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Trabalhando os cinco sentidos no parto

Trabalhando os 5 sentidos no parto, trazemos mais humanização ao momento. Por quê? Uma das funções mais importantes do cérebro é a integração sensorial. A partir de todos os estímulos que ele recebe de todas as regiões do corpo, ele as organiza e elabora uma resposta adaptativa.

Em outras palavras, os nossos cinco sentidos são essenciais para a interpretação que o cérebro faz do mundo e do nosso próprio organismo. Ao trabalhá-los no parto, podemos estimular nosso cérebro a amenizar a sensação de dor, a criar memórias positivas, a reduzir a ansiedade do momento, entre outros pontos.

Esse é um dos motivos, por exemplo, pelos quais as mulheres relatam ter experimentado menos do que esperavam no parto natural (sem analgesia ou anestesia).

  • Sistema de luta e fuga (adrenérgico): está relacionado com os processos do nosso corpo para afastar algo que ele considera ameaçador. Ele está envolvido com uma maior percepção da dor e com a sensação de ansiedade;
  • Sistema de descansar e digerir (colinérgico): está relacionado com os processos de relaxamento;
  • Sistema de recompensa (dopaminérgico): é ativado quando temos a satisfação com algo.

O parto naturalmente ativa o sistema de luta e fuga. Contudo, por meio dos estímulos sensoriais, podemos despertar os outros dois, os quais liberam substâncias que contrabalanceiam o adrenérgico. Por isso, o parto humanizado, independentemente do tipo de parto escolhido, também busca trabalhar os 5 sentidos. Quer saber mais sobre o tema? Acompanhe o nosso post!

O parto humanizado, o plano de parto e os 5 sentidos

Apesar de sermos um dos países líderes em violência obstétrica, temos avançado bastante na humanização do parto e na recuperação do significado original do parto. Por lei, as mulheres devem ter um parto humanizado com direitos, como:

  • Acompanhante de sua escolha em todo o processo do pré-parto, parto e puerpério; tenha liberdade de movimentação;
  • Possa receber métodos não farmacológicos para alívio da dor;
  • Tenha privacidade e a presença constante de um/uma profissional capacitado/a para acompanhar o parto;
  • Escolha sobre a posição que deseja parir;
  • Que seja ela a primeira a ver seu bebê e a pegá-lo;
  • Ainda, que tenha seu medo e sua dor percebidos como legítimos e integrantes do processo.

Todos esses pontos, de certa forma, envolvem o trabalho com algum dos 5 (ou 7) sentidos do parto.

Trabalhando os 5 sentidos no parto

Tato

O tato é a percepção do contato da nossa pele e mucosa com outros objetos, informando nosso cérebro sobre:

  • O calor e o frio;
  • A pressão;
  • O atrito.

Veja algumas medidas do parto humanizado que focam no tato:

  • O toque afetuoso de um acompanhante libera substâncias que reduzem a ansiedade e a sensação de dor no momento;
  • A temperatura adequada e o conforto físico reduzem a percepção do cérebro de que aquele momento é ameaçador;
  • Os banhos em banheira quente causam uma vasodilatação e processos fisiológicos que podem facilitar o trabalho de parto naturalmente;
  • Caso a mulher deseje, pode ser aplicada a analgesia farmacológica para reduzir a dor.

Olfato e paladar

A gestante também pode acrescentar no seu plano de parto a efusão de algumas essências na sala ou trazer seus próprios objetos. Na integração sensorial, podem trazer uma sensação de acolhimento, além de se tornarem futuros gatilhos para memórias afetivas.

Visão

O estímulo visual trazido pela presença de imagens afetivas (como fotografias e o próprio semblante do acompanhante) ajuda a recuperar o sentido do parto como o desenvolvimento de relações humanas.

A iluminação também é importante, visto que determinadas cores e intensidades de luz estão relacionadas ao estímulo do sistema de descanso, enquanto outras estimulam o de luta e fuga.

Audição

Determinados sons, como algumas músicas, têm o poder de desencadear a resposta dos sistemas de descanso e de recompensa. Por isso, eles podem ser incluídos no plano de parto.

Além disso, outro ponto importante é trabalhar o que a gestante ouve da equipe médica. Falas desrespeitosas ou aflitas podem desencadear respostas de luta e fuga.

Por sua vez, quando ela é incluída nas decisões médicas, sabe o que está acontecendo e ouve palavras empáticas, o momento se torna muito menos ansioso. Esse é um dos motivos que torna tão importante a assistência de uma equipe e de um profissional de confiança, um direito no parto humanizado.

