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Ocitocina: o que é?

Por Dra. Cristiane Pacheco

A ocitocina é um hormônio naturalmente produzido pelo corpo da mulher durante o trabalho de parto normal. As formas sintéticas (medicamentosas) da ocitocina são ainda utilizadas para auxiliar na indução do parto em casos em que ele precisa ser “acelerado” devido à evolução insuficiente, ao sofrimento fetal ou materno.

Muitas mulheres têm receio do uso da ocitocina durante o parto devido a relatos de experiências negativas que elas tiveram no passado, a relatos de pessoas próximas ou lidos na internet. No entanto, é preciso compreender que a ocitocina não é usada como rotina, ela é indicada em situações em que a indução do parto é necessária por trazer mais benefícios do que riscos para a mãe e o bebê.

Além disso, as experiências ruins com a ocitocina não são comuns, são a exceção, pois se trata de uma medicação muito segura quando utilizada corretamente. Em primeiro lugar, é possível que, como esse hormônio é prescrito em partos mais difíceis, a mulher acabe associando que a medicação causou a dificuldade. Contudo, o parto já estava evoluindo com complicações, e a ocitocina foi utilizada para facilitá-lo e evitar uma cesariana.

Por sua vez, as complicações usualmente ocorrem por causa do uso inadequado durante o trabalho de parto (uso de doses excessivas ou por tempo prolongado). Para você ficar mais segura, fizemos um post para explicar tudo sobre a ocitocina. Ficou interessada? Acompanhe!

O que é ocitocina?

A ocitocina é um hormônio e um neurotransmissor produzido pelo hipotálamo, uma região do sistema nervoso central humano localizada dentro do crânio. Ela é armazenada pela neuro-hipófise, uma glândula, conectada intimamente com o hipotálamo.

A sua meia-duração (que indica quanto tempo ela pode durar no sangue) é de apenas 3 a 4 minutos. Contudo, nesse período, seus efeitos são intensos e importantes. Como hormônio, ela estimula fortemente a contração dos músculos lisos do corpo, como aqueles localizados ao redor das glândulas mamárias e na parede do útero.

Como neurotransmissor, é fundamental para estimular a criação de vínculos afetivos e o desejo sexual. No parto e no pós-parto, tem papel importante no segundo estágio do trabalho de parto, no puerpério imediato e no aleitamento.

Mas como ela atua no corpo normalmente, no dia a dia?

Tanto homens quanto mulheres produzem ocitocina no dia a dia, tendo as seguintes funções:

Formação de vínculos sociais e afetivos

A ocitocina é um dos hormônios mais curiosos do corpo humano. Afinal, sua principal ação é estimular a vontade de conexão com outras pessoas, de criação de vínculos afetivos e de trocar emoções. Por exemplo, quando uma pessoa abraça a outra genuinamente, há uma descarga de ocitocina.

Desejo sexual e orgasmo

Junto com a dopamina, a noradrenalina e a melanocortina, a ocitocina é um dos neurotransmissores responsáveis pelo comportamento sexual e reprodutivo. Ela estimula o desejo de contato físico, de vínculo social e de expressar afeto. Quando age em conjunto com a dopamina, também é responsável pela sensação de orgasmo;

Ocitocina na gestação

Os níveis de ocitocina durante a gestação são geralmente mais baixos. Afinal, como esse hormônio estimula as contrações uterinas, uma maior quantidade de ocitocina no sangue poderia causar abortamentos e partos prematuras. Inclusive, quando a paciente entra em trabalho de parto precocemente, podem ser utilizados medicamentos que bloqueiam a ação da ocitocina para evitar a prematuridade.

Ocitocina no trabalho de parto

O número de receptores de ocitocina no útero aumenta conforme o final da gestação se aproxima. Isso é uma forma do corpo se preparar para o nascimento do bebê e mostra que a ocitocina é um dos hormônios mais importantes para o trabalho de parto.

Ela é considerada o mais potente estimulador das contrações uterinas (efeito uterotônico). Quando aplicada nas mulheres gera contrações com frequência e amplitude muito semelhantes àquelas presentes no trabalho de parto.

Por esses motivos, a ocitocina sintética é um dos medicamentos mais utilizados na indução do parto, pois estimula um processo muito próximo do natural. Algumas indicações do parto induzido pela ocitocina são:

  • Alguns casos de distócia;
  • Gravidez pós-termo;
  • Ruptura prematura de membranas;
  • Doenças hipertensivas da gestação;
  • Morte fetal;
  • Restrição do crescimento fetal;
  • Diabetes materno;
  • Infecção na placenta e nas membranas (corioamnionite);
  • Descolamento da placenta;
  • Líquido amniótico insuficiente (oligodrâmnio);
  • Colestase gestacional;
  • Anemia fetal devido à aloimunização (produção de anticorpos maternos contra as células sanguíneas do bebê);
  • Gravidez gemelar.

As complicações do uso da ocitocina são relativamente incomuns e se devem principalmente ao uso de doses muito elevadas, as quais não são recomendadas.

Ocitocina no puerpério

A ocitocina também auxilia o útero a se contrair vigorosamente na fase pós-parto para expulsar a placenta e as membranas fetais. Depois disso, ajuda o útero a retornar a como era antes da gestação, estimulando a involução uterina. Por esses motivos, a ocitocina sintética é considerada o medicamento de primeira escolha para prevenir a hemorragia pós-parto por atonia uterina (ausência de contração uterina).

Ocitocina na amamentação

A ocitocina é o hormônio responsável por produzir o “reflexo de descida do leite”, pois estimula a contração das glândulas mamárias para a ejeção do leite.

Enquanto a mulher está amamentando, os níveis de ocitocina ficam mais elevados. Esse é um dos motivos que faz a amamentação ser tão benéfica para a mãe, pois esse hormônio:

  • facilita a recuperação do parto, pois estimula a involução do útero, reduzindo diversas complicações puerperais;
  • potencializa o desenvolvimento de um vínculo mais forte da mãe com o bebê;
  • pode reduzir o estresse materno no pós parto, visto que o hormônio pode se relacionar com uma redução da liberação de corticoide (hormônio do estresse), além de estimular comportamentos sociais positivos da mãe.

Portanto, a ocitocina é um dos mais importantes hormônios da fase final das gestações, contribuindo para o trabalho de parto, o puerpério e a amamentação. A estimulação do trabalho de parto com a ocitocina não deve ser temida, pois, quando feita corretamente, apresenta baixo risco para a mãe e o bebê. Dentro dos princípios do parto humanizado, a medicação será utilizada sempre de forma individualizada desde que os benefícios superem o risco da indução do parto.

Quer saber mais sobre a assistência humanizada ao parto normal? Confira este artigo!

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