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Depressão pós-parto: diagnóstico e tratamento

Por Dra. Cristiane Pacheco

A depressão pós-parto (DPP) é uma forma de depressão que afeta mulheres no período de um ano após o parto. É considerada uma condição preocupante de saúde mental que apresenta sintomas como baixa energia, dificuldades para dormir, perda de interesse em atividades, alterações no apetite e grande tristeza.

Algumas mulheres experimentam formas mais brandas de depressão. Outras, porém, apresentam sintomas depressivos mais intensos, que interferem em suas vidas diárias, fazendo com que tenham dificuldades com tarefas, como cuidar do recém-nascido e amamentar, e até criar vínculos com o bebê.

É importante que qualquer nova mãe reconheça os sinais e sintomas da depressão pós-parto e procure ajuda imediatamente, pois pode causar danos à mãe e ao bebê. Por isso, acompanhe nosso post até o final!

O diagnóstico da depressão pós-parto

O diagnóstico da depressão pós-parto é clínico. Em outras palavras, seu médico não precisará de nenhum exame complementar (de sangue, urina ou imagem, por exemplo) para confirmar que você tem a condição.

Os critérios mais utilizados são baseados no Manual de Diagnóstico de Transtornos Mentais, o DSM-5. Eles são muito confiáveis, pois são baseados em estudos feitos com milhares de gestantes.

De acordo com o DSM-5, a paciente deve apresentar 5 dos seguintes sintomas:

  • humor deprimido;
  • anedonia (interesse ou prazer acentuadamente diminuído em atividades);
  • perda de peso sem dieta/razão clínica ou ganho de peso ou distúrbio do apetite;
  • insônia ou excesso de sono;
  • agitação ou lentidão psicomotoras;
  • fadiga e diminuição da energia;
  • diminuição da capacidade de se concentrar ou tomar decisões;
  • sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada;
  • pensamentos recorrentes de morte ou ideação suicida (sem planos). Se ela tiver um plano mais concreto de suicídio, provavelmente ela apresenta um transtorno depressivo maior ou outra desordem.

Além disso, um dos sintomas deve ser obrigatoriamente o humor deprimido ou a anedonia.

Impacto na vida da gestante

Ao contrário do que acontece no baby blues, essas manifestações levam a um sofrimento significativo ou diminuem funcionalidade da mulher em áreas, como:

  • Autocuidado — a paciente passa a negligenciar cuidados básicos de higiene, alimentação e saúde, por exemplo;
  • Cuidados com o bebê — ela tem dificuldades significativas para os cuidados básicos com o bebê (amamentação, higiene e consultas médicas);
  • Sociais — ela pode se isolar do contato com outras pessoais, inclusive de sua parceria;
  • Ocupacionais — no retorno ao trabalho, ela pode apresentar dificuldade para manter uma performance adequada.

Início dos sintomas

Para que a depressão pós-parto seja diagnosticada, ainda é necessário identificar quando os sintomas começaram. Eles devem ter se iniciado ainda durante a gravidez até as primeiras semanas após o parto. Em alguns casos, porém, os sintomas podem se expressar mais tardiamente, mas ainda dentro do primeiro ano após o parto.

Diagnóstico de exclusão

Além disso, antes de diagnosticar a depressão pós-parto, precisamos excluir a possibilidade de outras causas para os sintomas, como:

  • Efeitos colaterais de medicações ou outra doença física (como o hipotireoidismo);
  • Transtornos psicóticos. Se a paciente tiver história de alucinações, sensação de perseguição, afeto embotado e outros sintomas, talvez se trate do agravamento do quadro psicótico em vez da depressão pós-parto. Contudo, as duas condições podem coexistir, então o médico deverá ser bastante criterioso na investigação;
  • Transtorno bipolar. Se a paciente tiver história prévia de um episódio maníaco ou hipomaníaco (caraterizados por euforia, expansividade social, impulsividade e comportamentos de risco, por exemplo), pode se tratar de um transtorno bipolar. Com isso, consideramos que o parto desencadeou um episódio depressivo e não é uma depressão pós-parto.

Tratamento da depressão pós-parto

No Brasil, não há nenhum tratamento específico para a depressão pós-parto. Como veremos, usualmente, os antidepressivos tradicionais são usados para aliviar as mudanças do humor. Eles regulam os níveis de neurotransmissores que se alteram durante a depressão, como a serotonina.

Nos Estados Unidos, contudo, foi aprovado recentemente um medicamento voltado para a depressão pós-parto, a brexanolona. Ela funciona de forma muito distinta em relação aos antidepressivos habituais, pois atua no eixo hormonal do sistema nervoso central. Após o parto, a produção do hormônio alopregnanolona, cujos níveis no corpo podem cair expressivamente após o parto. A brexanolona é uma versão sintética desse hormônio.

O tratamento com antidepressivos

A medicação antidepressiva é geralmente indicada sempre que a paciente é diagnosticada com depressão pós-parto. Preferencialmente, deve ser indicada por um ginecologista ou psiquiatra experiente no tratamento de gestantes. Afinal, é preciso escolher uma opção com mínimo impacto sobre a amamentação, como a sertralina e a paroxetina.

A escolha do tratamento é sempre individualizada e deve se basear em critérios, como:

  • Tratamentos prévios da gestante com antidepressivos. Se possível, escolhemos a medicação com a qual ela teve uma boa resposta anteriormente;
  • Sintomas associados e com maior impacto na qualidade de vida. Cada antidepressivo tem um perfil (alguns induzem o sono e outros são mais efetivos contra a fadiga, por exemplo).

Em todo o caso, é fundamental continuar o tratamento por 6 meses ou mais. Isso reduz o risco de retorno dos sintomas após a interrupção da medicação.

O tratamento psicoterápico

A terapia cognitivo comportamental (um tipo de psicoterapia) é outra medida importante para melhorar o quadro. Ela auxilia a paciente a entender melhor os seus pensamentos e comportamentos, propondo medidas para modificá-los progressivamente. Em casos leves, ela pode ser indicada isoladamente, sem as medicações.

Outras medidas

  • O acompanhamento pré-natal e puerperal ajuda a prevenir e identificar precocemente a depressão pós-parto;
  • Há evidências de que os exercícios aeróbicos leves a moderados ajudem na redução dos sintomas;
  • O apoio psicossocial de familiares e parcerias também podem ajudar a paciente a se recuperar mais rápido.

Prevenção da depressão pós-parto

É muito importante que seu médico faça uma triagem para a depressão pós-parto na fase final do pré-natal e no puerpério. Se a paciente apresenta alto risco de depressão, a terapia preventiva pode ser iniciada mesmo antes do início dos sintomas. Ela envolve o uso de medicações antidepressivas e/ou psicoterapia.

Portanto, a depressão pós-parto é uma condição com um impacto muito grande sobre as mulheres. É um assunto que precisamos sempre abordar e tratar adequadamente, sem estigmas. Afinal, é uma condição muito comum, presente em até 6,5% a 20% dos partos. É causada por fatores hormonais e psicossociais, não sendo culpa da mulher.

Quer saber mais sobre a depressão pós-parto? Confira nosso artigo sobre o tema!

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