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Causas de distocia: saiba mais sobre o assunto e os riscos

A distocia do trabalho de parto é uma complicação obstétrica que ocorre quando há alguma alteração na progressão normal do parto, podendo comprometer o bem-estar materno e fetal. 

O parto é um processo fisiológico complexo que depende da interação de diversos fatores, como contração uterina eficaz, dilatação adequada do colo do útero, apresentação fetal apropriada e conformação do canal de parto. Quando algum desses elementos se encontra comprometido, pode surgir a distocia.

Quer saber mais sobre a distocia e suas causas? Acompanhe até o final!

Tipos de distocia

A distocia pode ser classificada em diferentes tipos de acordo com o fator que impede a progressão do trabalho de parto:

  • Distocia funcional: caracterizada por alterações na contratilidade uterina, podendo levar a um parto muito lento ou excessivamente rápido;
  • Distocia do trajeto: ocorre devido a anormalidades ósseas ou de partes moles maternas que dificultam a passagem do bebê pelo canal de parto;
  • Distocia do objeto: está relacionada a fatores fetais, como tamanho excessivo ou posições anormais que dificultam o nascimento;
  • Distocia biacromial: uma complicação grave em que os ombros do bebê ficam presos após a passagem da cabeça pelo canal de parto.

Cada um desses tipos de distocia está associado a causas específicas, as quais devem ser avaliadas para determinar a melhor conduta terapêutica para promover um parto seguro para a mãe e para o bebê.

Causas da distocia

As causas da distocia podem ser analisadas com base nos três principais fatores envolvidos no trabalho de parto: contratilidade uterina, anatomia fetal e anatomia materna.

Causas de distocia funcional

A atividade uterina insuficiente ou excessiva pode dificultar a progressão do parto. As alterações na força motriz podem ser classificadas em:

  • Hipoatividade uterina, em que as contrações estão fracas ou pouco frequentes. A hipoatividade uterina pode ser primária (desde o início do parto) ou secundária (a atividade uterina inicialmente estava normal, mas se alterou durante o parto);
  • Hiperatividade uterina, caracterizada por contrações excessivas, mas ineficazes. A hiperatividade uterina pode ocorrer com obstrução devido a fatores, como aderências no colo uterino ou tumores no trajeto. Também pode acontecer sem obstrução, o que geralmente leva a trabalhos de parto rápidos, com duração igual ou inferior a três horas;
  • Hipertonia (contrações tão fortes que impedem a dilatação cervical adequada). Ela pode ser causada pelo uso inadequado de ocitocina, o que é a causa mais frequente de hipertonia. Também pode ser desencadeada por uma distensão uterina excessiva devido à gemelidade (gravidez de gêmeos) ou polidrâmnio (excesso de líquido amniótico);
  • Distocia de dilatação: é um diagnóstico feito quando a atividade uterina e o tônus uterino estão normais, não havendo evidência de outros tipos de distocia, mas o parto não evolui bem. Pode ser causada pela ansiedade materna, o que leva à liberação de substâncias relacionadas ao estresse, dificultando contrações uterinas eficazes. Se a mãe estiver tranquila, a distocia de dilatação pode estar relacionada à incoordenação uterina intrínseca.

Causas de distocia de objeto

O tamanho do bebê é um fator determinante, pois um feto muito grande pode não passar pelo canal de parto de maneira adequada. Além disso, apresentações anormais, como pélvica ou transversa, dificultam o parto vaginal.

As principais causas de distocia de objeto relacionadas à anatomia do feto são:

  • Macrossomia fetal: o bebê tem um peso excessivo, geralmente acima de 4.000 g, dificultando sua passagem pelo canal de parto. A principal causa de macrossomia fetal é a diabetes descontrolada durante a gestação. A hiperglicemia (níveis elevados de glicose no sangue) materna estimula a produção excessiva de insulina no feto, levando a um crescimento acelerado. Outros fatores de risco para macrossomia são a obesidade materna e uma gestação prolongada;
  • Desproporção cefalopélvica: ocorre quando a cabeça do bebê é maior do que a abertura pélvica da mãe, tornando o parto vaginal inviável. Isso pode acontecer, por exemplo, quando o feto apresenta hidrocefalia. Essa condição causa acúmulo excessivo de líquido cefalorraquidiano na cabeça do feto, o que pode aumentar seu tamanho, dificultando a passagem pelo canal de parto;
  • Massas fetais: massas fetais congênitas, como teratomas sacrococcígeos e outros tumores fetais, podem interferir na progressão do parto.

