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Como e quando é feita a versão cefálica externa (VCE)?

Por Dra. Cristiane Pacheco

Para que o parto normal transcorra bem, o bebê precisa estar posicionado adequadamente para que passe pelo canal de parto. Ou seja, ele deve estar com sua cabeça voltada para o canal vaginal, a chamada posição cefálica. Quando isso não ocorre e a mulher reúne condições para um parto normal, existe uma manobra manual que pode corrigir o posicionamento e permitir um parto normal. É a versão cefálica externa (VCE).

Os registros históricos mostram que a versão cefálica é utilizada há muitos séculos, porém, a técnica foi abandonada à medida que as cesarianas se tornaram mais comuns.

Atualmente, porém, os estudos vêm mostrando tanto os riscos trazidos pelas cesarianas sem razão médica quanto a segurança da VCE. Então, o valor da VCE está cada vez mais sendo reconhecido. Quer entender melhor esse tema? Acompanhe!

Por que a versão cefálica externa pode ser necessária?

A versão cefálica externa é uma manobra realizada com o objetivo de viabilizar a realização de partos normais quando a apresentação do bebê é o principal empecilho.

Nos últimos anos, várias evidências científicas mostraram que o excesso de cesarianas sem justificativa clínica pode expor as mulheres a complicações.

Por ser um procedimento cirúrgico, as cesarianas apresentam um maior risco de complicações para a mãe e o bebê. Da mesma forma, foram identificados diversos benefícios do parto normal, que podem ser vistos neste post.

Portanto, a VCE vem ganhando espaço por ser um procedimento muito seguro com o objetivo de:

  • Viabilizar um parto normal quando a posição é o único empecilho para a sua realização;
  • Aumentar a proporção de fetos em apresentação cefálica no momento do nascimento;
  • Evitar que um parto normal seja convertido em cesariana, um procedimento cirúrgico com maior risco do que os nascimentos vaginais assistidos pela VCE.

Nesse sentido, a eficácia da VCE é medida principalmente pelos seguintes desfechos:

  • A taxa de sucesso geral da VCE em evitar cesarianas foi de 49% a 58%;
  • Quando a versão cefálica é realizada, 97% dos fetos permanecem em posição cefálica até o nascimento. Desses 97%, 86% dos partos são feitos pela via vaginal. Nos outros 14%, a cesariana precisou ser realizada.

De forma geral, o procedimento é de muito baixo risco quando realizado em situações em que não há contraindicações importantes.

Quando a versão cefálica externa pode ser realizada?

Idealmente, a versão cefálica externa é realizada entre a 36ª e a 38ª semana de gestação. Entretanto, em algumas situações, pode ser realizada inclusive durante o trabalho de parto desde que não tenha ocorrido a ruptura das membranas ou da bolsa amniótica.

Fatores preditores de sucesso

Alguns fatores aumentam as chances de seu sucesso, como:

  • Bebês em apresentação transversa;
  • Gestantes negras;
  • Experiência do obstetra com a VCE;
  • Placenta posterior;
  • Índice de líquido amniótico (ILA) maior ou igual a 10.

Contraindicações

Quaisquer contraindicações absolutas ao parto normal são impeditivas da realização da VCE, visto que o objetivo do procedimento é evitar um parto cesariano. Já nas contraindicações relativas, é necessário individualizar a decisão de acordo com cada gestação.

Outras contraindicações mais específicas à VCE são:

  • Evidência de hipóxia fetal (privação de oxigênio para o feto) aguda ou crônica;
  • Instabilidade clínica materna;
  • Rupturas de membranas com dilatação cervical devido ao risco de prolapso do cordão umbilical. Essa complicação grave ocorre quando o cordão umbilical desliza pelo colo do útero antes do nascimento, o que reduz o fluxo de sangue da mãe para o feto;
  • Oligodrâmnio acentuado, isto é, uma quantidade deficiente de líquido amniótico. Isso reduz o espaço de movimentação do corpo do feto e aumenta o risco de traumas durante a VCE;
  • Restrição ao crescimento fetal;
  • Malformações fetais;
  • Anomalias e disfunções uterinas;
  • Cicatrizes uterinas pélvicas;
  • Cabeça fetal hiperextendida;
  • Placenta descolada.

As chances de sucesso da VCE são menores quando:

  • Nuliparidade;
  • Obesidade;
  • Espinha fetal localizada posteriormente;
  • Músculos abdominais maternos firmes;
  • Apresentação pélvica persistente (ou seja, apresentação pélvica confirmada durante cada exame de ultrassom do meio da gestação em diante);
  • Membranas rompidas;
  • Útero tenso;
  • Cabeça fetal não palpável;
  • Espessura miometrial mais fina.

Em casos mais raros, um cordão umbilical mais curto também diminui as chances de sucesso.

Como ela é feita?

O primeiro passo é a realização de uma ultrassonografia para avaliar o posicionamento do feto e da placenta, assim como avaliar o volume de líquido amniótico, a anatomia uterina e fetal. Com isso, podem ser identificadas eventuais contraindicações e fatores que reduzem as chances de sucesso da VCE.

Para tornar o procedimento mais seguro, o procedimento é preferencialmente realizado por volta da 36ª semana de gestação. Nessa fase, o feto já apresenta um bom tônus muscular e há um menor risco de retorno para posições não cefálicas após a manobra.

Dentro dos princípios do parto humanizado, a VCE é sempre realizada com o consentimento da gestante. Ela é informada sobre os riscos e benefícios da VCE, além dos passos da manobra.

Muitas mulheres realizam o procedimento sem que seja necessária a administração de medicações antes ou durante o procedimento. Contudo pode ser necessário utilizar inibidores das contrações uterinas para facilitar a manobra em alguns casos.

Em geral, as pacientes relatam apenas uma dor moderada e tolerável durante a realização da VCE. Analgésicos orais e venosos podem ser utilizados para amenizar esse sintoma. Alguns obstetras recomendam ainda a utilização de anestesia peridural para o procedimento.

A manobra é feita com a gestante deitada de costas. Pela parede abdominal, é feito um movimento rotacional: pelve fetal é elevada e deslocada lateralmente por uma mão do obstetra, enquanto a cabeça é manipulada pela outra mão no sentido oposto.

A VCE pode ser repetida até o limite de seis tentativas de acordo com as principais recomendações atuais. Em geral, como vimos, em grande parte dos casos, ela é bem-sucedida dentro desse limite e o feto atinge a posição cefálica antes do parto.

Quer entender melhor a VCE e como ela é executada? Então, confira nosso artigo completo sobre o tema!

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