cesarianas apresentam um maior risco de complicações para a mãe e o bebê. Da mesma forma, foram identificados diversos benefícios do parto normal, que podem ser vistos neste post.
Portanto, a VCE vem ganhando espaço por ser um procedimento muito seguro com o objetivo de:
- Viabilizar um parto normal quando a posição é o único empecilho para a sua realização;
- Aumentar a proporção de fetos em apresentação cefálica no momento do nascimento;
- Evitar que um parto normal seja convertido em cesariana, um procedimento cirúrgico com maior risco do que os nascimentos vaginais assistidos pela VCE.
Nesse sentido, a eficácia da VCE é medida principalmente pelos seguintes desfechos:
- A taxa de sucesso geral da VCE em evitar cesarianas foi de 49% a 58%;
- Quando a versão cefálica é realizada, 97% dos fetos permanecem em posição cefálica até o nascimento. Desses 97%, 86% dos partos são feitos pela via vaginal. Nos outros 14%, a cesariana precisou ser realizada.
De forma geral, o procedimento é de muito baixo risco quando realizado em situações em que não há contraindicações importantes.
Quando a versão cefálica externa pode ser realizada?
Idealmente, a versão cefálica externa é realizada entre a 36ª e a 38ª semana de gestação. Entretanto, em algumas situações, pode ser realizada inclusive durante o trabalho de parto desde que não tenha ocorrido a ruptura das membranas ou da bolsa amniótica.
Fatores preditores de sucesso
Alguns fatores aumentam as chances de seu sucesso, como:
- Bebês em apresentação transversa;
- Gestantes negras;
- Experiência do obstetra com a VCE;
- Placenta posterior;
- Índice de líquido amniótico (ILA) maior ou igual a 10.
Contraindicações
Quaisquer contraindicações absolutas ao parto normal são impeditivas da realização da VCE, visto que o objetivo do procedimento é evitar um parto cesariano. Já nas contraindicações relativas, é necessário individualizar a decisão de acordo com cada gestação.
Outras contraindicações mais específicas à VCE são:
- Evidência de hipóxia fetal (privação de oxigênio para o feto) aguda ou crônica;
- Instabilidade clínica materna;
- Rupturas de membranas com dilatação cervical devido ao risco de prolapso do cordão umbilical. Essa complicação grave ocorre quando o cordão umbilical desliza pelo colo do útero antes do nascimento, o que reduz o fluxo de sangue da mãe para o feto;
- Oligodrâmnio acentuado, isto é, uma quantidade deficiente de líquido amniótico. Isso reduz o espaço de movimentação do corpo do feto e aumenta o risco de traumas durante a VCE;
- Restrição ao crescimento fetal;
- Malformações fetais;
- Anomalias e disfunções uterinas;
- Cicatrizes uterinas pélvicas;
- Cabeça fetal hiperextendida;
- Placenta descolada.
As chances de sucesso da VCE são menores quando:
- Nuliparidade;
- Obesidade;
- Espinha fetal localizada posteriormente;
- Músculos abdominais maternos firmes;
- Apresentação pélvica persistente (ou seja, apresentação pélvica confirmada durante cada exame de ultrassom do meio da gestação em diante);
- Membranas rompidas;
- Útero tenso;
- Cabeça fetal não palpável;
- Espessura miometrial mais fina.
Em casos mais raros, um cordão umbilical mais curto também diminui as chances de sucesso.
Como ela é feita?
O primeiro passo é a realização de uma ultrassonografia para avaliar o posicionamento do feto e da placenta, assim como avaliar o volume de líquido amniótico, a anatomia uterina e fetal. Com isso, podem ser identificadas eventuais contraindicações e fatores que reduzem as chances de sucesso da VCE.
Para tornar o procedimento mais seguro, o procedimento é preferencialmente realizado por volta da 36ª semana de gestação. Nessa fase, o feto já apresenta um bom tônus muscular e há um menor risco de retorno para posições não cefálicas após a manobra.
Dentro dos princípios do parto humanizado, a VCE é sempre realizada com o consentimento da gestante. Ela é informada sobre os riscos e benefícios da VCE, além dos passos da manobra.
Muitas mulheres realizam o procedimento sem que seja necessária a administração de medicações antes ou durante o procedimento. Contudo pode ser necessário utilizar inibidores das contrações uterinas para facilitar a manobra em alguns casos.
Em geral, as pacientes relatam apenas uma dor moderada e tolerável durante a realização da VCE. Analgésicos orais e venosos podem ser utilizados para amenizar esse sintoma. Alguns obstetras recomendam ainda a utilização de anestesia peridural para o procedimento.
A manobra é feita com a gestante deitada de costas. Pela parede abdominal, é feito um movimento rotacional: pelve fetal é elevada e deslocada lateralmente por uma mão do obstetra, enquanto a cabeça é manipulada pela outra mão no sentido oposto.
A VCE pode ser repetida até o limite de seis tentativas de acordo com as principais recomendações atuais. Em geral, como vimos, em grande parte dos casos, ela é bem-sucedida dentro desse limite e o feto atinge a posição cefálica antes do parto.
Quer entender melhor a VCE e como ela é executada? Então, confira nosso artigo completo sobre o tema!