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Amamentação e nutrição materna: qual a relação?

Os principais órgãos de saúde de todo o mundo recomendam a amamentação até 2 ou 3 anos de idade. Quando possível, é muito importante que o leite seja o único alimento consumido pelo bebê nos seus 6 primeiros meses de vida (aleitamento materno exclusivo). A partir dos seis meses até 1 ano, a introdução de novos alimentos pode ser feita progressivamente, de acordo com orientação médica.

Isso traz muitos benefícios para o bebê, reforçando o seu sistema imunológico e um desenvolvimento saudável. Mas qual a relação da alimentação da mãe com a amamentação?

Existe uma relação direta entre esses dois pontos. Afinal, o leite materno é formado a partir dos nutrientes disponíveis no organismo da mulher. Portanto, se a nutrição dela não é adequada, a qualidade do leite fica comprometida. Quer entender melhor? Acompanhe!

Qual a relação da alimentação da mãe com a constituição do leite?

O leite materno é constituído principalmente das seguintes substâncias, que são obtidas a partir da dieta da mãe:

  • Água — é o principal componente do leite, dissolvendo todos os nutrientes essenciais para o bebê. Portanto, se a mulher está desidratada ou não ingere a quantidade de água adequada, haverá uma maior dificuldade para a produção de leite;
  • Proteínas — são os “tijolos” que foram o nosso organismo, auxiliando a estruturar os órgãos e tecidos, além de terem outras funções em todos os sistemas corporais, como o imunológico, e neurológico. Se não há a ingestão de quantidade suficiente de proteínas, o leite não terá a concentração necessária para o crescimento e o desenvolvimento do bebê;
  • Gorduras — existem vários tipos de gorduras, todas elas são essenciais para o crescimento saudável do bebê. Contudo um deles se destaca nas fases iniciais do desenvolvimento, o ômega 3, que está presente em peixes, óleos vegetais saudáveis e outros alimentos. Ele é fundamental para a formação do sistema nervoso;
  • Açúcares — são as moléculas utilizadas como energia pelo nosso corpo. O leite é rico em um tipo de carboidrato chamado de lactose, formado pelas glândulas mamárias a partir de outros açúcares presentes no sangue da mãe;
  • Micronutrientes (sais minerais e vitaminas) — são substâncias com diversas ações no nosso organismo. No leite, o cálcio é especialmente importante, pois será utilizado pelo organismo do bebê para formar os ossos. Como nos primeiros meses e anos de vida, o crescimento é acelerado e o corpo deles precisa de quantidades elevadas de cálcio.

Quais são as recomendações nutricionais para a mulher que está amamentando?

A produção de leite aumenta a necessidade de consumo de nutrientes pelo corpo da mulher. Para as mães com bom estado nutricional, existe a recomendação de que ela consuma 330 a 400 quilocalorias (kcal) em relação às necessidades fora do período de amamentação. Esse cálculo deve feito de forma individualizada, sob auxílio de um médico ou nutricionistas.

Afinal, as necessidades nutricionais variam de acordo com:

  • Sexo;
  • Idade;
  • Altura;
  • Peso atual;
  • Níveis de atividade física;
  • Estado nutricional prévio;
  • Eventos que ocorreram na gestação.

Portanto, uma lactante que pratica atividades físicas precisará consumir uma quantidade maior de energia do que uma sedentária. Da mesma forma, uma paciente com algum tipo de desnutrição ou que perdeu muito sangue durante o parto pode precisar suplementar a ingesta de algum nutriente.

Outras recomendações mais específicas são:

  • Se a mulher for vegetariana ou vegana, a quantidade de alguns micronutrientes (ácido fólico e ferro) pode não ser suficiente. Então, nesses casos, pode ser indicada a suplementação com polivitamínicos;
  • Mulheres com problemas nutricionais e algumas doenças podem também necessitar de suplementação, que deve sempre ser prescrita por um médico;
  • A mulher deve enriquecer a dieta com alguns alimentos que contêm maiores níveis de nutrientes essenciais para os primeiros anos de desenvolvimento do bebê, mais laticínios, ovos, proteínas animais (especialmente animais marinhos de boa origem), leguminosas, entre outros.

Restrições alimentares

As mães devem estar atentas aos alimentos com cafeína, como:

  • Café;
  • Alguns tipos de chá e refrigerantes;
  • Bebidas energéticas;
  • Chocolate.

Quando consumida em quantidade moderada, esses alimentos não provocam nenhum problema no bebê. O excesso de cafeína, porém, está relacionado com maior irritabilidade, dificuldade para dormir, confusão mental e nervosismo no bebê.

Qual a importância da amamentação para o bebê?

Na primeira semana de amamentação, o leite materno apresenta algumas características diferentes. Ele é mais amarelado, espesso e é liberado em menor quantidade. Isso se deve a uma maior concentração de gorduras e minerais que são importantes para o sistema imunológico do bebê, bem como anticorpos maternos. Além de prover todos os nutrientes necessários, o colostro dá um reforço intenso à imunidade do lactente.