O corpo da mãe pós-parto está pronto para reagir rapidamente a qualquer ameaça ao bebê. Nesse sentido, é muito sensível ao choro. Ao ouvi-lo pela primeira vez, vários fenômenos fisiológicos ocorrem para fortalecer o vínculo e estimular a lactação, por exemplo.

Com uma maior atenção ao bebê, o corpo da mulher pode se desconectar inclusive de parte das sensações internas, como a dor.

Propriocepção e equilíbrio

Apesar de não serem tão conhecidos, existem mais dois sentidos importantes:

  • propriocepção: percepção do nosso corpo no espaço e dos nossos movimentos. Esse sentido é uma dos mais importantes para o parto, sendo essencial para que a gestante possa adotar posições e se movimentar de uma forma que facilite a conclusão trabalho;
  • vestibular (equilíbrio): ele está relacionado com o equilíbrio e a sensação de náuseas. Também é trabalhado quando mantemos a livre movimentação da gestante.

O que o bebê sente ao nascer?

As sensações do bebê também são trabalhadas no parto humanizado. Quando sentem o cheio um do outro, a mãe e o bebê estabelecem um vínculo muito poderoso.

A amamentação precoce, com o paladar do leite materno, estimula o organismo do bebê a se adaptar para o aleitamento no peito e evita a rejeição nos primeiros dias.

No pós-parto, o contato pele a pele faz toda a diferença. A transmissão de calor entre a mãe e o bebê ajuda a reduzir o risco de hipotermia (temperaturas corporal baixa) no recém-nascido. Além disso, auxilia no estímulo da lactação materna. Por tudo isso, trabalhando os 5 sentidos no parto, humanizamos esse momento e resgatamos os seus significados originais.

Quer saber mais sobre parto humanizado? Confira nosso texto sobre o tema!

Amamentação e parto humanizado: qual a relação?

O parto humanizado é aquele praticado com uma atenção integral à mãe e o bebê, tendo em vista os seguintes princípios:

  • Protagonismo da mulher: busca-se fazer com que o parto seja um momento que gere emoções e lembranças positivas para a gestante. Além disso, ela é chamada para participar das decisões a respeito do parto e sua autonomia é respeitada;
  • Individualização biopsicossocial: o parto não é visto apenas como um processo físico corporal. Ele é um momento de duas pessoas, a mãe e o bebê, com toda a complexidade que uma pessoa apresenta. Por isso, é planejando levando em consideração todo o contexto biológico, psíquico e social da gestante com respeito à sua cultura, religião, emoções, sensações e pensamentos;
  • Medicina baseada em evidências: todos os procedimentos realizados serão feitos buscando os maiores benefícios e os menores riscos para a mãe e o bebê, de acordo com os melhores estudos científicos aplicados individualmente a cada gestação.

O parto não humanizado é aquele visto apenas como um procedimento médico objetivo, sem uma atenção global a todo o contexto da mãe e do bebê. Na humanização, o sucesso não é medido apenas pelo resultado técnico, isto é, um nascimento vivo e saudável. Enxerga-se a saúde e o vínculo daquelas duas pessoas (mãe e bebê) a longo prazo, considerando todo o contexto físico, psíquico e social.

 Quais os benefícios do parto humanizado para a amamentação?

O parto humanizado traz diversos benefícios para lactação, pois é baseado nas melhores evidências científicas e no cuidado integral da mãe e do bebê.

Menor estresse materno durante o trabalho de parto

As emoções negativas e o estresse sofridos durante o parto estão relacionados com problemas para a produção de leite materno (lactogênese), como mostraram diversos estudos desde a década de 1990 até os mais atuais.

Isso ocorre, pois o estresse libera uma sustância chamada cortisol, que é conhecida popularmente como o hormônio do estresse. Ele é capaz de interagir com as glândulas mamárias e o sistema nervoso da mulher, comprometendo também a qualidade do leite.

Dentro dos princípios do parto humanizado, busca-se oferecer o ambiente mais acolhedor possível para a gestante. Portanto, o risco de que ela sofra com alguma emoção negativa é menor.

Afinal, ela será preparada durante todo o pré-natal para o momento do parto, contará com o apoio emocional de seus acompanhantes e com uma equipe preocupada em garantir memórias positivas a respeito do momento do parto.

O estresse durante o parto também causa malefícios para o bebê, visto que o ganho de peso nas primeiras semanas fica prejudicado com a lactação inadequada.

Assistência humanizada antes e depois do parto

Nas práticas de parto humanizado, busca-se reforçar e incentivar o vínculo da mãe com o bebê a cada instante. Logo no pré-natal, você será educada sobre a amamentação, seus benefícios, como facilitá-la e evitar alguns problemas temidos pelas mulheres, como as fissuras mamárias. Com isso, reduz-se a ansiedade que esse momento pode trazer.

Imediatamente após o parto a equipe de assistência vai empregar práticas que são reconhecidamente benéficas para a lactação, como:

  • Contato pele a pele da mãe com o bebê tão logo quanto possível;
  • Incentivo para que a primeira alimentação do bebê seja no peito;
  • Maior proximidade da mãe com o bebê no período de internação;
  • Avaliação da posição de amamentação, da pegada e da sucção para que os problemas sejam corrigidos precocemente.

Redução do número de partos cesarianos

O parto humanizado não é sinônimo de parto normal, sendo que uma cesariana também pode ser realizada dentro das práticas de humanização. No entanto, como um de seus princípios é a medicina baseada nas evidências científicas, as mulheres sem fatores de risco de complicações no parto vaginal são incentivadas a evitar a realização de cesarianas eletivas sem indicação clínica.

As razões para isso são os efeitos negativos que a cesariana pode desencadear no pós-parto. Várias pesquisas já mostraram que esse procedimento tem um efeito negativo sobre a amamentação.

Isso possivelmente ocorre devido a alguns fatores, como:

  • O parto vaginal desencadeia a produção de diversos hormônios, neurotransmissores e outras substâncias que indicam para as glândulas mamárias que é necessário iniciar a produção de leite;
  • O uso de doses mais altas de anestésicos pode comprometer a sinalização da lactogênese;
  • As cesarianas estão relacionadas a períodos mais longos de lactação. O ambiente hospitalar não é muito propício para que a mãe e o bebê criem um vínculo positivo para a lactação.

Contudo, mesmo que a mãe precise ou opte pela cesariana, a humanização do parto ainda será benéfica pelos motivos anteriores.

Quais os benefícios da amamentação?

O leite materno contém um balanço de nutrientes ideal para o bebê em desenvolvimento, o que promove um crescimento mais saudável e o desenvolvimento adequado do sistema nervoso. Além disso, os anticorpos maternos passam para o leite e o protegem contra infecções.

A amamentação também é benéfica para a mãe, pois os hormônios produzidos pela lactação apresentam afeitos positivos no seu corpo.

Benefícios para o bebê

  • Fortalecimento do vínculo com a mãe;
  • Redução das cólicas;
  • Melhor desenvolvimento do sistema nervoso e das funções cognitivas, como a inteligência;
  • Redução do risco de alergias;
  • Redução do risco de desenvolvimento de doenças relacionadas ao sistema imunológico, como a doença de Crohn e linfomas;
  • Fortalecimento da arcada dentária;
  • Prevenção de infecções nos primeiros anos de vida;
  • Menor risco de baixo peso ou obesidade nos primeiros meses de vida.

Benefícios para a mãe

  • Redução do sangramento pós-parto;
  • Promoção da perda de peso pós-gestação;
  • Diminuição do risco de desenvolvimento de câncer de mama, ovário e endométrio;
  • Redução do risco de osteoporose;
  • Proteção contra doenças cardiovasculares.

Portanto, amamentação e parto humanizado tem tudo a ver um com o outro! Dentro dos princípios da humanização, a amamentação deve ser incentivada antes e depois do parto. Além disso, todas as suas práticas buscam criar emoções positivas e um vínculo forte, os quais são essenciais para o sucesso da lactação.

Quer saber mais sobre a amamentação e os benefícios para a mãe e o bebê? Confira este texto sobre o tema!

Analgesia no parto: por que e quando fazer?

A analgesia do parto geralmente se refere a intervenções médicas realizadas para reduzir a sensação de dor de uma parturiente. Ela pode ser feita, por exemplo, com analgésicos orais e venosos, bloqueios anestésicos regionais ou locais e, mais raramente, com a sedação da paciente (anestesia geral).

Em um sentido mais amplo, técnicas naturais (controle da respiração e massagens) também são uma forma de analgesia. Portanto, podem ser empregadas no parto natural, em que as intervenções médicas medicamentosas e cirúrgicas não são realizadas.

Para fins didáticos, neste post, vamos nos restringir à analgesia do parto no sentido mais estrito, como uma intervenção médica. Quer entender melhor quando ela pode ser feita e por quê? Confira nosso post até o final!

Por que fazer analgesia?

A analgesia é o termo técnico utilizado para se referir às técnicas utilizadas para reduzir ou eliminar a dor durante algum procedimento médico ou processo de adoecimento. Nos partos, ela pode ser utilizada tanto no parto normal assistido quanto na cesariana.

Saber disso é muito importante para as gestantes, visto que muitas delas optam pela cesariana devido ao receio da dor do parto normal. Com isso, elas podem se expor a um procedimento cirúrgico desnecessário a seus casos e suas respectivas complicações.

