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Parto normal: quando mudar para parto cesariana?

Por Dra. Cristiane Pacheco

A conversão para uma cesariana durante o trabalho de parto normal é uma medida rara e adotada apenas em casos de exceção. Em geral, os estudos mostram que, para a mãe e o bebê, pode ser melhor realizar algumas intervenções no parto vaginal antes de indicar um parto cirúrgico.

Contudo, em algumas situações, a cesariana é inevitável e representa a melhor ação para reduzir o risco de complicações maternofetais. A seguir, vamos explicar detalhadamente como é o trabalho de parto normal e o que pode impossibilitar sua conclusão. Acompanhe!

Quando mudar o parto normal para uma cesariana?

Quando a cesariana é indicada durante o trabalho de parto normal, ela é chamada de cesárea intraparto. Sua principal causa é a distocia, que se refere a dificuldades substanciais na progressão do trabalho de parto.

Apesar de poder acontecer com qualquer gestante, ela é mais comum em mulheres primíparas (as mães de primeira viagem). Outros fatores de risco para a distocia são:

  • Parto induzido;
  • Analgesia epidural;
  • Peso fetal maior do que 4 quilos;
  • Idade materna maior do que 35 anos.

Existem dois indicadores principais de que o trabalho de parto não está evoluindo, como esperado:

  • A dilatação do colo do útero não progride ou não está adequada para aquela fase do parto;
  • Em alguns casos, a dilatação está adequada, mas não há evolução na descida do feto através do canal de parto.

Esses problemas são avaliados em cada fase do parto, como veremos a seguir.

Diante da distocia, o obstetra avaliará criteriosamente os sinais vitais do bebê e da mãe, assim como a dinâmica das contrações uterinas. Caso identifique risco para a saúde de alguns deles, a cesariana será indicada. Entretanto, nem sempre um parto cirúrgico será necessário.

Principais causas de cesariana intraparto

As principais causas de distocia são:

  • Desproporção cefalopélvica, ou seja, o diâmetro do canal pélvico durante o parto é insuficiente para a passagem da cabeça do bebê;
  • Contrações uterinas inadequadas, isto é, o ritmo, a força, a progressão e a direção delas não estão funcionais para uma evolução normal do parto;
  • Apresentação fetal anormal. O ideal é que o bebê esteja com a cabeça “encaixada” na pelve (posição cefálica) antes do início da fase expulsiva do parto. Se ele estiver deitado (transverso) ou sentado (pélvico) sobre a pelve, pode haver dificuldade para o trabalho de parto. Algumas manobras podem ser feitas para corrigir a apresentação, mas, se não for possível, o parto cesariano é indicado;
  • Posição fetal. O bebê em posição cefálica pode estar em duas posições: inverso (face virada para as costas da mãe) ou para frente (face voltada para o abdômen da mãe). A primeira é considerada a ideal, enquanto a segunda pode levar à distocia.

Parto normal: o que o médico avalia para mudá-lo para uma cesariana?

Devido a diferenças individuais de cada trabalho de parto, uma definição exata do que é distocia não é possível. No entanto, em geral, alguns sinais podem levantar um sinal de alerta para o obstetra. Veja

Fase latente

A distocia pode acontecer como uma fase latente prolongada: com duração maior do que 20 horas em mães de primeira viagem ou 14 horas em mulheres que já tiveram outros partos vaginais. Nessa situação, buscamos a indução da fase ativa com medicamentos e procedimentos menos invasivos, mas, se a paciente não responder a essas medidas, a cesariana é indicada.

Fase ativa

Na fase ativa normal, as contrações se tornam mais regulares e fortes e já podemos notar uma dilação do colo entre 4 e 10 centímetros e o apagamento cervical. Por sua vez, um dos sinais de distocia é o atraso na fase ativa também, que pode se caracterizar por:

  • Atraso na descida e na rotação da cabeça fetal;
  • Contrações anárquicas ou insuficientes;
  • Dilatação menor do que 2 centímetros após 4 horas do início da fase ativa.

Antes de indicar uma cesariana, podemos tomar algumas medidas para manter o parto normal. Por exemplo, a aplicação de oxitocina pode ser feita para induzir uma maior dilatação ou melhorar a qualidade das contrações. A cesariana pode ser indicada quando há uma evolução menor do que 2 centímetros após 4 horas da administração da oxitocina.

Além do atraso, pode ocorrer a parada da fase ativa do parto. Ela ocorre quando há dilatação maior ou igual a seis centímetros com ruptura da bolsa associada a um dos seguintes critérios:

  • 4 horas ou mais de contrações adequadas;
  • 6 horas ou mais de contrações inadequadas sem mudanças na dilatação do colo do útero.

A parada na fase ativa pode levar à indicação de uma cesariana, principalmente se houver sinais de sofrimento fetal ou esgotamento materno.

Fase expulsiva

Inicia-se quando a dilatação cervical se completa e tem cerca de 10 centímetros. Existe uma grande variação na duração máxima dessa fase. Por isso, ao contrário do que muitas pacientes pensam, não existe um tempo certo para converter um parto normal em cesariana.

Na fase expulsiva, podemos suspeitar de atraso quando a apresentação, posição ou descida estiverem inadequadas após 1 hora (primíparas) ou meia hora (multíparas) após a dilatação cervical completa.

Em partos sem anestesia epidural, a parada da fase ativa pode ser caracterizada, como:

  • Mais de 3 horas de esforço ativo em mulheres primíparas;
  • Mais de 2 horas de esforço ativo em mulheres multíparas.

No caso de uso de anestesia epidural, acrescentamos mais uma hora em cada um desses prazos.

Portanto, apesar de termos apresentado diversos números, é muito importante que as gestantes entendam que esses números são apenas parâmetros e nem sempre significarão a necessidade de uma cesariana. O parto normal poderá continuar se os sinais vitais do bebê estiverem bons, a parturiente ainda tiver força e houver uma progressão suficiente (apesar de lenta) do trabalho.

Em última instância, a decisão dependerá da avaliação do obstetra naquele momento e dos desejos da mulher. Afinal, o parto deve ser humanizado: isso inclui a individualização das decisões e o protagonismo da gestante.

Quer saber mais sobre o parto humanizado e sua importância para a mulher? Confira nosso artigo sobre o tema!

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Ione Magalhães

Explicação perfeita! Obrigada, Dra. Cris.

Dra. Cristiane Pacheco.

Agradeço o carinho, Ione! Beijos.