Depois disso, o leite materno ganha as características habituais, como a cor branca e uma espessura mais fina. Mesmo assim, ele continua a fornecer anticorpos e outros elementos para o reforço imunológico e atende a todas as necessidades nutricionais dos bebês de até 6 a 12 meses de vida. Além disso, traz outros benefícios, como:

  • Redução do risco de doenças respiratórias, alergias, diabetes e alguns tipos de câncer;
  • Durante o contato corpo a corpo na amamentação, o organismo do bebê libera substâncias que dão uma maior sensação de segurança para ele. Na mulher, há também o estímulo neuroendócrino que fortalece o vínculo com a cria;
  • Alguns estudos apontam que a amamentação também está associada a coeficientes de inteligência (QI) mais elevados e um neurodesenvolvimento mais saudável.

Qual tempo de amamentação ideal?

Amamentação materna exclusiva por 6 meses de vida (180 dias). Entre 6 meses e 2 anos de vida ou mais, a amamentação pode ser complementada com outros alimentos. A introdução precoce de alimentos complementares está associada a prejuízos para a saúde do bebê, como:

  • Episódios de diarreia mais frequentes;
  • Maior risco de hospitalização por doenças respiratórias;
  • Risco de desnutrição elevado;
  • Menor duração do aleitamento materno como um todo.

No aleitamento materno exclusivo, é necessário que o bebê receba suplementos com ferro a partir do 4º mês. A dose do suplemento será reduzida à medida que sejam inseridos alimentos ricos nesse sal mineral em sua dieta, o que geralmente ocorre a partir de um ano de idade.

Muitas pessoas pensam que o aleitamento materno deixa de ser importante após o bebê completar 6 meses ou 12 meses de vida. Mas isso é um erro! Diversos estudos mostram que as crianças que não eram amamentadas até o final do segundo ano de vida tinham 2 vezes mais chances de morrer por uma doença infecciosa.

Em outras palavras, as crianças amentadas por mais tempo são mais protegidas contra infecções graves. Inclusive, alguns estudos vêm mostrando que os anticorpos de mulheres vacinadas contra a Covid-19 podem ser transmitidos no leite materno, podendo proteger os bebês contra essa doença.

Sempre que a mulher puder oferecer a amamentação, é importante que ela considere mantê-la pelos períodos indicados acima. As fórmulas podem ser indicadas quando a mulher tiver alguma contraindicação ou impossibilidade de amamentar. Afinal, apesar de conterem todos os nutrientes necessários para a formação do corpo do bebê, as fórmulas não apresentam outras substâncias que trazem benefícios para ele, como os anticorpos que ajudam na proteção contra infecções.

Quer saber mais sobre outros benefícios da amamentação para a mãe e o bebê? Confira nosso artigo sobre o tema!

Fisioterapia pélvica: o que é e quando pode ser feita?

Atualmente, existem muitos recursos para ajudar as mulheres a passarem pela gravidez com o maior bem-estar possível. É natural que muitas mudanças ocorram e sintomas surjam, porém é possível minimizá-los com medidas preventivas e terapêuticas, como a fisioterapia pélvica.

Ela consiste em melhorar o condicionamento das estruturas do assoalho pélvica, que se torna mais alongado e fraco devido às alterações gestacionais normais. Quer saber mais sobre o tema? Acompanhe o nosso post!

O que é fisioterapia pélvica?

A fisioterapia pélvica é um tratamento altamente individualizado para cada mulher, abordando suas características e suas queixas em um plano terapêutico personalizado.

O programa terapêutico tem o objetivo de fortalecer a musculatura pélvica e o tecido conjuntivo do local, podendo incluir:

  • Treinamento muscular — exercícios rítmicos e repetitivos com a finalidade de fortalecer as fibras musculares e os ligamentos pélvicos;
  • Biofeedback — equipamentos que mede as respostas fisiológicas do corpo e oferecem feedbacks para treinar a paciente a controlar suas funções orgânicas melhor;
  • Estimulação elétrica — são correntes elétricas de baixa intensidade para estimular o fortalecimento muscular.

Tradicionalmente, esse tratamento era indicado para mulheres com queixas de incontinência urinária ou fecal persistente, dor miofascial, entre outras.

No entanto, nos últimos anos, percebeu-se que as técnicas podem ser utilizadas durante a gestação e no pós-parto, atuando tanto no tratamento quanto na prevenção de sintomas. Múltiplos estudos mostraram a eficácia dessa abordagem, que é recomendada nos melhores protocolos clínicos.

Fisioterapia pélvica na gestação

O corpo da mulher passa por diversas alterações hormonais e anatômicas durante as gestações. Algumas delas, associadas ao peso exercido pelo útero sobre o assoalho pélvico, enfraquecem os músculos da região. Com isso, podem surgir complicações que permanecem, até mesmo, no pós-parto.

