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Líquido amniótico baixo durante a gestação: riscos e o que fazer

Por Dra. Cristiane Pacheco

Diversos parâmetros da gestação são avaliados durante o pré-natal. Durante o acompanhamento obstétrico da gestação, realizamos avaliações médicas periódicas e exames para identificar fatores de risco para complicações gestacionais. 

Para isso, por exemplo, solicitamos testes para diagnóstico de infecções sexualmente transmissíveis, de infecção urinária, de infecções relacionadas a malformações fetais, de anemia, de diabetes mellitus, de sofrimento fetal e de problemas nos anexos embrionários.

Entre essas avaliações, está a avaliação da quantidade de líquido amniótico na bolsa gestacional, que é feita pela ultrassonografia obstétrica. Isso é fundamental, pois líquido amniótico excessivo (polidrâmnio) e líquido amniótico baixo (oligodrâmnio) podem causar complicações, como ruptura uterina e sofrimento fetal, respectivamente.

Além disso, alterações no líquido amniótico podem ser um sinal indireto de outras complicações gestacionais. Por exemplo, o polidrâmnio pode ser consequência de diabetes gestacional, enquanto o oligodrâmnio pode ser um sinal de uma síndrome cromossômica fetal, como a Síndrome de Down. Neste post, vamos falar sobre níveis baixos de líquido amniótico (oligodrâmnio). Ficou interessada? Acompanhe até o final!

O que é líquido amniótico, como ele se forma e função?

Durante a gestação, o feto permanece envolto por uma substância, o líquido amniótico. No primeiro trimestre de gestação, ele é formado principalmente por água, íons e moléculas, oriundas do âmnio, dos vasos placentários superficiais e pela pele do feto. A partir do segundo semestre, a urina do feto também será uma fonte importante de líquido amniótico, ao passo que ele perde menos líquidos por meio da pele. 

O líquido amniótico apresenta as seguintes funções:

  • Ajuda a manter uma temperatura adequada dentro do útero;
  • Protege contra traumas físicos;
  • Permite que o feto cresça e se movimente livremente, sem que tônus uterino cause deformações anatômicas e prejudique o desenvolvimento musculoesquelético;
  • Previne a compressão do cordão umbilical;
  • Contribui para o desenvolvimento e maturação dos pulmões e do sistema gastrointestinal.

Como acompanhar no pré-natal?

A principal forma de acompanhar o líquido amniótico é pela ultrassonografia obstétrica, que permite uma estimativa de seu volume e de sua consistência. Essa avaliação ultrassonográfica é feita rotineiramente em cada trimestre de gestação, independentemente de sinais e sintomas.

Em alguns casos, a alteração pode ser sintomática, com a paciente relatando menor movimentação do feto e perda de líquido amniótico pela vagina. Além disso, há sinais clínicos de oligodrâmnio, que podem ser percebidos por seu obstetra no exame físico feito em cada consulta de pré-natal, como:

  • Volume uterino pequeno para a idade gestacional, que pode ser causada também por outros fatores, como a restrição do crescimento fetal;
  • Palpação de partes do corpo do feto durante a avaliação do útero. 

O que é líquido amniótico baixo?

Líquido amniótico baixo se refere a uma quantidade insuficiente de líquido amniótico que causa riscos para a saúde maternofetal. É avaliado pela ultrassonografia a partir de parâmetros medidos para cada semana de idade gestacional. 

Para entender os riscos de um líquido amniótico baixo, é importante compreender que a regulação da quantidade de líquido amniótico é feita por diversos mecanismos, como:

  • Deglutição e excreção fetal: à medida que a gestação evolui, o feto deglute (“toma”) um volume cada vez maior de líquido amniótico. Ao final do terceiro trimestre, estima-se que ele reabsorva 750 mL de líquido amniótico todos os dias. Esse líquido é absorvido no sistema gastrointestinal. Depois disso, passa para a corrente sanguínea e é “filtrado” nos rins, onde se torna urina. Essa urina é liberada no próprio líquido amniótico em um volume de até 1 litro no terceiro trimestre;
  • Secreção pulmonar: após sua formação, os pulmões dos fetos produzem um líquido, cuja produção pode ultrapassar 350 mL nas últimas semanas de gestação. Parte desse líquido, é deglutida e liberada pela urina;
  • Absorção placentária: a concentração de substâncias dissolvidas no líquido amniótico é menor do que a concentração de substâncias dissolvidas no sangue da mãe e do feto. Isso faz com que os vasos da superfície placentária absorvam uma quantidade significativa de água do líquido amniótico com a evolução da gestação. 

Líquido amniótico baixo pode ocorrer devido a falhas em qualquer um dos mecanismos acima. 

Riscos de líquido amniótico baixo e o que pode ser feito?

Os riscos de líquido amniótico baixo dependem da idade gestacional:

  • Primeiro trimestre: maior risco de abortamento. É feito um acompanhamento mais próximo da gestante com consultas e ultrassonografias seriadas. Além disso, educamos sobre os sinais de abortamento para que ela busque um serviço de urgência obstétrica nessa situação;
  • Segundo trimestre: níveis ligeiramente mais baixos geralmente não causam complicações, sendo acompanhados com ultrassonografias periódicas até a estabilização do quadro. Casos de oligodrâmnio acentuado aumentam o risco de morte fetal ou óbito neonatal. Em situações de líquido amniótico persistentemente ou gravemente baixo, é fundamental identificar as possíveis causas do problema. A conduta dependerá da causa;
  • Terceiro trimestre: níveis baixos de líquido amniótico aumentam o risco de parto prematuro, de compressão do cordão umbilical, de insuficiência uteroplacentária, de malformações fetais e de aspiração de mecônio. Além disso, causa complicações no parto e no pós-parto, como necessidade de cesariana ou de indução do parto, baixo peso ao nascer, sofrimento neonatal medido pelo Apgar e necessidade de internação do bebê em UTI neonatal.

Além de aumentar o risco de complicações, um líquido amniótico baixo pode ser sinal de problemas de saúde da mãe e do feto: 

  • Disfunções placentárias causadas por doenças hipertensivas, por doenças renais, por trombofilia, descolamento ou trombose da placenta;
  • Anomalias congênitas, como malformações de órgãos e anomalias cromossômicas, que comprometem os sistemas pulmonar, gastrointestinal ou excretor. Em particular, malformações nos rins e nas vias urinárias estão entre as causas mais comuns de oligodrâmnio;
  • Desidratação materna;
  • Restrição do crescimento fetal;
  • Infecções ou ruptura nas membranas fetais.

Além do acompanhamento frequente do bem-estar fetal, da identificação e da correção das causas (quando possíveis), o tratamento do líquido amniótico pode envolver a hidratação materna e a antecipação do parto, se necessários. Portanto, é fundamental realizar o pré-natal de forma adequada para receber um diagnóstico precoce e um tratamento individualizado para minimizar os riscos.

Quer saber mais sobre os exames realizados em cada trimestre do pré-natal? Toque aqui!

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