Dra Cristiane Pacheco | WhatsApp

Episiotomia no parto normal: é obrigatória?

Por Dra. Cristiane Pacheco

A violência obstétrica é um tema cada vez mais discutido, pelos obstetras e pelas próprias gestantes durante o pré-natal e o planejamento do parto. Nesse contexto, a episiotomia no parto normal recebe uma atenção especial. Afinal, foi e é utilizada fora das indicações formais, submetendo a mulher a sequelas que comprometem a qualidade de vida.

Por isso, há um crescente movimento de conscientização pelo parto humanizado e, quando possível, natural. A humanização significa colocar a mulher no protagonismo das decisões da gestação, informando-a sobre o risco-benefício de cada intervenção médica e respeitando a sua opção. A violência obstétrica surge quando:

  • Os desejos da mãe são desrespeitados;
  • São realizados procedimentos fora de indicações técnico-científicas;
  • Os riscos do procedimento são comprovadamente maiores do que os benefícios;
  • A técnica não foi realizada corretamente.

Quer saber mais sobre o assunto? acompanhe!

O que é a episiotomia?

A episiotomia é um procedimento cirúrgico, que consiste na seguinte técnica:

  • Avaliação da indicação do procedimento: dentro de critérios técnicos o obstetra deve considerar a episiotomia apenas quando seus benefícios superam os riscos;
  • Avaliação da saúde materna: ele também deve considerar os fatores de risco de sequelas da mãe especialmente incontinência urinária, pois, dependendo do caso a cesariana apresenta menos chances de comprometimento da qualidade de vida futura;
  • Higienização: a episiotomia é um ato cirúrgico, então o médico deve higienizar as mãos e utilizar luvas estéreis. Além disso, é feita a antissepsia desde a região do corte até as coxas e a pelve;
  • Analgesia: aplicação de medicamentos para reduzir a dor durante a incisão;
  • Execução do corte: uma incisão mediolateral no períneo, região entre a vagina e o ânus, para facilitar a passagem do bebê durante o parto normal. O tamanho do corte deve ser mínimo e os cuidados com a ferida cirúrgica devem ser seguidos a fim de evitar infecções.

Quando bem indicada a episiotomia é importante para evitar lesões graves nessa região devido à passagem do bebê. Portanto, não deve ser executada de forma rotineira para facilitar ou acelerar os trabalhos de parto não complicados.

A episiotomia foi usada como rotina durante o parto normal no século passado, quando ainda não havia dados significativos sobre os riscos das intervenções médicas. Já na década de 1990, diferentes estudos comprovaram que a episiotomia trazia muitos prejuízos quando realizada como rotina.

No entanto, em alguns casos, identificou-se que ela pode melhorar o prognóstico de qualidade de vida e de sobrevivência quando comparada à sua não execução.

A episiotomia no parto humanizado

Assim, os principais órgãos de saúde no mundo todo, incluindo a Organização Mundial da Saúde (OMS), passaram, então, a recomendar uma nova abordagem para a aplicação da técnica.

As Diretrizes de Assistência ao Parto Normal do Ministério da Saúde do Brasil trazem as seguintes recomendações:

  • Não realizar episiotomia de rotina durante o parto vaginal espontâneo;
  • Se uma episiotomia for realizada a sua indicação deve ser justificada;
  • Utilização preferencial da técnica mais segura (corte mediolateral originando na fúrcula vaginal e direcionada para o lado direito, com um ângulo do eixo vertical entre 45 e 60 graus).

Quando a episiotomia pode ser realizada?

A episiotomia é um procedimento exclusivo dos partos normais (vaginais), não são feitas nas cesarianas eletivas (agendadas com antecedência).

No entanto, há uma situação em que pode ter ocorrido a episiotomia e a cesariana em um mesmo parto. Mesmo após o obstetra ter realizado a técnica, o parto vaginal não evoluiu bem. Fora essa exceção as feridas no períneo podem ser erros técnicos.

Além disso, se você optou pelo parto vaginal natural, nenhuma intervenção médica deve ser feita. Diante de algumas ocorrências pode ser necessária a conversão do parto natural em intervencionista. Veja as principais indicações:

  • Bebês macrossômicos;
  • Distocia do ombro, quando o ombro do bebê fica preso atrás do osso pélvico;
  • Frequência cardíaca alterada no bebê;
  • Posições anormais do feto;
  • Necessidade do uso de fórceps;
  • Iminência de laceração de terceiro ou quarto grau.

Fora elas, possivelmente não há benefícios para a mãe e o bebê.

A episiotomia é obrigatória rotineiramente?

Não! Por isso, é recomendado que haja a elaboração de um plano de parto durante o pré-natal. Assim, o médico falará o que é a episiotomia, os seus passos e quando ela é indicada.

No plano você deixará indicada as situações em que autoriza a realização da episiotomia e os cuidados que deseja. Esse documento deve ser respeitado pelo médico, é um direito garantido em lei.

Quais os riscos da episiotomia?

A campanha pela redução das episiotomias não ocorreu devido a razões ideológicas. O motivo real é o grande número de sequelas vistas nas últimas décadas, como:

  • Hematomas, dores e infecções;
  • Laceração grave da vagina;
  • Incontinência urinária e fecal;
  • Dores crônicas nas relações sexuais.

Se você tiver passado por uma episiotomia, fique atenta a sinais de complicações, como febre, liberação de secreção pela ferida, dor e/ou vermelhidão locais intensas.

Portanto, dentro do paradigma de humanização da obstetrícia não há uma proibição para a realização de episiotomias. Pelo contrário, se forem corretamente indicadas e houver respeito à decisão da gestante, podem evitar complicações.

Em todo caso, as escolhas do parto devem permitir que esse seja um momento marcado pelo prazer e pela felicidade.

Quer saber mais sobre a episiotomia e suas indicações no parto normal? Não deixe de ler nosso post completo!

Subscribe
Notify of
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments