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Incompetência istmocervical: conduta

Por Dra. Cristiane Pacheco

O pré-natal é uma das medidas mais importantes de cuidado que a gestante pode ter consigo mesma e com seu bebê. Afinal, nessa rotina de consultas obstétricas, é feito o acompanhamento da gravidez com a avaliação, prevenção e tratamento de fatores que podem colocar a mãe e o bebê em risco.

Além de acolher e de orientar a mulher, a rotina de pré-natal inclui um exame físico completo e exames periódicos, como a ultrassonografia. Um dos fatores são as características do colo do útero. Assim, é possível identificar a incompetência istmocervical.

O colo uterino é uma estrutura formada pela porção mais inferior do útero, estando localizada ao final da vagina. Ele apresenta um canal, que conecta a cavidade uterina com o canal vaginal. No final da gestação, o colo uterino se dilata até aproximadamente 10 centímetros para criar o canal de parto por onde passa o bebê.

Quando a dilatação do colo do útero ocorre precocemente de forma não dolorosa, mas persistente, durante o segundo trimestre de gestação, chamamos essa condição de incompetência istmocervical. Quer saber mais sobre ela e quais as condutas quando ela ocorre? Acompanhe até o final!

O que é incompetência istmocervical?

Como vimos, o colo uterino é uma estrutura muito importante durante a gestação. Antes do início do trabalho de parto, sua principal função é segurar o bebê dentro do útero, evitando um aborto ou um parto prematuro.

A parede do colo do útero apresenta células musculares lisas, assim como na parede do útero. Isso faz com que ele tenha a capacidade de se contrair e de se relaxar. Fatores hormonais, bioquímicos e físicos controlam o nível de contração do colo uterino (tônus). Durante a maior parte da gestação, essas células estão fortemente contraídas.

Um dos primeiros eventos do início do trabalho de parto é o relaxamento dessa contração, fazendo com o colo uterino se dilate progressivamente. Isso deve ocorrer idealmente após a 37ª semana de gestação e antes da 41ª semana de gestação.

A incompetência istmocervical pode ser definida como a dilatação precoce do colo uterino com as seguintes características:

  • Ocorre no segundo trimestre de gestação;
  • É uma dilatação não dolorosa;
  • Não está acompanhada de contrações uterinas anormais ou indicativas de trabalho de parto.

Ela geralmente é recorrente. Ou seja, se a mulher apresentou incompetência istmocervical em uma gravidez, é provável que a condição ocorra também em futuras gestações.

Apesar de as causas exatas não serem completamente esclarecidas, a condição decorre de uma fraqueza estrutural do colo do útero, cujos principais fatores de risco são:

  • Traumas cervicais em procedimentos ginecológicos prévios, como curetagem, histeroscopia, tratamento de neoplasias intraepiteliais cervicais ou cirurgia uterina;
  • Traumas cervicais durante o parto normal ou devido a intervenções obstétricas, como uso de fórceps.

Além disso, raramente é causada por anomalias congênitas.

Condutas e tratamento na incompetência istmocervical

As principais condutas na incompetência istmocervical são:

  • Cerclagem cervical — é um procedimento cirúrgico realizado durante a gravidez com o objetivo de prevenir o parto prematuro. Consiste em uma sutura circular do colo do útero para fortalecer e impedir que ele se abra antes do tempo;
  • Suplementação de progesterona — progesterona é um hormônio importante na manutenção da gravidez, ajudando a relaxar o útero e prevenir contrações prematuras.

Veja a seguir as situações em que elas podem ser indicadas:

Pacientes com histórico de incompetência istmocervical prévia

Nos casos de pacientes com história de incompetência istmocervical em gestações passadas, adota-se uma conduta preventiva. Ou seja, a intervenção é realizada mesmo sem uma dilatação atual.

A principal medida é a cerclagem entre a 12ª e a 14ª semana de gestação, pois isso pode reduzir significativamente o risco de perda gestacional e de parto prematuro. Alguns obstetras também podem indicar o uso de progesterona semanalmente entre a 16ª a 36ª semana de gestação.

Essas condutas também são indicadas para pacientes com perdas gestacionais frequentes durante o segundo trimestre de gestação, mesmo que não tenha sido feito o diagnóstico de incompetência istmocervical. Afinal, essa condição é a principal causa de aborto recorrente durante o segundo trimestre.

Pacientes diagnosticadas com incompetência istmocervical pela ultrassonografia

O principal critério para diagnosticar a incompetência istmocervical pela ultrassonografia é uma medida do colo menor ou igual a 25 milímetros antes de 24 semanas de gestação. Caso a paciente tenha uma história de nascimento prematuro associada à alteração ultrassonográfica, indica-se a cerclagem. A suplementação de progesterona associada à cerclagem pode ser feita a critério médico.

Pacientes diagnosticadas com incompetência istmocervical pelo exame físico

Nesse caso, a incompetência istmocervical é diagnosticada quando há evidência de dilatação do colo uterino durante o exame especular ou o toque vaginal. A conduta nessa situação é realizar exames para excluir a possibilidade de uma infecção intra-amniótica. Se a possibilidade dessa doença for excluída, indica-se a cerclagem.

Portanto, a incompetência istmocervical é uma condição em que o colo do útero encurta e se dilata prematuramente, aumentando o risco de parto prematuro e perda gestacional. As condutas adotadas não têm o objetivo de reverter a incompetência istmocervical, mas de evitar que essas complicações ocorram.

Quer saber mais sobre o pré-natal e os exames preventivos realizados em cada trimestre de gestação? Toque aqui!

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