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Endometriose e gravidez: riscos e cuidados

Por Dra. Cristiane Pacheco

A endometriose é uma doença inflamatória crônica, desencadeada pelo implante de glândulas e estroma do endométrio fora do útero. Com isso, podem surgir sintomas e complicações que impactam significativamente a qualidade de vida da mulher, como a infertilidade, a dor pélvica crônica e a dismenorreia (dor menstrual).

A dificuldade para engravidar é uma queixa presente em uma parcela significativa das pacientes com endometriose. Os estudos mostram que cerca de um terço das pacientes com queixa de infertilidade são diagnosticadas posteriormente com endometriose.

Além disso, outras pesquisas mostraram que pode haver uma relação da endometriose com complicações gestacionais, como o abortamento de repetição. Devido a esse impacto na função reprodutiva, a endometriose pode influenciar seus planos de maternidade.

Por isso, é muito importante conhecer melhor a doença. Ficou interessada? Acompanhe nosso post até o final!

Endometriose e dificuldades de engravidar (infertilidade)

A infertilidade é caracterizada pela dificuldade de um casal engravidar pela fertilização natural (relações sexuais no período fértil da mulher) por 1 a 2 anos. Esse período pode ser abreviado para seis meses caso a mulher já tenha mais de 35 anos.

É muito importante entender que a infertilidade não é causada apenas pela mulher. Existe esse estigma. Contudo, as estatísticas mostram que os casos de infertilidade em casais são proporcionalmente semelhantes em ambos os sexos.

Na maior parte das situações, a dificuldade para engravidar ocorre devido a fatores presentes tanto no homem quanto na mulher. Em outros casos, sequer são identificados fatores em algum dos membros do casal, — é a infertilidade sem causa aparente.

Dentro dos casos de infertilidade feminina, de 30% a 50% deles podem estar relacionados à endometriose. Essa doença pode causar um estado inflamatório permanente na região da pelve. Na tentativa de eliminar células endometriais fora do útero, o corpo envia células de defesa que buscam destruir o tecido ectópico. Entretanto, esse ataque não distingue tecidos saudáveis dos implantes de endometriose.

Com isso, surgem mecanismos que podem levar à infertilidade:

  • O estado inflamatório prolongado faz com que o endométrio normal (na cavidade uterina) se torne menos receptivo aos espermatozoides e ao embrião;
  • Ele também altera a dinâmica funcional dos órgãos reprodutivos, reduzindo o potencial de fertilidade;
  • Ele também pode atingir o ovário, levando a uma redução precoce e progressiva da reserva ovariana;
  • Por fim, à medida que a doença não é tratada, o corpo inicia um processo de cicatrização intenso, substituindo tecidos funcionais por fibras colágenas. Assim, começam a se formar aderências que obstruem e comprometem os órgãos internos do sistema reprodutor feminino. Com o envelhecimento das aderências, elas se tornam mais rígidas e prejudicam ainda mais a fertilidade, além de ficarem mais difíceis de tratar.

Classificação da endometriose

Portanto, a endometriose compromete a fertilidade de forma multifatoriais por meio de disfunções estruturais e fisiológicas.

Atualmente, a principal classificação da endometriose leva em consideração o seu potencial na redução da fertilidade feminina. Ela foi feita pela Associação Americana de Medicina Reprodutiva:

  • Estágio I, endometriose mínima: implantes isolados e sem aderências significativas;
  • Estágio II, endometriose leve: implantes superficiais, menores do que 5 cm e sem aderências significativas;
  • Estágio III, endometriose moderada: presença de endometriomas, de múltiplos implantes, além de aderências nas tubas uterinas e ovários mais evidentes;
  • Estágio IV, endometriose grave: múltiplos implantes, superficiais e profundos, endometriomas, além de aderências densas e firmes.

Endometriose e gestação

Recentemente, diversos estudos sobre a relação da endometriose com complicações gestacionais foram analisados. Eles encontraram que a doença pode estar associada a um maior risco de:

Em alguns estudos, foram apontados ainda uma maior chance de gestações ectópicas, especialmente nas tubas uterinas. Contudo as evidências atuais descartam uma influência da endometriose no desenvolvimento de hipertensão gestacional e pré-eclâmpsia.

Endometriose no parto e pós-parto.

A endometriose também parece estar associada a alguns desfechos negativos no parto e no pós-parto, aumentando o risco de:

  • Partos cesarianos;
  • Recém-nascidos pequenos para a idade gestacional.

Como já explicamos em outros artigos, os partos cesarianos devem ser reservados para situações excepcionais. Afinal, eles trazem um maior risco de complicações durante e após o parto, além de não terem alguns benefícios importantes dos partos normais. Então, o aumento do risco de um parto cesariano deve ser visto como uma complicação.

Recém-nascidos pequenos para a idade gestacional também são uma preocupação importante. Eles estão mais vulneráveis à hipotermia neonatal, à morte súbita, a problemas do neurodesenvolvimento e a infecções.

Portanto, devido a essa relação da endometriose com a infertilidade e as complicações gestacionais, é preciso ter um novo olhar para a condição e o impacto que ela pode ter na vida reprodutiva de uma mulher.

Apesar de a reprodução assistida ajudar a melhorar o prognóstico reprodutivo nesses casos, ainda há outras complicações que podem surgir nas mulheres que conseguem engravidar. Um acompanhamento obstétrico humanizado, — e, portanto, individualizado —, no pré-natal, no parto e no pós-parto é essencial para essas mulheres.

Quer saber mais sobre a endometriose e seu tratamento? Confira este nosso artigo sobre o tema!

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