Para prevenir ou tratar as queixas, a fisioterapia pélvica está indicada e pode ser realizada com segurança durante a gravidez. Os exercícios são escolhidos de acordo com a idade gestacional geralmente iniciados durante o segundo trimestre.

Esse momento é ideal, pois há uma redução do risco de perdas gestacionais, além de uma melhora na disposição da gestante, — com menos enjoos e sonolência.

Os principais objetivos da fisioterapia pélvica são:

  • a preparação do assoalho pélvico para o parto, o que reduz o risco de complicações pélvicas, como a incontinência urinária, dor crônica e até lacerações;
  • prevenir e minimizar os problemas da gestação, como a perda miccional involuntária, a urgência urinária, a dor lombar e o aumento da pressão pélvica.

Quanto antes a fisioterapia é iniciada, melhores são as chances de um resultado satisfatório. Afinal, é possível obter um melhor condicionamento da musculatura e prepará-la para o crescimento do peso que o útero exerce na pelve à medida que o bebê se desenvolve.

Nas semanas próximas ao parto, o foco dos exercícios será o alongamento dos músculos da pelve e do quadril, um fenômeno natural e frequente no pós-parto. Para isso, utiliza-se a massagem perineal.

 Benefícios da fisioterapia na gestação

  • Facilitação do parto — tornar a pelve mais adaptável ao tamanho da cabeça do bebê a fim de facilitar o encaixe e a evolução pelo canal de parto;
  • Redução do risco de realização de uma episiotomia e de outros procedimentos invasivos de assistência ao parto — tendo em vista o benefício anterior, pode-se evitar a necessidade de uma episiotomia, corte na região do períneo para facilitar a passagem do bebê. Esse procedimento invasivo torna a recuperação pós-parto mais complexa e longa;
  • Redução das dores do parto — por melhorar a funcionalidade da musculatura pélvica, a fisioterapia pode ajudar a reduzir as dores do trabalho de parto e da passagem do bebê pelo canal vaginal;
  • Ajudar a melhorar a postura e a circulação, o que reduz o edema na região;
  • Melhorar o condicionamento respiratório e treina a respiração da gestante para o parto;
  • Treinar a mulher para o direcionamento correto da força que ela precisa realizar durante o parto.

Com isso, é possível reduzir o risco de desenvolvimento de disfunções mais expressivas no pós-parto, como:

  • Incontinência urinária;
  • Dor nas relações sexuais, a dispareunia;
  • Vaginismo, isto é, espasmos na região da vagina;
  • Incontinência fecal;
  • Constipação;
  • Diástase abdominal (afastamento dos músculos abdominais);
  • Micção noturna (noctúria);
  • Inflamação da bexiga (cistite);
  • Dor pélvica crônica.

Fisioterapia pélvica pós-parto

O puerpério é o período que abrange as primeiras semanas (ou meses, de acordo com algumas sociedades médicas) após o parto. Ele pode ser acompanhado de diversas queixas, independentemente do tipo de parto que foi realizado. A dor e o inchaço local são as mais frequentes, podendo ser adequadamente minimizadas com a fisioterapia pós-parto

Como vimos, a fisioterapia é uma forma de prevenção e tratamento de muitos sintomas relacionados com a gestação. Assim, o trabalho de redução de risco de complicações pós-parto pode começar durante a gravidez. Ele também poderá ser iniciado ou continuado no após o nascimento do bebê.

Os objetivos e benefícios serão muito semelhantes àqueles que falamos acima. Em todo o caso, o melhor momento para iniciar a fisioterapia é indicado pelo seu obstetra, o qual conhece as suas características e as de sua gestação.

A fisioterapia pós-parto está indicada especialmente para as mulheres que passaram pela episiotomia, uma incisão feita na região do períneo para ampliar o canal de parto. Esse grupo tem maiores dificuldades de recuperação pós-parto. O tratamento também está indicado para quem teve outras abordagens invasivas para o parto.

Outro grupo com maior vulnerabilidade a disfunções pélvicas são as pacientes com múltiplas gestações. Afinal, elas passaram repetidamente por um maior estresse das estruturas do assoalho pélvico e do períneo, como um todo.

As técnicas têm o objetivo de:

  • Fortalecer os músculos da pelve, do quadril e da coluna lombar que foram alongados durante a gestação. Assim, pode-se reduzir sintomas de dor e desconforto postural;
  • Fortalecer e promover o controle voluntário da musculatura do períneo para evitar alterações urinárias e fecais.

Até pouco tempo, a maioria das mulheres com esses tipos de queixa eram encaminhadas para a perineoplastia. Contudo, como todo procedimento invasivo, ela apresenta riscos mais elevados de complicações.

Então, ele deve ser feito dentro das indicações em que os estudos mostraram benefícios maiores do que os riscos. Nos demais casos, a fisioterapia pélvica apresenta ótimos resultados, além de ser um tratamento coadjuvante importante para situações mais complexas.

Quer saber mais sobre a fisioterapia pélvica no pós-parto? Confira nosso artigo completo sobre o tema!