 A distocia de objeto também pode ser provocada por apresentações anômalas:

  • Apresentação pélvica: o bebê se encontra com os pés ou as nádegas voltados para o canal de parto. A apresentação pélvica pode ser causada por um trabalho de parto prematuro e por anomalias uterinas, por exemplo;
  • Apresentação transversa: o feto está posicionado horizontalmente no útero, isto é, com as costas ou a barriga voltadas para o colo do útero. Entre os fatores de risco para apresentação transversa, estão o polidrâmnio e a placenta prévia;
  • Apresentação defletida: o bebê está na apresentação cefálica (que é a melhor para o parto), mas apresenta a cabeça em uma posição inadequada. O ideal é que o bebê esteja com a cabeça dobrada com o queixo perto do tórax. Quando a cabeça do bebê está esticada para trás (posição defletida), pode haver uma maior dificuldade de progressão do parto;
  • Assinclitismo: ocorre quando a cabeça do bebê está inclinada lateralmente, comprometendo seu encaixe na pelve materna.

Causas de distocia de trajeto

Os fatores maternos estão relacionados a alterações na pelve óssea, como pelve estreita ou problemas estruturais no canal de parto (como tumores ou aderências no colo do útero). Algumas condições, como obesidade materna e diabetes gestacional, também estão associadas ao aumento do risco de distocia.

As causas da distocia de trajeto podem ser classificadas em ósseas e de partes moles:

  • As distocias ósseas são causadas por formas, tamanhos ou angulações da pelve que são desfavoráveis ao parto vaginal. Elas podem estar associadas à baixa estatura materna, o que aumenta as chances de um menor diâmetro pélvico, o que pode dificultar a passagem do bebê. Também podem ocorrer em mulheres com formato pélvico desfavorável, como a pelve platipeloide (achatada) ou a androide (estreita); 
  • As distocias de partes moles estão relacionadas a anomalias na vulva, na vagina, no colo uterino ou no útero. As distocias devido a tumores uterinos (como os miomas e os pólipos pedunculados) ou no trato genital inferior (como condilomas volumosos) são uma das causas mais comuns. Além disso, a distocia de parte mole pode ocorrer devido a estenoses (estreitamentos) na vagina, na vulva e no colo uterino, além de septos vaginais.

Conduta nos casos de distocia

O tratamento da distocia depende da sua causa específica e da gravidade do quadro. Algumas terapias incluem:

  • Uso de ocitocina para estimular contrações eficazes em casos de hipoatividade uterina, caso a mulher já tenha dilatação suficiente. Em casos de hiperatividade uterina, a conduta é o oposto, envolvendo a suspensão da ocitocina;
  • Analgesia regional para reduzir a ansiedade causada pela dor e permitir contrações uterinas mais coordenadas; 
  • Manobras obstétricas em casos de distocia de ombro;
  • Parto normal com o uso de episiotomia, fórceps ou vácuo, quando necessário;
  • Conversão para cesariana em casos, como distocia potencialmente irreversível, sofrimento fetal agudo, exaustão materna e perigo para a saúde materna. 

Portanto, a detecção precoce da distocia por meio do monitoramento contínuo do trabalho de parto (partograma) é fundamental para adotar uma conduta correta e oportuna, reduzindo os riscos maternos e fetais. Assim, podemos aumentar as chances de um desfecho positivo tanto para a mãe quanto para o recém-nascido, além de evitar intervenções invasivas e cesarianas desnecessárias.

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