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Fórceps: o que é e quando pode ser utilizado?

Por Dra. Cristiane Pacheco

O parto normal assistido pelo fórceps é temido por muitas mulheres. Devido ao uso indevido desse instrumento há algumas décadas, criou-se um mito de que sempre traz mais malefícios do que benefícios.

No entanto, esse conceito está incorreto: quando o fórceps é utilizado adequadamente, dentro das indicações e com a técnica bem executada, ele pode salvar a vida dos bebês.

Afinal, nem sempre os partos vaginais evoluem como esperado e, diante de complicações, os médicos precisam dar uma assistência um pouco mais invasiva. Ao contrário do que muitos pensam esse instrumento não serve para puxar o bebê à força. Na verdade, ele tem o objetivo de guiar a cabeça dele pelo trajeto do canal vaginal.

Com isso, pode-se evitar a necessidade de uma cesariana de emergência, que apesar de necessária em diversos contextos, traz mais riscos do que o fórceps. Quer entender melhor? Acompanhe!

O que é o fórceps?

É um instrumento cirúrgico no formato de uma pinça, que muitas mulheres associam com os pegadores de salada. Em sua extremidade há dois fixadores parecidos com uma concha com um furo bem grande ao centro. Tudo isso foi pensado para reduzir o risco de lesão em você e no bebê:

  • Os furos servem para uma melhor aderência à cabeça do bebê e para evitar lesões na pele dele, especialmente na região das orelhas;
  • O formato em concha é adaptado para a anatomia do canal vaginal e, assim, causar o mínimo de lacerações e escoriações possível.

Quando ele pode ser utilizado?

Para entender por que o fórceps ganhou má fama, precisamos resgatar uma página da história da obstetrícia. Até boa parte do século XX, os médicos ainda não tinham inventado uma técnica de parto cirúrgico segura, — a cesariana se popularizou apenas na década de 1970. Até então, o fórceps era o principal método para assistência a partos difíceis.

No entanto, passou a ser excessivamente utilizado em diversas situações em que não oferecia benefício, especialmente para acelerar o parto. Além disso, muitos casos de inserção e de execução inadequadas ganharam a mídia, contribuindo para uma má-fama.

Contudo, o fórceps é uma ferramenta valiosa para a obstetrícia. Quando indicado corretamente pode reduzir o sofrimento do feto e/ou evitar a realização de uma cesariana de emergência. De forma geral, ele é utilizado diante de dois grupos de eventos:

Sofrimento fetal agudo: os batimentos cardíacos do bebê começam a cair rapidamente. Consequentemente, a oferta de oxigênio e nutrientes para os órgãos, principalmente, o cérebro, cai. Com isso, pode haver lesões cerebrais graves, que prejudicam o desenvolvimento infantil no futuro. Também, pode ocorrer a situação oposta com a aceleração excessiva, o que pode levar à parada cardíaca;

Fatores maternos: a mãe apresenta alguma contraindicação a um trabalho de parto mais intenso ou ela está com sinais de exaustão, o que impossibilita a progressão da força de expulsão.

Agora, vamos explicar algumas situações mais específicas.

Fatores maternos

  • Dificuldade de empuxo: empuxo é a força que você faz para a expulsão, que empurra o bebê para fora do útero pelo canal de parto até a saída na vagina;
  • Trabalho de parto prolongado: é normal que o parto dure várias horas. No entanto, há um limite de segurança de 20 horas, no qual será preciso a assistência médica interventiva. Primeiro pode-se tentar o fórceps acompanhado ou não de uma episiotomia. Caso não seja possível é realizada a cesariana;
  • Problemas de saúde maternos: algumas condições médicas, geralmente de origem cardiovascular (hipertensão e insuficiência cardíaca), contraindicam o excesso de força da mulher no parto. Além disso, outras doenças, como a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), reduzem o condicionamento cardiorrespiratório e a capacidade de manter um trabalho por tempo prolongado.

Fatores fetais

  • Alteração dos batimentos cardíacos: a equipe médica monitora constantemente os batimentos cardíacos fetais durante o parto. Esse é o principal indicador de que o corpo do bebê está percebendo algo errado. Então, mesmo que haja boas condições para a progressão do parto, pode ser necessário acelerá-lo;
  • Dificuldades de desprendimento do canal vaginal: ocorrem quando o corpo do bebê já passou parcialmente por alguma porção do canal vaginal, mas não consegue se desprender para concluir o trabalho de parto.

Quando o fórceps está contraindicado?

  • São identificadas condições no feto que afetam a sua força óssea;
  • Predisposição do bebê a sangramentos (como na hemofilia);
  • O bebê não ultrapassou o ponto médio, que marca a metade do canal vaginal;
  • Não foi identificada a posição da cabeça do bebê (a pegada da pinça precisa ser na cabeça);
  • Os ombros e os braços do bebê em posição mais à frente do canal em comparação com a cabeça;
  • Há incompatibilidade do diâmetro da pelve da mãe com a cabeça do bebê. Isso acontece quando o bebê está com mais de 4 quilos (macrossomia) ou a mãe apresenta uma pelve estreita para pesos menores.

Quais são os riscos para a mãe e para o bebê?

As complicações do uso do fórceps são muito parecidas com os do parto normal, mas os riscos podem ser maiores e as lesões mais intensas:

  • Dor perineal pós-parto;
  • Lacerações no trato genital inferior;
  • Dificuldade de micção;
  • Lesões na bexiga e na uretra, as quais podem complicar para a incontinência urinária;
  • Incontinência fecal;
  • Enfraquecimento dos músculos e ligamentos pélvicos.

No entanto, a maioria das gestantes se preocupa mesmo com as “famosas” lesões nos bebês. Felizmente elas são bem mais raras e ligadas ao mau uso do fórceps, com a aplicação de força excessiva sobre a pinça.

Por tudo que vimos, o fórceps é um instrumento muito importante e necessário em certos eventos. Portanto, o importante é que o parto deve ser sempre humanizado com muito respeito da equipe pelos desejos e pela integridade física da gestante. Com isso, as chances de traumas psíquicos ou corporais são reduzidas.

Quer entender melhor sobre o uso do fórceps? Não deixe de conferir este nosso post sobre o tema!

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