Apesar de não eliminar integralmente a dor do parto, as técnicas de analgesia moderna tornam o processo muito mais confortável para aquelas pacientes que não desejam um parto mais natural.

Caso a mulher precise realizar uma cesariana, a analgesia é fundamental, não podendo a técnica ser iniciada sem a anestesia completa da região onde será feito o corte. No entanto, as técnicas utilizadas são mais complexas, pois se trata de um procedimento cirúrgico aberto.

Quando a analgesia deve ser utilizada?

Há algumas situações em que a analgesia deve ser empregada, como nos procedimentos mais dolosos e invasivos.

Realização de procedimentos invasivos

No parto normal, podem ser necessárias algumas intervenções invasivas, como cortes na pele ou a manipulação intensa de alguma estrutura, o ideal é aplicar alguma estratégia de analgesia antes da execução.

Em alguns casos, é possível prever que o parto será mais complicado, com uma maior probabilidade de realizar alguma intervenção mais dolorosa. Com isso, pode-se programar a anestesia regional, feita com a aplicação de medicamentos nas estruturas que ficam protegidas dentro da coluna espinhal. Esse tipo de analgesia é mais efetiva do que a anestesia local.

Por sua vez, há determinadas complicações no parto que não podem ser previstas. Nessas situações, caso não seja possível aplicar a anestesia regional, podem ser utilizados anestésicos locais injetáveis ou tópicos.

Cesarianas

A anestesia é obrigatória quando a paciente passar por cesarianas, tanto eletivas (programadas) quanto de urgência. Afinal, a dor, além de causar sofrimento à paciente, pode comprometer inclusive a recuperação, pois pode desencadear um processo inflamatório mais intenso.

A anestesia regional é a técnica mais utilizada para cesariana, pois é mais segura do que a anestesia geral para diversos grupos de pacientes. A geral apresenta um maior risco de desenvolvimento de complicações, incluindo o risco de morte materna. Contudo, em situações de maior gravidade no parto, ela pode ser sim utilizada porque os riscos superam os benefícios.

Podem-se utilizar diferentes técnicas para a anestesia regional. Cada qual tem seus riscos e benefícios:

  • Anestesia epidural: ela traz um maior controle do nível sensorial da paciente, evitando um bloqueio excessivo das respostas neuronais para além do estímulo da dor. Além disso, apresenta um menor risco de queda brusca da pressão arterial, o que também traz menores riscos de complicações anestésicas;
  • Anestesia espinhal: sua execução é mais simples e seu efeito imediato. Isso, contudo, torna mais difícil o controle da indução anestésica. O bloqueio da dor também é mais efetivo e, assim, tem sido muito utilizada na obstetrícia.

Quando a analgesia do parto pode ser utilizada?

Nos partos normais em que não são realizados procedimentos mais invasivos, a anestesia é facultativa. A maioria deles, por não evoluírem para complicações, enquadram-se nessa hipótese. Portanto, o seu desejo será determinante para a aplicação ou não. Ela pode ser empregada se um maior controle da dor for desejado pela gestante, que também pode recusar a aplicação da anestesia e optar por um parto mais natural.

Dentro dos princípios do parto humanizado, essa escolha será feita pela própria mulher após conhecer os riscos e benefícios de cada opção à sua disposição. Não cabe ao médico induzir uma escolha e alienar você do seu parto.

A humanização parte do princípio da autonomia dos indivíduos sobre seus corpos e suas decisões. Muitas lembranças negativas de partos não estão relacionadas à dor ou à anestesia, mas ao fato de a mulher não ter se sentido acolhida e respeitada pela equipe de saúde.

No parto normal, as técnicas possíveis para a anestesia são: epidural, espinhal e a combinada espinhal epidural. A anestesia epidural é considerada a melhor opção para os partos normais, sendo realizada pela inserção de um cateter em volta do canal espinhal para administração contínua ou intermitente de anestésicos e/ou opioides.

Todavia, o duplo-bloqueio é o mais utilizado, visto que evita um bloqueio nervoso excessivo, o qual pode comprometer a evolução do parto. A definição da técnica geralmente é feita durante o parto, pois depende de uma decisão compartilhada entre a paciente, o obstetra e o anestesiologista.

Por fim, a analgesia do parto também pode ser feita de formas menos invasivas e, até mesmo, naturais. Em vez de realizar bloqueios anestésicos, a equipe pode oferecer medicações orais ou venosas, como os opioides. No parto natural (e nos demais também), técnicas de respiração, massagem, redução da ansiedade e de hidroterapia também são efetivas para reduzir a percepção da dor.

Quer saber mais sobre a analgesia do parto e suas técnicas? Confira nosso texto sobre o tema!