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Distocia e parto: qual a relação?

Por Dra. Cristiane Pacheco

A distocia do parto (parto lento ou preso) é o trabalho de parto anormalmente prolongado, o que pode ocorrer devido a diferentes fatores.

Para que essa complicação obstétrica seja diagnosticada, é preciso que ela ocorra na primeira ou na segunda fase do trabalho de parto, isto é, entre o início da contração até o processo de passagem do feto pelo canal após a dilatação completa do colo.

A distocia é a principal causa de conversão de um parto normal em parto prematuro.

Em um cenário ideal, em que evitamos as cesarianas eletivas sem indicação médica, a distocia seria a principal justificativa para as cesarianas em geral, representando cerca de um terço.

Esse é o cenário de países que conseguiram reduzir a taxa de partos cirúrgicos. Quer saber mais sobre o que é a distocia e seu tratamento? Confira este texto!

As fases do parto e sua relação com a distocia

Fase latente

A fase latente pode durar várias horas. Nela, iniciam-se as contrações, as quais são fundamentais para a condução do bebê até o canal de parto. Elas apresentam uma mudança de comportamento ao longo do parto, o que auxilia na diferenciação das fases e no diagnóstico da distocia.

No período de latência, elas estão ainda irregulares. Contudo a gestante relata que já incomodam mais do que as cólicas habituais da gestação e estão ficando progressivamente mais coordenadas.

Já a dilatação do colo pode estar com até 3 ou 4 cm, ocorrendo em tempo variável para cada gestação. Com isso, pode acontecer também a perda do tampão mucoso.

Apesar de poder ser muito longa, a não evolução da fase latente para a ativa associada à redução da vitalidade podem indicar a distocia.

Fase ativa

Esse é o início do trabalho de parto propriamente dito, com contrações cada vez mais fortes e próximas. Normalmente, ocorrem 3 a 4 contrações fortes regularmente, a cada 10 min. Nessa situação, espera-se uma dilatação cervical superior a 6 centímetros. Caso contrário, acende-se o alerta para o risco ou a ocorrência de distocia.

Período expulsivo

Nessa fase, o colo uterino deve estar com aproximadamente 10 cm de dilatação, enquanto as contrações uterinas estão cada vez mais vigorosas. Então, os reflexos da parturiente a levam aplicar cada vez mais força na região pélvica para estimular a expulsão do bebê.

É nesse período que as pacientes relatam o pico da dor do parto, com contrações mais dolorosas e sensação de queimação no períneo, o que indica o início da saída do bebê. A duração da expulsão é variável de mulher para a mulher, podendo demorar alguns minutos ou mesmo diversas horas.

Quando a mulher está próxima da exaustão ou o bebê está com os batimentos cardíacos fora dos limites da normalidade, a distocia pode ser diagnosticada.

Fase da dequitação

É a fase após a expulsão completa do feto. Nela, o útero da mulher expulsa os anexos embrionários, como a placenta e a bolsa amniótica vazia. Portanto, não está relacionada com a distocia.

O que é a distocia?

A distocia é o trabalho de parto com uma duração ou evolução anormal, que pode ser dividida em quatro tipos principais:

  • Dificuldades da passagem devido à arquitetura pélvica da mãe;
  • Dimensões do bebê ou problemas na apresentação e na posição fetal;
  • Contração uterina insuficiente ou resistência cervical;
  • Associação de condições maternas e fetais.

Por isso, durante o parto é feito o partograma, em que acompanhamos periodicamente os seguintes fatores de evolução:

  • A frequência e força das contrações uterinas;
  • A dilatação do colo uterino;
  • Posição fetal.

Durante o trabalho de parto, em parte, as posições e atitudes do feto são determinadas pelas características da pelve da mãe. Para o parto, avaliamos principalmente a entrada, a pélvis média e a saída. Entre essas estruturas está o arcabouço ósseo, que limita o canal de parto. Em dimensões, a abertura da pelve ideal para o parto deve ser superior aos seguintes valores:

  • Parede anterior da sínfise púbica: 5 cm;
  • Parede posterior mede aproximadamente 10 cm.

Dimensões menores do que essas se relacionam com um trabalho de parto mais difícil, que possivelmente evoluirá para a distocia.

Durante o processo de evolução do trabalho, com a acomodação óssea, ocorre uma dilatação progressiva do canal de parto para permitir a passagem de todo o corpo bebê. Se isso não acontecer, mesmo mulheres com uma pelve ginecológica podem sofrer com a distocia.

Além dos ossos, outras estruturas do sistema reprodutor feminino podem levar a um parto mais difícil:

  • Miomas uterinos são as massas pélvicas mais comuns associadas à distocia, podendo obstruir o canal de parto ou levar à má apresentação fetal. Isso é mais comum em miomas volumosos (> 4 a 5 centímetros);
  • Massas ovarianas volumosas;
  • Distensão da bexiga;
  • Excesso de tecido adiposo;
  • Estreitamento do colo uterino (estenose cervical).

Em relação ao feto, o risco de distocia aumenta quando o peso é maior do que 4 a 4,5 quilos e ele não evolui para a apresentação cefálica (com a cabeça voltada para o canal de parto).

A identificação da distocia é feita com o monitoramento adequado do parto e a assistência médica humanizada. A partir disso, em decisão compartilhada com a gestante, o parto normal poderá ter sua evolução induzida ou ser convertido em parto cesariano.

Quer saber mais sobre a distocia e seus tipos? Confira nosso texto sobre o tema!

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